É hora de mais um “Vale a Zoeira?”, com
eu tirando um pouco de sarro de mais um filme ruim. Dessa vez, o filme em
questão será nenhum outro que não “A Reconquista”, de 2000.

Talvez
vocês achem um pouco cruel eu já partir do princípio de que esse filme será
ruim. Afinal, no que posso me basear?
Bom,
se o fato de ele ter ganhado SETE prêmios Framboesa de Ouro (Pior Filme, Pior
Diretor, Pior Roteiro, Pior Ator, Pior Ator Coadjuvante, Pior Atriz Coadjuvante
e Pior Dupla, além de eventualmente ganhar os prêmios honorários de Pior
“Drama” dos primeiros 25 anos do prêmio e Pior Filme da Década) não bastar,
talvez o fato de ele estar em praticamente toda lista de “piores filmes de
todos os tempos” seja embasamento o suficiente.
Agora,
uma vez aceito que esse filme irá feder, vale a pena assisti-lo mesmo assim
apenas pela zoeira? Já vimos que o “Especial de Natal de Guerra nas Estrelas” é
uma viajem surreal que estranhamente vale a pena, então vamos ver como esse
filme se sai.
Em
primeiro lugar, é preciso enfatizar que “A Reconquista” é uma adaptação da
primeira parte de um romance de mil páginas (que, para constar, não li) de L.
Ron Hubbard. Se esse nome te soa familiar, é porque ele é o fundador da
cientologia. Sim, aquela religião um tanto controversa da qual John Travolta é
adepto. Eu enfatizo isso porque não apenas John Travolta atua no filme, como
ele foi o idealizador dessa adaptação. Na verdade, ele queria tanto que esse
filme fosse feito que não apenas doou US$ 5 milhões do seu próprio bolso para a
produção como também aceitou atuar por um cachê muito mais baixo que o que
estava aceitando na época.
Seria
de se imaginar que, com tanto amor pelo filme, Travolta tentaria atuar o melhor
possível nele, certo? Bom... Vamos avaliar isso mais tarde. Por enquanto, vamos
começar com o filme pelo seu começo.
“A
Reconquista” se passa no ano 3000. Os humanos vivem mais ou menos como na
pré-história, pois mil anos antes a Terra foi invadida por uma raça alienígena
chamada Psychlos, que quase exterminou a humanidade em sua busca por ouro.
Ok,
dois problemas apenas nessa introdução:
1:
Psychlos? É sério que esse é o nome dos nossos vilões? Se for pra dar um nome
de desenho animado pra eles, chame-os logo de “Zurgs” ou “Snorks”!
2:
A menos que o seu filme se passe 200 anos atrás, não faça seus vilões virem
atrás de ouro. Não é nem tão valioso quanto diamantes ou petróleo e nem tão
engraçado quanto, digamos, sabão. É só... Ouro. Sem graça.
Enfim,
se essa introdução (feita na forma de um letreiro que em nada se parece com a introdução de Star Wars) não te der uma ideia
do quão ruim esse filme é, os primeiros dez minutos do filme vão te dar.
Em
primeiro lugar, há o herói do filme, Jonnie “Goodboy” Tyler, interpretado por
Barry Pepper. Além de Jonnie não ter carisma algum (além de sem-graça, ele está
o tempo todo carrancudo e é antipático com quase todo mundo que encontra) e de
não nos importarmos com seus problemas (logo no início ouvimos que seu pai
morreu. Nunca vemos esse pai nem ouvimos mais falar nele, então quem se importa?),
Pepper atua BEM mal. O que é uma pena, considerando que ele já ganhou um Globo
de Ouro e um Emmy. Imagino que ele não estava se importando tanto com esse
filme.
Em
segundo lugar, há o excesso de câmeras lentas. O diretor do filme, Roger
Christian, claramente assistiu “Matrix” enquanto “A Reconquista” era produzido,
e achou que seria uma boa ideia imitar as câmeras lentas do filme. Não foi: Em
“Matrix”, as câmeras lentas ajudavam o público a ter uma noção da orgia de
balas e lutas coreografadas que estavam acontecendo tudo ao mesmo tempo. Aqui,
elas são usadas enquanto um cara joga algo para o alto, ou cai do cavalo, ou
pula de uma sacada. Não são coisas tão empolgantes.
Em terceiro lugar, há
as transições de cena. Toda vez que o filme muda de uma cena para outra a tela
se divide como uma cortina. De novo, em nada
parecido com Star Wars. O problema é que mesmo em Star Wars havia outros
tipos de transição de cena. Aqui, é só e apenas a divisão de tela, de novo e de
novo e de novo. Digamos que acaba cansando após a 20ª vez. Por acaso eles não
tinham dinheiro pra pagar um editor que soubesse fazer mais de uma transição?
Esse filme supostamente teve um orçamento de US$ 73 milhões!
E
em quarto lugar, temos provavelmente uma das características mais irritantes da
direção desse filme: Os ângulos. Durante praticamente o filme inteiro, a câmera
está entortada em algum ângulo. Acho que só cinco ou seis minutos em “A
Reconquista” são filmados na horizontal. Uma cena ou outra seria até aceitável,
mas após duas horas tendo que inclinar a cabeça pra ver o filme é provável que
você fique com torcicolo. Por acaso o tripé deles quebrou e eles não tinham
dinheiro pra comprar um novo, então filmaram mesmo assim? Esse filme
supostamente teve um orçamento de US$ 73 milhões!
Mas
enfim, se após dez minutos de um herói ruim, câmeras lentas, divisões de tela e
câmera torta você ainda não se cansar desse filme, você irá descobrir que
Jonnie decidiu abandonar sua tribo em busca de uma vida melhor. Ou algo assim,
quem se importa? Ele é então capturado pelos Psychlos... E não basta eles se
parecerem com klingons rastafáris: Suas fantasias têm que ser ruins. Tipo,
muito, muito ruins. A intenção do filme é que eles sejam bem maiores que os
humanos, mas dá pra ver que eles são apenas atores normais usando roupas
acolchoadas e botas com saltos gigantes.

Por
acaso não deu pra pagar por um figurino melhor? Esse filme supostamente teve um
orçamento de US$ 73 milhões! Aonde foi parar todo esse dinheiro?!
Bem...
Acreditam se a resposta for “lugar nenhum”? E não estou falando isso de
brincadeira. Eu estou falando que alguns anos após o lançamento desse filme o
estúdio que o produziu, Franchise Pictures, passou por uma investigação do FBI
que comprovou que o orçamento real do filme era na verdade de um pouco mais da
metade desse valor alegado. O estúdio teria mentido sobre o orçamento para
passar o filme por uma superprodução, o que chamaria mais a atenção dos
distribuidores. Como é de se imaginar, a distribuidora europeia do filme não
ficou nem um pouco satisfeita com esse golpe, abrindo um processo que acabou levando
a Franchise Pictures à falência.
Por
que tenho a impressão de que um documentário sobre os bastidores de “A
Reconquista” seria mais interessante que o filme em si?
Mas
voltando aos Psychlos. Não são tantas as vezes que tenho a oportunidade de dizer
isso, mas... Esses são provavelmente alguns dos vilões mais estúpidos que já vi
em qualquer filme. Não acreditam em mim? Eis alguns exemplos de sua estupidez:
1:
Mesmo após colonizar a Terra por mil anos em busca de ouro, eles nem sequer
imaginam que exista um lugar como Fort Knox ou qualquer outro tipo de reserva
de ouro em barras no planeta.
2:
Mesmo após colonizar a Terra por mil anos, eles ainda não sabem nada sobre
humanos. E com nada, eu quero dizer que eles não sabem nem o que comemos!
3:
Eles não sabem nada sobre humanos, porém possuem uma máquina capaz de ENSINAR A
LÍNGUA DOS PSYCHLOS PARA HUMANOS EM SEGUNDOS! Por que nunca usaram essa máquina
antes em mil anos de colonização? Porque, como já falei, eles são completos
idiotas!

E
o filme insiste em enfatizar que esses caras dizimaram todas as defesas da
Terra em apenas nove minutos. Como?!
E
quando você acha que esse filme não podia ser mais ridículo, não podia ser mais
mal atuado e não podia ter vilões mais idiotas... É nesse momento que aparece
John Travolta.
Oh,
Travolta, Travolta... Por onde começo a falar dele em “A Reconquista”?
Nesse
filme, ele interpreta Terl, o chefe de segurança Psychlo na Terra. E
simplesmente não é possível um filme ter um vilão mais caricato do que ele. Em
absolutamente NENHUM momento você o vê como uma possível ameaça. Praticamente
tudo que ele faz durante o filme é mentir, irritar qualquer um que se dirige a
ele e fazer pegadinhas infantis à custa de alguns humanos. Seu momento mais
“ameaçador” é quando ele decide demonstrar sua pontaria em algumas vacas (que
não aparecem morrendo porque, como eu disse, esse filme não teve um orçamento de US$ 73 milhões). E mesmo assim, ao fazer
isso ele vira as costas para os humanos, o que permite que eles o derrubem,
imobilizem e lhe arranquem sua arma.
Desculpe,
é pra gente sentir medo dele?
Como
é de se imaginar, Terl não é exatamente alguém muito inteligente. Pra falar a
verdade, ele é um pouco mais que isso: Ele é provavelmente o mais estúpido de
todos os Psychlos do filme. E isso, como vocês já viram, quer dizer muito! Não
acreditam em mim? Eis alguns exemplos de sua estupidez (além das vacas das
quais já falamos):
1:
Quando ele manda um grupo de humanos minerarem um veio de ouro apenas com
baldes e picaretas e estes lhe aparecem apenas duas semanas depois com centenas
de barras de ouro perfeitamente moldadas, ele não acha isso nem um pouco
suspeito.
2:
Quando um de seus subordinados lhe diz que um humano pegou uma arma e a
disparou contra um Psychlo, não apenas ele acha que o subordinado está mentindo
porque nenhum humano seria capaz de disparar uma arma, como também ELE ENTREGA
UMA ARMA PARA ESSE MESMO HUMANO PARA PROVAR SEU ARGUMENTO! O que é que pode dar
errado?!
3:
Quando esse humano de fato dispara a arma e mata seu subordinado, ao invés de
matar o humano no mesmo instante, ELE DECIDE MANTÊ-LO VIVO, ENSINA-LHE SUA LÍNGUA,
ENSINA-LHE TUDO SOBRE A HISTÓRIA, O CONHECIMENTO E AS CARACTERÍSTICAS DOS
PSYCHLOS E AINDA ENSINA-LHE A PILOTAR UMA DE SUAS NAVES! Claro! Porque um
humano jamais usaria isso tudo para liderar uma revolta contra os Psychlos!
Parabéns,
Travolta: Você acaba de interpretar o maior idiota da história do cinema!
Divertiu-se, ao menos?
A
resposta: Sim. Se Pepper atua mal porque não se importava com o filme, Travolta
atua pior ainda porque estava adorando tanto interpretar Terl que simplesmente
não conseguia levar seu papel a sério. O filme inteiro ele fala de um jeito
super exagerado, comparável aos vilões de James Bond mais ridículos. O auge é
em uma cena em que supostamente Terl está bêbado. Chega a parecer que Travolta
queria que esse filme fosse uma comédia. Infelizmente, sabemos que essa não era
a intenção. Lembrem-se, esse filme é baseado em um livro escrito pelo homem que
Travolta literalmente considera seu profeta. É como se a RPC quisesse que “Os
Dez Mandamentos” fosse uma comédia.

Infelizmente, é nessa hora que tenho que dizer
que, por mais que Travolta seja mais engraçado em “A Reconquista” do que em
qualquer gif que você deve ter visto no Facebook (aliás, por que não fazem um
gif dele nesse filme?), não vale
tanto a pena assistir esse filme, nem pela zoeira. Quando Travolta aparece, é
hilário, e bem que poderiam fazer um corte apenas com todas as cenas em que ele
guincha e gesticula as mãos por aí. Mas quando ele não aparece... Meu, que
filme chato! Nem quando a revolta finalmente acontece, com naves, explosões e gente
morrendo a torto e a direito (em uma batalha final que, de novo, em nada lembra a batalha final de Star
Wars), é possível ficar empolgado ou ao menos intrigado com a ruindade do
filme. Sem falar que, no geral, “A Reconquista” é um filme desagradável. Não é só o torcicolo de tanto ter que inclinar a
cabeça. O filme é feio. É estúpido. É o tipo de filme que faz você pensar em
quantas coisas tão melhores você poderia estar fazendo, como olhar pra parede.
Não recomendo nem assisti-lo para um jogo de bebida (ainda mais porque, se o
jogo for “um shot pra cada divisão de tela”, você estará morto antes da metade
do filme). Só o recomendaria para os verdadeiros entusiastas de filmes ruins,
como eu, que querem ver tudo o que não deve ser feito em um filme. Ao mesmo
tempo. Não é como no “Especial de Natal de Guerra nas Estrelas”, que você fica
o filme inteiro com uma expressão parecida com
É
mais o tipo de filme que metade do tempo você assiste com uma expressão
parecida com
Avaliação: Desagradável demais pra valer
a zoeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário