“A
Teoria de Tudo”.
Não,
sério. Só isso. Estou a mais de uma hora tentando arrumar um jeito engraçado e
chamativo de começar essa crítica, e nenhum soa legal! Chega! Hoje não estou bem! Vamos então começar
logo com isso!
Imagino
que muitos aqui já tenham assistido a esse filme e já tenham suas opiniões
formadas sobre ele. É curioso, mas todo mundo parece ter uma opinião bastante
forte sobre “A Teoria de Tudo”: Quem gosta, o defende ferrenhamente; quem não
gosta, o ataca ferrenhamente. Até mesmo quem o achou mais ou menos argumenta
com firmeza o porquê de esse ser um filme mais ou menos. Sendo assim, imagino
que muitos de vocês nem vão ler essa crítica até o final assim que virem que
não concordo com a opinião de vocês. Está tudo bem, eu compreendo. Mas vou
escrever mesmo assim porque, como parece que aconteceu com todo mundo, terminei
de assistir “A Teoria de Tudo” com impressões bem marcantes (para o bem ou para
o mal), portanto achei necessário eventualmente fazer minha crítica.
Como
até mesmo quem não assistiu o filme já deve saber, ele narra a vida do famoso
físico britânico Stephen Hawking. O da cadeira de rodas. Isso e também o que
desenvolveu a teoria que diz que buracos negros emitem radiação, além de o
primeiro a unir a teoria da relatividade geral e a física quântica em uma única
explicação cosmológica. Mas, cá entre nós, sejamos sinceros: A maioria só o
conhece pela cadeira de rodas.
“A
Teoria de Tudo” é oficialmente baseado no livro de memórias de Jane Wilde
Hawking, com quem ele se casou em 1965. Como antes, não li o livro (ainda farei
uma crítica da adaptação de um livro que li!), mas li o suficiente sobre
Stephen Hawking antes de escrever essa crítica para saber que o filme diverge
um pouco da vida dele. Embora, para o crédito do filme, não tanto quanto outros
filmes biográficos semelhantes, como, digamos, “Uma Mente Brilhante”.
Aliás,
é possível encontrar várias semelhanças entre “A Teoria de Tudo” e “Uma Mente
Brilhante”: Ambos contam a vida de algum cientista/matemático reconhecido por
sua genialidade, porém com alguma grave condição física ou mental que vai
evoluindo ao longo do filme; ambos optam por contar sua vida através de uma
história de amor entre o cientista e sua esposa, que juntos aprendem a superar
essa condição; coincidentemente, em ambos os casos o cientista em questão
estava vivo na época em que o filme foi lançado. Com certeza há mais filmes com
essas mesmas características, porém “Uma Mente Brilhante” foi o primeiro filme
que me veio em mente ao assistir “A Teoria de Tudo”.
Considerando
então que “A Teoria de Tudo” é o tipo de filme que muitos de nós já vimos
antes... O que ele traz de novo?
Em
primeiro lugar vamos ao que foi mais aclamado no filme: A atuação. Eddie
Redmayne, o ator que interpreta Hawking, ganhou o Oscar de Melhor Ator ano
passado, uma decisão que surpreendeu muita gente, considerando que Michael
Keaton era considerado o favorito por seu papel em “Birdman”. Não cabe a mim
julgar qual dos dois atuou melhor, ou se Redmayne merecia o Oscar ou não, mas
direi uma coisa: Interpretar Stephen Hawking em um filme não é um trabalho
fácil. Especialmente em um filme que mostra a progressão de sua doença
(esclerose lateral amiotrófica, ou ALS, para quem quiser saber o nome), desde
suas primeiras quedas e dificuldades em segurar objetos até o momento em que
ele perde quase todos os movimentos e passa a ter que falar através de um
computador. Há vários motivos para isso ser uma tarefa complicada para um ator:
É preciso imitar as dificuldades crescentes que Hawking tinha em andar, falar,
fazer movimentos básicos, até o ponto em que o ator tem que ficar parado em uma
posição que não parece nem um pouco confortável... E mesmo assim transmitir uma
variedade de emoções. Lembrem-se, duas das principais formas de transmitir emoções
são através de linguagem corporal e tom de voz. E Stephen Hawking não possui
nenhuma das duas. Se ainda é possível saber o que ele sente, é apenas através
da misteriosa coisa tão difícil de imitar chamada “brilho nos olhos”.

Como
se isso não fosse desafio o suficiente para Redmayne, há também o fato de que
geralmente as cenas de um filme não são filmadas em ordem cronológica. Assim,
ele teve que continuamente ir e voltar em seu retrato da degeneração motora de
Hawking: capaz de andar e falar normalmente, então só podendo mexer a cabeça e
falando de forma quase incompreensível, então precisando de uma muleta para
andar, então completamente parado e tendo que falar através de um computador,
então andando com duas muletas, então andando normalmente de novo...
Agora
deixado claro que o filme não foi filmado em ordem cronológica, ao assistir “A
Teoria de Tudo”, você percebeu isso? Percebeu que Eddie Redmayne teve que ir e
voltar durante as filmagens quanto à progressão da doença? Se a resposta for
“não” e você continua sendo enganado com a impressão de que tudo foi filmado em
ordem cronológica, pode considerar Eddie Redmayne um bom ator. Se Michael
Keaton teve seu Oscar roubado ou não, fica para outro dia.
Agora,
querem saber quem realmente foi
roubada das premiações? Felicity Jones, que interpreta Jane Hawking. Por quê?
Porque das dezesseis indicações a prêmios que ela recebeu pela sua atuação...
Ela só ganhou UMA. E pior: O prêmio que ela recebeu foi o Prêmio Mulher
Invisível, do Women Film Critics Circle (Círculo de Mulheres Críticas de
Cinema). Ou seja: Um prêmio específico para atrizes talentosas que foram
deixadas de lado por outras premiações. Isso é tão prêmio de consolação quanto
um prêmio de consolação consegue ser! E isso é triste, porque, embora Jones não
tivesse um desafio técnico tão grande quanto o de Redmayne, ela assumiu muito
bem seu papel. Muito bem mesmo! Em nenhum momento se duvida que ela seja uma
mulher que, por mais que ame seu marido, ao mesmo tempo é esmagada pelo
estresse que sua condição traz para ela. É uma mulher que precisa quase tanto
de ajuda quanto seu marido. E quando a ajuda finalmente chega... Bom, não vou
estragar o filme pra quem ainda não assistiu nem conhece a história.
Eu
sei que 2014 foi um ano bastante acirrado em se tratando de atrizes, entre
Juliane Moore, Rosamund Pike, Reese Witherspoon e várias outras fazendo algumas
das melhores atuações de suas vidas. Mas ainda assim: Dezesseis indicações...
Só uma? Sério isso?!
Mas
além das atuações, o que esse filme tem a oferecer? A resposta: A direção de
James Marsh. É curioso ver como um diretor famoso principalmente por seus
documentários é capaz de fazer um filme tão cheio de recursos visuais que tem
mais a ver com o mundo da arte do que com o da realidade, entre iluminação,
cores, cinematografia... Por vezes “A Teoria de Tudo” parece até uma
pintura impressionista, com luzes, cores e até mesmo as posições dos
personagens indicando o que passa na cabeça deles, seus sentimentos e
conflitos, até mesmo a importância deles para o enredo.
Há
também um grande número de alusões visuais ao tempo: Círculos, espirais,
objetos e pessoas movendo-se em sentido horário ou anti-horário, dependendo da
ocasião... Constantemente o tema do tempo é explicitado visualmente. Embora a
princípio pareça que o motivo disso tem a ver apenas com o tema da pesquisa de
Hawking (seu principal livro se chama “Uma Breve História do Tempo”, e ao longo
do filme todo Redmayne fala em pesquisar sobre o tempo, desenvolver uma fórmula
sobre o tempo, voltar no tempo), percebe-se ao final do filme que o motivo vai
além da pesquisa: Se estende para toda a vida de Hawking. Quando descobre sobre
sua doença, Stephen ouve que terá apenas dois anos de vida. Três décadas
depois, porém, o filme mostra ele e Jane relembrando tudo pelo que passaram
juntos, tudo que lhes aconteceu, “tudo o que fizeram”. Não é um filme sobre o
que Hawking foi capaz de fazer como cientista; é um filme sobre o que ele foi
capaz de fazer como pessoa.
Falando
assim, chega a parecer piegas, mas a verdade é que... É, o filme é meio piegas.
Pois
é, por mais que eu tenha gostado do filme como uma união entre excelente elenco
e excelente diretor, até eu tenho que assumir que ele falha no que a maioria
dos filmes biográficos (especialmente os de pessoas vivas) falham: Ele
simplesmente trata seus personagens de uma maneira gentil demais. Hawking
aparece um cara super simpático (o que, lendo sobre ele, rapidamente se
descobre que não é totalmente verdade). Como eu disse antes, eu não li o livro,
então não sei como Jane Hawking o descreve, mas eu não sei, eu tenho minhas
dúvidas após ver o filme de que ela o veja de maneira tão gentil assim.
Aliás,
gentil não: Por vezes o filme praticamente cai na idolatria a Stephen Hawking.
Chega a ser difícil ficar irritado com ele, mesmo nos momentos em que ale de
forma... Não exatamente o que se esperaria do herói de um filme, digamos assim.

Não
que isso torne o filme imediatamente ruim. Só o torna... Agradável. É o tipo de
filme aconchegante para se assistir com a família, aconchegado no sofá. Talvez
daqui a algum tempo aja um filme biográfico de Stephen Hawking que o trate de
uma forma mais realista. O que seria interessante e possivelmente bom. Mas
mesmo quando esse suposto filme for lançado, não acho que deva se desconsiderar
os méritos de “A Teoria de Tudo”. Continua sendo um filme tecnicamente
impecável, e bem mais artístico que a maioria dos filmes biográficos que você
provavelmente encontrará na televisão.
Avaliação: Vale a pena
Ainda não vi mas pretendo.
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