Feliz
ano novo, crianças! É 2016 agora, e, como Cássia Eller já cantava, “nada mudou,
mas eu sei que alguma coisa aconteceu”. E, para celebrar isso, nada como
inaugurar o novo ano no meu blog fazendo exatamente a mesma coisa que fiz ano
passado: Mais uma crítica de Scooby-Doo! Mais especificamente, de “Scooby-Doo e
o Fantasma da Bruxa”.
Lançado
em 1999, seguindo o sucesso de “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”, esse filme tinha
a intenção de seguir os mesmos passos de seu antecessor, com o mesmo tom
sombrio, a mesma animação mais realista (mais uma vez gloriosamente feita pelo
estúdio japonês Mook Animation) e a mesma presença de elementos sobrenaturais
de verdade.
E
como esse filme se sai em comparação com o anterior?
Hum...
Quero
dizer, não é ruim, há bastante coisa boa nele, só... Não o suficiente.
Ok,
vamos começar do começo. Assim como em “Ilha dos Zumbis”, “O Fantasma da Bruxa”
começa com a turma (aparentemente, agora oficialmente de volta) resolvendo um
caso à moda antiga, com Scooby e Salsicha sendo perseguidos por dois...
Gladiadores... Fantasmas... Monstros... Coisas.
Tudo
parece perdido para os dois, até que do nada um cara escondido atrás de uma
cortina bota o pé pra fora, faz as... Coisas tropeçarem e os salva. O cara em
questão é Ben Ravencroft, um famoso escritor de livros de terror que parece
fascinado pelo trabalho da turma e imediatamente os convida para uma temporada
em sua cidade natal, Oakhaven, em Massachusetts.
Hum,
um cara que aparece do nada por trás da cortina, conhece a turma apesar de eles
nunca terem se visto pessoalmente antes e já sai os convidando para sua casa?
Tenho certeza que não há NADA de
suspeito nele!
Enfim,
chegando lá, eles descobrem que o lugar é atualmente uma atração turística,
devido a relatos de aparição de uma bruxa no lugar. Ben não se mostra nada
satisfeito com isso, pois a bruxa em questão é sua ancestral Sarah Ravencroft,
queimada em 1657 (o porquê de a data ser tão específica eu não sei) por
bruxaria. Ben afirma que Sarah não era uma bruxa, mas sim uma Wiccan, cujos
métodos naturais de cura foram mal interpretados. O único jeito de provar isso
seria encontrando o diário dela, que conteria seus relatórios médicos.
As
coisas complicam um pouco quando Salsicha e Scooby, assim com em “Ilha dos
Zumbis”, avistam o que de fato parece ser o fantasma de uma bruxa. Mas, com um
pouco de investigação, a turma descobre que nem tudo é o que parece. E quando
tudo parece resolvido, descobre que nem tudo é o que parece de novo. Não há como explicar melhor o
enredo sem revelar alguns spoilers.
Ok,
mulheres executadas por supostamente serem bruxas não são nenhuma novidade em
histórias de terror, e as possibilidades de se contar uma história sombria e perturbadora
com elas é imensa (ainda mais considerando que os próprios livros de história
já fazem metade do trabalho!). Na verdade, elas não são nem novidade em
Scooby-Doo! O episódio “Como Expulsar uma Bruxa” tinha uma premissa parecida, e
aquele episódio foi um dos mais sombrios da série até então, com Scooby sendo
confundido com uma bruxa e torturado por afogamento (não, não estou inventando
isso!). Sendo assim, esse filme podia muito bem fazer algo tão sombrio, talvez
mais até, quanto “Ilha dos Zumbis”.
E
o que o filme de fato faz?
Para
começar, lembram-se que uma das minhas duas principais reclamações com “Ilha
dos Zumbis” foi que os monstros de verdade só apareceram após metade do filme? Bom,
“O Fantasma da Bruxa” atinge um novo nível: A bruxa em si só aparece por DEZ
MINUTOS! Dez! Acreditem, eu contei! E eu sei que esse é um filme bem mais curto
que “Ilha dos Zumbis” (tem só 66 minutos, com créditos), mas mesmo assim! Ela
aparece nesse filme tanto quanto o tubarão em “Tubarão”. E naquele filme pelo
menos desde o começo, embora não se visse o tubarão, sabia-se que ele estava presente. Mas aqui não. Aqui, quando ela
não aparece, é porque ela realmente não está por perto.
E
depois vem a minha segunda reclamação com “Ilha dos Zumbis”: Seus subenredos.
Sim, naquele filme eles podiam ser um tanto irritantes pelo fato de ocuparem um
tanto de espaço e não irem a ligar nenhum, mas ao menos eram legais (um pescador
caolho dublado por Mark Hamill, como isso pode não ser legal?!). Em “O Fantasma
da Bruxa”, porém... Temos as Hex Girls.
É,
acho que é inevitável falar sobre esse filme sem comentar sobre elas, não?
No
filme, elas são uma banda gótica popular de Oakhaven, de quem a turma inicialmente
suspeita por suas atitudes um tanto... Estranhas. Como usar dentes de vampiro,
falar de poderes malignos entre si, preparar poções, entre outras coisas.
Desde
que “O Fantasma da Bruxa” foi lançado, fãs de Scooby-Doo têm tido reações
bastante mistas às Hex Girls. Por um lado, muitos gostam das músicas que elas
tocam no filme e do fato de elas serem uma banda um pouco mais “hardcore” do
que as geralmente vistas em desenhos infantis até então. Por outro lado, muitos
criticaram essas mesmas músicas, considerando-as dolorosamente ruins e nada a
ver com qualquer música realmente gótica, além de a banda ser acusada de ser apenas
uma tentativa dos criadores do filme de fazerem algo mais “moderninho”.
Pessoalmente, porém... Eu não sou lá um grande fã delas.
Ok,
primeiro uma coisa boa delas: Sim, a presença delas pode ser considerado um
mero subenredo do filme, mas ao menos no final elas TÊM sua importância, o que
é mais do que se pode falar da maioria dos subenredos de “Ilha dos Zumbis”.
Mas
que elas podiam ter sido substituídas por algo melhor, podiam.
Além
do fato de elas se parecerem com as irmãs “sou tão única!” de Jem e as
Hologramas, há o fato de elas ocuparem MUITO tempo do filme. Caramba, elas
aparecem mais do que a bruxa do título! Supõe-se que elas são apenas
personagens secundárias! É como se em um filme sobre Transformers os humanos
aparecessem mais do que os robôs em si.
Pensando
bem, essa foi uma péssima comparação.
E
então temos as músicas delas. Não vou avaliar se elas são boas ou ruins, porque
não é minha área e é um assunto de bastante debate, mas uma coisa é certa:
Nenhuma banda gótica de verdade as cantaria. Eu sei que esse é um desenho
infantil e os criadores das letras queriam fazer algo que soasse mais amigável
às crianças, mas ainda assim é meio difícil imaginar uma banda assim
Ou
assim
Cantando letras como:
“Mix it up here on my little bowl/ say a few
words and you’ll lose control”
Ou:
“We ride the Wind/ We feel the fire,/ To love
the Earth is our one desire”
Eu
consigo imaginar uma cantora pop cantando isso caso ela queira fazer um disco
mais “diferentão”, mas uma banda gótica “hardcore” de verdade, como as Hex
Girls supostamente são?
Para
quem esteja se perguntando por que botei a letra em inglês se provavelmente
quem for assistir a esse filme vai assisti-lo dublado, é porque, bem, na versão
brasileira elas continuam cantando em inglês. Aparentemente quem traduziu o
filme ao ver que tinha canções nele simplesmente jogou o roteiro pro alto e
falou “Ah, quem se importa, é um filme do Scooby-Doo!”.
O
principal problema das Hex Girls, porém, na minha opinião, é o fato de elas
existirem apenas para tornar o filme “moderninho”. Sim, não é a primeira vez
que essa tentativa é feita em Scooby-Doo de uma maneira não muito boa. Mesmo na
primeira temporada há um episódio em que Fred fala para Scooby ser “corajoso
como John Wayne” (que criança atualmente sabe quem é John Wayne?!). Porém não há
dúvida de que os melhores momentos de Scooby-Doo são aqueles que tentam ser
atemporais. Mesmo “Ilha dos Zumbis”, apesar de referências a computadores e
outras coisas do mundo moderno, poderia muito bem com alguns pequenos ajustes
se passar na época em que Scooby-Doo começou a passar na TV, da mesma forma
como poderia se passar nos dias atuais. Isso não acontece com as Hex Girls.
Embora no final dos anos 90 parecesse algo legal e diferente botar uma banda
gótica em um desenho infantil, atualmente isso não é algo tão sensacional. Continua,
se feito da forma certa, sendo um toquezinho legal, mas é, digamos que esse é
um recurso que foi ultrapassado.
Mas,
tudo isso pode ser perdoado se “O Fantasma da Bruxa” for bem-sucedido no seu
objetivo inicial: Fazer algo que seguisse o caminho sombrio e assustador aberto
por “Ilha dos Zumbis”. E como esse filme se sai?
Hum...
Ok,
deixem eu me justificar: Quando os elementos sobrenaturais do filme finalmente
aparecem, ele se torna um tanto sombrio, quase
tanto quanto “Ilha dos Zumbis”. Há abóboras que ganham vida e tentáculos
(apenas para serem cruelmente esmagadas), há um personagem que ganha um aspecto
quase demoníaco, e há até o que só posso descrever como o peru mais assustador
que já vi. Mas o problema está no quase.
O que vocês consideram mais assustador, mais “Hardcore”? Fred decepando um
zumbi com as próprias mãos... Ou um peru? Não importa o quão feio o peru seja,
a menos que você tenha alguma fobia específica de aves o mais provável é que
você responda que é o zumbi.
A
impressão que dá é que, após tacar o “f#d@-se!” em “Ilha dos Zumbis”, nesse
filme os criadores sossegaram um pouco, fazendo algo que ainda é assustador,
mas não é exatamente uma total desconstrução da franquia como o filme anterior.
E
quando os elementos sobrenaturais não são trazidos? O filme ainda traz aquela
atmosfera de tensão, como antes? Hum... Não. Quando há luz do dia ou quando as
Hex Girls estão tocando, não há aquele suspense no ar, aquela sensação de que
algo muito ruim vai acontecer. Pra falar a verdade, é praticamente tão tenso
quando um episódio normal de Scooby-Doo. A pior coisa que acontece é quando
Salsicha e Scooby, à típica maneira deles, comem uma pilha gigante de comida.
E, pelo menos, dessa vez a intenção dos animadores deu certo: A cena é de
revirar o estômago. Não é exatamente engraçada, como antes, apenas... Urgh. E
essa era a intenção deles, um personagem que vê eles até parece que vai
vomitar. A impressão que se tem é que a qualquer momento os dois vão se
transformar em porcos (um lugar especial no meu coração pra quem entendeu essa
referência).
Então...
“Scooby-Doo e o Fantasma da Bruxa” é ruim? Não exatamente. É fraco, posso
afirmar, mas ainda possui algumas das
coisas que tornaram “Ilha dos Zumbis” um filme tão bom. Não é a calamidade que
só vale pela zoeira que “Scooby-Doo! em Uma Noite das Arábias” foi. Ainda tem a
animação excelente; ainda tem a ambientação interessante; ainda tem um
tratamento menos superficial de seus personagens (com pela primeira vez um
romance entre Fred e Daphne sendo tratado como algo real); e, embora não seja
tão “hardcore” quanto o filme anterior, ainda possui algumas coisas que
crianças vão achar legais. E mesmo as Hex Girls, como eu disse, pessoalmente
não gosto, mas as músicas delas são mais uma questão de gosto pessoal do que de
qualidade (quanto ao resto...). Então, se você quer mostrar um lado mais “hardcore”
de Scooby-Doo para uma criança, mas está apreensivo do quanto ela irá sujar as
calças com “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”... Esse filme talvez te satisfaça.
Mas em qualquer outro caso, não recomendo muito. É pouca coisa inovadora e
diferente para muita coisa que já foi feita melhor.
Avaliação: Não vale a pena... Embora não
totalmente.
Realmente não é para mim.Mas se voltasse a ser criança acho que até gostaria. Será ?
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