sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Scooby-Doo e o Fantasma da Bruxa

            Feliz ano novo, crianças! É 2016 agora, e, como Cássia Eller já cantava, “nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu”. E, para celebrar isso, nada como inaugurar o novo ano no meu blog fazendo exatamente a mesma coisa que fiz ano passado: Mais uma crítica de Scooby-Doo! Mais especificamente, de “Scooby-Doo e o Fantasma da Bruxa”.

            Lançado em 1999, seguindo o sucesso de “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”, esse filme tinha a intenção de seguir os mesmos passos de seu antecessor, com o mesmo tom sombrio, a mesma animação mais realista (mais uma vez gloriosamente feita pelo estúdio japonês Mook Animation) e a mesma presença de elementos sobrenaturais de verdade.
            E como esse filme se sai em comparação com o anterior?
            Hum...

            Quero dizer, não é ruim, há bastante coisa boa nele, só... Não o suficiente.
            Ok, vamos começar do começo. Assim como em “Ilha dos Zumbis”, “O Fantasma da Bruxa” começa com a turma (aparentemente, agora oficialmente de volta) resolvendo um caso à moda antiga, com Scooby e Salsicha sendo perseguidos por dois... Gladiadores... Fantasmas... Monstros... Coisas.

            Tudo parece perdido para os dois, até que do nada um cara escondido atrás de uma cortina bota o pé pra fora, faz as... Coisas tropeçarem e os salva. O cara em questão é Ben Ravencroft, um famoso escritor de livros de terror que parece fascinado pelo trabalho da turma e imediatamente os convida para uma temporada em sua cidade natal, Oakhaven, em Massachusetts.
            Hum, um cara que aparece do nada por trás da cortina, conhece a turma apesar de eles nunca terem se visto pessoalmente antes e já sai os convidando para sua casa? Tenho certeza que não há NADA de suspeito nele!

            Enfim, chegando lá, eles descobrem que o lugar é atualmente uma atração turística, devido a relatos de aparição de uma bruxa no lugar. Ben não se mostra nada satisfeito com isso, pois a bruxa em questão é sua ancestral Sarah Ravencroft, queimada em 1657 (o porquê de a data ser tão específica eu não sei) por bruxaria. Ben afirma que Sarah não era uma bruxa, mas sim uma Wiccan, cujos métodos naturais de cura foram mal interpretados. O único jeito de provar isso seria encontrando o diário dela, que conteria seus relatórios médicos.

            As coisas complicam um pouco quando Salsicha e Scooby, assim com em “Ilha dos Zumbis”, avistam o que de fato parece ser o fantasma de uma bruxa. Mas, com um pouco de investigação, a turma descobre que nem tudo é o que parece. E quando tudo parece resolvido, descobre que nem tudo é o que parece de novo. Não há como explicar melhor o enredo sem revelar alguns spoilers.

            Ok, mulheres executadas por supostamente serem bruxas não são nenhuma novidade em histórias de terror, e as possibilidades de se contar uma história sombria e perturbadora com elas é imensa (ainda mais considerando que os próprios livros de história já fazem metade do trabalho!). Na verdade, elas não são nem novidade em Scooby-Doo! O episódio “Como Expulsar uma Bruxa” tinha uma premissa parecida, e aquele episódio foi um dos mais sombrios da série até então, com Scooby sendo confundido com uma bruxa e torturado por afogamento (não, não estou inventando isso!). Sendo assim, esse filme podia muito bem fazer algo tão sombrio, talvez mais até, quanto “Ilha dos Zumbis”.
            E o que o filme de fato faz?
            Para começar, lembram-se que uma das minhas duas principais reclamações com “Ilha dos Zumbis” foi que os monstros de verdade só apareceram após metade do filme? Bom, “O Fantasma da Bruxa” atinge um novo nível: A bruxa em si só aparece por DEZ MINUTOS! Dez! Acreditem, eu contei! E eu sei que esse é um filme bem mais curto que “Ilha dos Zumbis” (tem só 66 minutos, com créditos), mas mesmo assim! Ela aparece nesse filme tanto quanto o tubarão em “Tubarão”. E naquele filme pelo menos desde o começo, embora não se visse o tubarão, sabia-se que ele estava presente. Mas aqui não. Aqui, quando ela não aparece, é porque ela realmente não está por perto.

            E depois vem a minha segunda reclamação com “Ilha dos Zumbis”: Seus subenredos. Sim, naquele filme eles podiam ser um tanto irritantes pelo fato de ocuparem um tanto de espaço e não irem a ligar nenhum, mas ao menos eram legais (um pescador caolho dublado por Mark Hamill, como isso pode não ser legal?!). Em “O Fantasma da Bruxa”, porém... Temos as Hex Girls.

            É, acho que é inevitável falar sobre esse filme sem comentar sobre elas, não?
            No filme, elas são uma banda gótica popular de Oakhaven, de quem a turma inicialmente suspeita por suas atitudes um tanto... Estranhas. Como usar dentes de vampiro, falar de poderes malignos entre si, preparar poções, entre outras coisas.
            Desde que “O Fantasma da Bruxa” foi lançado, fãs de Scooby-Doo têm tido reações bastante mistas às Hex Girls. Por um lado, muitos gostam das músicas que elas tocam no filme e do fato de elas serem uma banda um pouco mais “hardcore” do que as geralmente vistas em desenhos infantis até então. Por outro lado, muitos criticaram essas mesmas músicas, considerando-as dolorosamente ruins e nada a ver com qualquer música realmente gótica, além de a banda ser acusada de ser apenas uma tentativa dos criadores do filme de fazerem algo mais “moderninho”. Pessoalmente, porém... Eu não sou lá um grande fã delas.
            Ok, primeiro uma coisa boa delas: Sim, a presença delas pode ser considerado um mero subenredo do filme, mas ao menos no final elas TÊM sua importância, o que é mais do que se pode falar da maioria dos subenredos de “Ilha dos Zumbis”.
            Mas que elas podiam ter sido substituídas por algo melhor, podiam.
            Além do fato de elas se parecerem com as irmãs “sou tão única!” de Jem e as Hologramas, há o fato de elas ocuparem MUITO tempo do filme. Caramba, elas aparecem mais do que a bruxa do título! Supõe-se que elas são apenas personagens secundárias! É como se em um filme sobre Transformers os humanos aparecessem mais do que os robôs em si.

            Pensando bem, essa foi uma péssima comparação.
            E então temos as músicas delas. Não vou avaliar se elas são boas ou ruins, porque não é minha área e é um assunto de bastante debate, mas uma coisa é certa: Nenhuma banda gótica de verdade as cantaria. Eu sei que esse é um desenho infantil e os criadores das letras queriam fazer algo que soasse mais amigável às crianças, mas ainda assim é meio difícil imaginar uma banda assim

            Ou assim
Cantando letras como:
            “Mix it up here on my little bowl/ say a few words and you’ll lose control
            Ou:
            “We ride the Wind/ We feel the fire,/ To love the Earth is our one desire”
            Eu consigo imaginar uma cantora pop cantando isso caso ela queira fazer um disco mais “diferentão”, mas uma banda gótica “hardcore” de verdade, como as Hex Girls supostamente são?
            Para quem esteja se perguntando por que botei a letra em inglês se provavelmente quem for assistir a esse filme vai assisti-lo dublado, é porque, bem, na versão brasileira elas continuam cantando em inglês. Aparentemente quem traduziu o filme ao ver que tinha canções nele simplesmente jogou o roteiro pro alto e falou “Ah, quem se importa, é um filme do Scooby-Doo!”.

            O principal problema das Hex Girls, porém, na minha opinião, é o fato de elas existirem apenas para tornar o filme “moderninho”. Sim, não é a primeira vez que essa tentativa é feita em Scooby-Doo de uma maneira não muito boa. Mesmo na primeira temporada há um episódio em que Fred fala para Scooby ser “corajoso como John Wayne” (que criança atualmente sabe quem é John Wayne?!). Porém não há dúvida de que os melhores momentos de Scooby-Doo são aqueles que tentam ser atemporais. Mesmo “Ilha dos Zumbis”, apesar de referências a computadores e outras coisas do mundo moderno, poderia muito bem com alguns pequenos ajustes se passar na época em que Scooby-Doo começou a passar na TV, da mesma forma como poderia se passar nos dias atuais. Isso não acontece com as Hex Girls. Embora no final dos anos 90 parecesse algo legal e diferente botar uma banda gótica em um desenho infantil, atualmente isso não é algo tão sensacional. Continua, se feito da forma certa, sendo um toquezinho legal, mas é, digamos que esse é um recurso que foi ultrapassado.
            Mas, tudo isso pode ser perdoado se “O Fantasma da Bruxa” for bem-sucedido no seu objetivo inicial: Fazer algo que seguisse o caminho sombrio e assustador aberto por “Ilha dos Zumbis”. E como esse filme se sai?
            Hum...

            Ok, deixem eu me justificar: Quando os elementos sobrenaturais do filme finalmente aparecem, ele se torna um tanto sombrio, quase tanto quanto “Ilha dos Zumbis”. Há abóboras que ganham vida e tentáculos (apenas para serem cruelmente esmagadas), há um personagem que ganha um aspecto quase demoníaco, e há até o que só posso descrever como o peru mais assustador que já vi. Mas o problema está no quase. O que vocês consideram mais assustador, mais “Hardcore”? Fred decepando um zumbi com as próprias mãos... Ou um peru? Não importa o quão feio o peru seja, a menos que você tenha alguma fobia específica de aves o mais provável é que você responda que é o zumbi.

            A impressão que dá é que, após tacar o “f#d@-se!” em “Ilha dos Zumbis”, nesse filme os criadores sossegaram um pouco, fazendo algo que ainda é assustador, mas não é exatamente uma total desconstrução da franquia como o filme anterior.
            E quando os elementos sobrenaturais não são trazidos? O filme ainda traz aquela atmosfera de tensão, como antes? Hum... Não. Quando há luz do dia ou quando as Hex Girls estão tocando, não há aquele suspense no ar, aquela sensação de que algo muito ruim vai acontecer. Pra falar a verdade, é praticamente tão tenso quando um episódio normal de Scooby-Doo. A pior coisa que acontece é quando Salsicha e Scooby, à típica maneira deles, comem uma pilha gigante de comida. E, pelo menos, dessa vez a intenção dos animadores deu certo: A cena é de revirar o estômago. Não é exatamente engraçada, como antes, apenas... Urgh. E essa era a intenção deles, um personagem que vê eles até parece que vai vomitar. A impressão que se tem é que a qualquer momento os dois vão se transformar em porcos (um lugar especial no meu coração pra quem entendeu essa referência).

            Então... “Scooby-Doo e o Fantasma da Bruxa” é ruim? Não exatamente. É fraco, posso afirmar, mas ainda possui algumas das coisas que tornaram “Ilha dos Zumbis” um filme tão bom. Não é a calamidade que só vale pela zoeira que “Scooby-Doo! em Uma Noite das Arábias” foi. Ainda tem a animação excelente; ainda tem a ambientação interessante; ainda tem um tratamento menos superficial de seus personagens (com pela primeira vez um romance entre Fred e Daphne sendo tratado como algo real); e, embora não seja tão “hardcore” quanto o filme anterior, ainda possui algumas coisas que crianças vão achar legais. E mesmo as Hex Girls, como eu disse, pessoalmente não gosto, mas as músicas delas são mais uma questão de gosto pessoal do que de qualidade (quanto ao resto...). Então, se você quer mostrar um lado mais “hardcore” de Scooby-Doo para uma criança, mas está apreensivo do quanto ela irá sujar as calças com “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”... Esse filme talvez te satisfaça. Mas em qualquer outro caso, não recomendo muito. É pouca coisa inovadora e diferente para muita coisa que já foi feita melhor.


Avaliação: Não vale a pena... Embora não totalmente.

Um comentário:

  1. Realmente não é para mim.Mas se voltasse a ser criança acho que até gostaria. Será ?

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