quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Scooby-Doo e a Caçada Virtual


            Eu sei, eu sei, duas críticas de Scooby-Doo seguidas?! Não é um pouco demais?
            Para ser bem sincero, eu nem ia falar desse filme ainda. Estava pensando em agora fazer uma homenagem ao recém-falecido diretor italiano Ettore Scola, mas como não consegui achar em lugar nenhum o filme dele que eu ia criticar, tive que ficar com o que estava em seguida na minha agenda: “Scooby-Doo e a Caçada Virtual”.

            Ao contrário dos filmes anteriores do Scooby-Doo, esse é um que tem um pequeno significado pessoal para mim. Isso em nada quer dizer que serei bonzinho com ele.
            Quando criança, meu primeiro console de videogame foi um Playstation 1. Entre os jogos que eu tinha para jogar, um deles era justamente o jogo “Scooby-Doo and the Cyber Chase”. E como me lembro desse jogo! Provavelmente foi um dos jogos que mais joguei no meu Playstation, e quando criança eu o achava super difícil, nunca tendo chegado à fase final naquela época (muitos anos mais tarde eu o jogaria de novo e terminaria ele em três dias). Os gráficos eram tão simples quanto os de um jogo de Playstation 1 podem ser, e a história também: A turma fica presa no ciberespaço e precisa derrotar um vilão chamado Vírus Fantasma, passando por vários níveis com as mais diversas ambientações: Japão feudal, Roma antiga, Egito, por aí vai.

            Então eis minha surpresa quando entro numa locadora e vejo que existe um filme do jogo!
            Ok, o filme não é baseado no jogo, mas sim o contrário, mas acreditem, poderia muito bem ser assim, pois o enredo de “Caçada Virtual” implora para ser adaptado para vídeo game!

            O filme começa no laboratório de alguma universidade, onde dois alunos, orientados por um professor cuja aparência é uma imitação tão descarada de Albert Einstein que irei chama-lo assim a partir de agora, estão testando uma nova invenção deles: Um laser capaz de transmitir objetos reais para o ciberespaço. Como exemplo, Professor Einstein usa mais tarde uma caixa de biscoitos Scooby. Guardem isso na cabeça, por favor.
            Como se uma ideia dessas já não soasse ridícula, ouça isso: O filme até tenta dar uma explicação científica para isso funcionar. Sem brincadeira. Não estou desmerecendo a inteligência por trás de Scooby-Doo, mas vocês realmente acham que essa é a franquia infantil que possui a resposta científica para teletransportar objetos e pessoas para uma realidade virtual?!

                De qualquer forma, tudo vai bem com Professor Einstein e seus alunos, até que, de alguma forma, um vírus de computador, apelidado de Vírus Fantasma, faz o caminho inverso, saindo do computador e entrando no mundo real.
            Quanto à aparência do Vírus Fantasma... Embora ele pareça legal, honestamente eu não o acho muito ameaçador. Não sei, talvez seja a cara dele. Por algum motivo, o Vírus Fantasma me lembra do Jim Carrey se fosse pintado de azul.


            Voltando à história, é nesse momento que a Fred, Daphne, Velma, Salsicha e Scooby chegam à universidade. Aparentemente, um amigo deles, Eric, é um dos alunos de Professor Einstein, e junto com o laser está também desenvolvendo um jogo inspirado nas aventuras da turma. Ao se encontrarem, porém, Professor Einstein pede para eles ajudarem a encontrar o Vírus Fantasma, que fugiu para algum lugar escondido no campus, e que segundo o professor é vulnerável a ímãs por motivos de... Hã... Ciência.
            Você talvez esteja pensando “Tá, mas quando é que a turma entrará no ciberespaço para enfrentar o vírus lá, como no jogo?”. Bem, a verdade é que... Eles não entram no ciberespaço até a marca dos vinte minutos. E o filme tem só 73 minutos de duração, com créditos e tudo!
            O que temos até então? Temos uma longa... Looonga... Loooooonga perseguição pelo campus.

            E por que ela parece tão longa, você talvez me pergunte? Porque o Vírus Fantasma aparentemente aprendeu a ser um vilão imponente na mesma escola em que o Dr. Destino do novo filme do Quarteto Fantástico: Exiba alguns poderes realmente ameaçadores no começo, apenas para nunca mais mostra-los no resto do filme. Sério! No começo do filme, vemos o Vírus Fantasma destruir equipamentos eletrônicos, dar vida a cabos que agarram as pessoas, e todo tipo de coisa que apenas a virada do milênio poderia imaginar que um vírus de computador é capaz de fazer.
            E o que acontece? O Vírus Fantasma só apanha praticamente a perseguição inteira! Tem até uma hora em que Salsicha e Scooby colam eletrodos nele para lhe dar choques. Se nos basearmos no começo do filme, quem devia estar dando choques com eletrodos era o vírus, não Salsicha! Caramba, é possível esse monstro ser mais burro?

            Sim. Sim, é possível.
            Finalmente, após vinte minutos dessa história, alguma figura misteriosa aperta o botão que ativa o laser e envia a turma para dentro do jogo de Eric. De alguma forma não explicada, o Vírus Fantasma é enviado para lá junto. E lembram-se que eu avisei para guardarem aquela caixa de biscoitos Scooby na cabeça? Bem, no começo do filme, Professor Einstein era capaz de trazê-la de volta para o mundo real apenas apertando um botão, sem quaisquer danos que sejam. Quando a turma é enviada para dentro do jogo, porém, Eric enfatiza que o único jeito de eles retornarem para o mundo real é vencendo os dez níveis do jogo.

POR QUÊ????!!! Até onde a “ciência” do filme explica, não há nada que difira a turma da caixa de biscoitos de antes! Apenas apertem o botão de volta e bum, todos estão bem no mundo real! Pra quê fazê-los passar por dez níveis de inferno que podem muito bem mata-los, como o filme enfatiza?! Por acaso a caixa de biscoitos Scooby venceu o jogo antes de ser enviada de volta?! O QUE É QUE MUDOU QUE NÃO PERCEBI?!
Ah, e como se isso não fosse uma pérola, ouça isso: Os quatro restantes no laboratório (Professor Einstein, Eric, o outro aluno e um segurança que até esse ponto meio que apenas está no filme) sabem que um deles apertou o botão e propositalmente enviou a turma para dentro do jogo. Em qualquer boa história de mistério, esse é o momento em que eles começam a acusar uns aos outros e, em meio à histeria resultante, tentam utilizar a lógica para resolver o mistério. Agatha Christie enlouqueceria com as possibilidades de um cenário desses.
E o que é que esses quatro elementos fazem? Apenas ficam sentados observando através de um monitor a turma jogar o jogo, sem fazer ou falar nada. Porque afinal, seria um crime se alguém que não seja da turma decifrasse o mistério!

            Mas quem se importa, a turma finalmente está dentro do jogo! Hooray! Finalmente teremos a turma passando pelos mais diversos ambientes possíveis: Roma Antiga, Japão Feudal, Ártico, Aquelamalditafasepréhistóricaquenojogomefezmorrerpracaceteequeeuatéhojeodeio... E com cinquenta minutos restantes, dá tempo mais que o suficiente para explorar bem o potencial de aventura e comédia de cada uma das fases...
            Isso é, a menos que o orçamento do filme esgote, forçando os animadores do filme a mostrar apenas as primeiras três fases, então se apressar pelas seis seguintes em uma montagem musical (cuja música, aliás, é muito ruim. Tipo, nível canção da Madonna em “007 – Um Novo Dia Para Morrer” de ruim), e ao final passar um terço do filme na última fase, ambientada no mesmo parque de diversões que aparece obrigatoriamente em toda temporada de Scooby-Doo.

            Mas que roubo! Por acaso os animadores do filme seriam demitidos se ultrapassassem a marca dos 80 minutos?!
            E porque eu digo que essa escolha foi devido a falta de dinheiro? Porque após os créditos, temos cinco minutos da turma falando quais foram seus momentos favoritos do filme (olha a carícia ao ego aí)... Sendo que nenhum deles aparece no filme! Eles apenas falam diante de artes conceituais que, caso tivessem sido aprovadas, teriam com certeza feito o filme bem mais interessante: Fred lutando como gladiador, a turma treinando mamutes como montaria, explorando o Polo Norte (quem sabe com direito àquele gelo derrapante do capeta que tem no jogo), até mesmo Salsicha e Scooby invocando montanhas de comida da internet para o mundo real (e Professor Einstein ainda diz que seus estudantes receberão US$ 250 mil por essa invenção?! Eles podem acabar com a fome mundial! O Nobel é o mínimo que merecem!). É como se o diretor de “A Caçada Virtual” estivesse ao final do filme dizendo para os produtores “É, olha todas essas cenas que poderíamos ter de fato mostrado no filme, mas vocês não quiseram nos dar o dinheiro pra isso!”.

            Então é, “Scooby-Doo e a Caçada Virtual” possui bastante coisa ruinzinha, entre um vilão pouco ameaçador, um início lento demais, inconsistências narrativas, cenas pelas quais os animadores tiveram que passar apressados e um monte de potencial desperdiçado. Mas então, o que o filme tem a oferecer de bom?
Bem... Posso resumir em uma única imagem:

            Eis o que é possivelmente a parte mais famosa desse filme: Quando a turma, no último nível, se encontra com seus “eus” do jogo, que, como Eric não os via há bastante tempo, se parecem com a turma dos episódios originais. Isso é, exceto Salsicha, que por algum motivo está usando a camiseta vermelha que ele vestiu entre 1985 e 1988. Mas fora isso, tudo está lá: As meias longas de Velma, o vestido roxo com meia-calça de Daphne, o lenço no pescoço de Fred... Até mesmo os olhos deles são animados à moda antiga, apenas pontos pretos sobre fundo cor-de-pele.
            E como se isso não fosse nostalgia o bastante, quando eles enfim chegam ao parque de diversões onde ocorre o último confronto deles com o Vírus Fantasma, este tem uma surpresinha para eles...


            Sim: Dr. Creeper, o Monstro de Piche, o Jaguaro e outros dos monstros mais famosos da franquia reaparecem nesse filme. A turma, lógico, os reconhece e aponta seus nomes para aqueles do público que não lembram (embora a turma virtual por algum motivo não faça ideia de quem eles são, mas a essa altura essa é a menor das inconsistências).
            Para os fãs de Scooby-Doo, a mão da nostalgia chega a tremer diante de tudo isso.
            Maaaaaaassss... Nada que eu não possa reclamar com meus incríveis poderes de levar Scooby-Doo a sério.
            Além de demorarmos 50 minutos para ver esse encontro entre a nova e a velha turma, é de se imaginar que a reação deles ao se verem seria um pouco mais... Mais. Mais dramática ou mais cômica, dependendo das preferências do fã, mas ao menos se esperaria alguma grande reação. O que temos, então? A turma fazendo exatamente o que ela sempre faz desde 1969, apenas dessa vez em dobro: O dobro de Salsicha comendo, o dobro de Scooby roubando comida, o dobro de Velma procurando seus óculos... Nada que não tivéssemos visto antes em proporção normal.

            Ao final, embora essa conclusão já esteja se repetindo nessas críticas de Scooby-Doo, “A Caçada Virtual” não é um filme realmente ruim: A nostalgia de ver a turma antiga e alguns monstros clássicos talvez valha a pena, embora só dure uns vinte minutos, e ao final a ideia de transportar a turma para dentro de um mundo virtual é algo interessante e até então inovador na franquia (embora eu me pergunte de que “Tron”, quero dizer, filme, eles tiraram essa ideia), e com certeza deixará as crianças entretidas. Mas o filme é tão enrolado em algumas partes que não importam, tão apressado em outras que importam sim, e o potencial desperdiçado é tão grande, que eu continuo achando que o jogo, apesar de ter seus próprios problemas, era bem mais divertido.
            Enfim, “A Caçada Virtual” não é de todo mal. Mas querem saber o que em Scooby-Doo realmente é de todo mal? Bem... Isso ficará para minha próxima (e última!) postagem de Scooby-Doo. Ah, sim, ficará...


Avaliação: Não vale a pena. Tentem achar o jogo ao invés do filme.

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