Finalmente.
Após 204 episódios, 6 especiais de TV e 4 filmes lançados direto em vídeo,
finalmente chegou o momento aonde eu queria chegar assistindo Scooby-Doo. Foi
uma longa jornada, com seus momentos bons e seus momentos muito, muito
dolorosos. Vi o surgimento de Scooby-Doo, o estabelecimento de sua tão
conhecida fórmula e as várias tentativas (com diferentes graus de sucesso) de
desconstrui-la. Vi a turma enfrentar monstros de mentira e de verdade. Vi
episódios que duravam meia hora, uma hora, meia hora de novo, sete minutos,
quinze minutos, então meia hora mais uma vez (de vez em quando)... Tudo isso me
preparou para o verdadeiro horror que me esperava ao final dessa jornada: O
filme live-action do Scooby-Doo,
lançado em 2002 e dirigido por ninguém menos que Raja Gosnell, o mesmo “gênio”
responsável por filmes como “Esqueceram de Mim 3” e “Vovó...Zona”.
Eu
sei que foram feitas novas temporadas e novos filmes de Scooby-Doo depois
desse, mas me desculpem, irei parar por aqui. Por quê? Porque esse é o primeiro
momento em Scooby-Doo em que eu disse a mim mesmo “Ok, não tem como
possivelmente salvar isso”. Mas, como vocês devem ter visto pelo título, irei
ver aqui se existe sim uma salvação, como algo que você assiste quando... Bem,
quando você e seus amigos estão bêbados e sem nada para fazer e querem tirar um
pouco de sarro de um filme. Vamos terminar logo com isso então.
O
filme começa de maneira semelhante a “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”, com a
turma resolvendo um caso sobre o qual nunca mais ouviremos pelo resto do filme,
apenas para estabelecer que sim, esse é um filme do Scooby-Doo. Infelizmente,
essa é a única semelhança entre esse filme e aquele outro muito, muito melhor. E
demora apenas cinco minutos para termos a primeira amostra do horror de
“Scooby-Doo”:
Apenas
quem, como e qual foi a ideia por trás de contratar Pamela Anderson para fazer
uma ponta nesse filme?! A menos que essa seja uma sátira àquela época de
Scooby-Doo nos anos 70 em que todo episódio tinha uma celebridade que ajudava a
turma, como Sandy Duncan e Phyllis Diller (não se preocupem, eu também tive que
pesquisar no google quem elas eram), não há qualquer outra desculpa para me
fazer lembrar da época em que Pamela Anderson era popular. Aliás, cadê ela
atualmente? (por favor, não me respondam!)
É
nessa hora também que somos introduzidos ao grupo de jovens atores que
interpretam a turma: Sarah Michelle Gellar (mais conhecida como Buffy, a
Caçadora de Vampiros) como Daphne, Linda Cardellini como Velma, Freddie Prinze,
Jr. como Fred e Matthew Lillard como Salsicha. Scooby é interpretado por uma
animação computadorizada malfeita.
No
geral, eles não atuam tão mal quanto se esperaria: Gellar e Lillard fazem um
bom papel como Daphne e Salsicha (pelo menos, tão bom quanto o roteiro lhes
permite, mas chegaremos nisso daqui a pouco), e Cardellini não cheira nem fede
como Velma. É Freddie Prinze Jr. como Fred que me incomoda. A impressão que dá
é que só o contrataram como uma piada já que ele tem o mesmo nome que Fred,
porque ele consegue de alguma forma tornar o personagem mais sem graça da turma
(querem ver o quão sem graça Fred é? Ele é o único da turma cujos pais até
então nunca apareceram na série) ainda
mais sem graça. Eles ao menos tentam torna-lo mais egocêntrico do que ele
era na série, mas isso só o torna irritante. A vontade que tenho vendo-o como
Fred é de que alguém lhe dê um soco na cara. O que, aliás, Scooby faz em uma
cena.
Voltando
à história, a turma tem uma briga e se separa. Não, não estou pulando nada.
Sete minutos após o filme começar, eles brigam entre si e cada um segue seu próprio
caminho. Sete minutos! E eu sei que eles já se separaram antes na franquia
(cof, “Ilha dos Zumbis”, cof), e nem se viu direito a separação, mas há uma
diferença aí: Antes, quando eles se separaram foi porque eles simplesmente
depois de tantos anos se cansaram de resolver os mesmos mistérios de novo e de
novo e decidiram pacificamente cada um seguir seu próprio rumo. Em “Scooby-Doo”, porém, eles se separam
brigados. Isso talvez fosse interessante, se ao menos víssemos mais do que sete
minutos desses personagens para entendermos o porquê deles agora de repente se
odiarem! Pura e simplesmente não dá para se envolver emocionalmente com esse
drama deles em tão pouco tempo! Já imaginaram se em “Os Vingadores” os heróis
brigassem e se separassem apenas sete minutos depois de se reunirem? Seria
súbito, sem sentido e um tanto ridículo, não? É a mesma coisa aqui!
De
qualquer forma, o filme então pula para dois anos depois, quando vemos a van
soltando uma fumaça um tanto suspeita enquanto toca a canção reggae “Pass the
Dutchie” no fundo e Salsicha diz para Scooby que “essa coisa é das boas”.
Lógico
que logo se descobre que ele só está falando de comida, mas acho que todos já
somos grandinhos o suficiente para saber qual era a intenção dos criadores do
filme com essa cena. Durante anos fãs têm levando adiante a teoria/piada/fato
de que Salsicha é maconheiro (vamos lá, as gírias hippies e a constante fome
dele não enganam ninguém!), e pessoalmente eu acharia engraçado o filme tirar
um pouco de sarro disso... Se a piada terminasse apenas por aí! Mas não. O
filme insiste em fazer referências a maconha de tanto em tanto. Não demora
muito para perder a graça. Aliás, é possível marcar o exato instante em que a
piada perde a graça: Quando o interesse amoroso de Salsicha aparece.
Sim,
Salsicha tem um interesse amoroso nesse filme. Mais um. Dessa vez interpretada
por Isla Fisher. O que isso tem a ver com maconha, vocês talvez me perguntem? O
nome dela é Mary Jane. Não estou brincando: Mary Jane. E o roteiro insiste que Salsicha fale que esse é o
nome favorito dele. Sintam-se livres para não rirem.
Quanto
à história. Salsicha e Scooby recebem um convite para irem a um parque de
diversões em uma ilha chamado “Spooky Island”. Chegando no aeroporto, Salsicha
descobre que, olha só, a turma toda recebeu o mesmo convite. Obviamente alguém
quer que eles resolvam algum mistério juntos, mas mesmo após dois anos
separados para esfriar a cabeça, eles continuam brigados (de novo, sete
minutos, não me importo!), mas decidem todos ir à ilha mesmo assim.
Assim
eles pegam o avião para Spooky Island. Scooby, sendo um cachorro, acaba ficando
no compartimento de bagagem...
Ou
podemos adicionar “Scooby computadorizado fantasiado de Vovozona” à lista de supostas
piadas que esse filme não precisava ter. Eu sei que nas animações Scooby faz
isso o tempo todo, mas eu não sei, eu nunca achei que “Oh meu deus, um cachorro
fantasiado de mulher!” fosse engraçado por si só. E se não funcionava em uma
animação, definitivamente não funciona em um filme live-action.
Chegando
ao parque de diversões, a turma é recebida pelo seu proprietário, Emile
Mondavarious, interpretado por...
Mr.
Bean?! Mas você é ótimo! Especialmente quando não fala! Apenas o que você está
fazendo então nesse filme?!
Curiosamente,
há uma explicação para isso, mas chegaremos a ela mais tarde.
A
turma decide então se espalhar em busca de pistas. “Coincidentemente”, todos
acabam sendo levados ao mesmo lugar, um castelo onde aparentemente tudo tenta
mata-los. E por mais que as ameaças pela quais eles passam soem legais, como Fred
e Velma presos em um corredor cheio de pêndulos em forma de machado ou Salsicha
e Scooby sendo sufocados por salsichas de plástico, por algum motivo sempre há
aquela sensação presente de que tudo isso seria mais plausível em uma animação.
Mas
ei, o que é que esse filme tem então para nos oferecer que soe mais plausível
em uma versão live-action de
Scooby-Doo?
Salsicha
e Scooby... Tendo uma competição de peidos... Algo que nunca fizeram em momento
algum da série, mas o filme achou que seria tããããão engraçado aqui...
Sabem...
Após piadas de maconha, piadas de Scooby de vestido e piadas de peido, eu estou
muito perto de perder a paciência com esse filme. Já está mais que na hora de
jogarem alguma piada realmente engraçada! Ou se não conseguirem, ao menos
joguem algum drama que não dure apenas sete minutos!
Bom,
podemos ter Velma conhecendo um cara que parece se interessar por ela. Meio do
nada, mas posso aceitar se isso for bem desenvolvido e levar a algum drama
interessante, ou pelo menos alguma situação cômica...
(O
cara aparece no filme por apenas cinco minutos. Nem chegamos a saber seu nome.
Não vale a pena mostrar uma imagem dele)
Mas
que droga! Nem isso o filme vai me dar?! Quem é que vai aparecer agora de
repente no filme?!
AHNÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ok,
para quem não sabe quem é essa abominação aí em cima... Esse é Scooby-Loo, o
sobrinho de Scooby-Doo que o acompanhou por algum motivo durante os anos 80. E
essa criatura... É... Muito... Irritante! O
tempo todo se achando melhor que todo mundo, o tempo todo se metendo em
confusão por causa disso, o tempo todo atrapalhando o episódio e falando as mesmas frases de efeito irritantes na
mesma vozinha irritante... E o pior de tudo: Sem nunca, absolutamente nunca se
desculpar ou se redimir de qualquer forma pelo que quer que ele tenha feito de errado.
Sempre que ele quase matava a turma em suas tentativas de ser melhor que todo
mundo, ele apenas desconsiderava o fato e seguia fazendo exatamente as mesmas
coisas episódio após episódio! Ele é tão irritante que a única, absolutamente a única vez que ele chorou em um episódio, eu
fiquei feliz, sorrindo para a tela e dizendo “Sim, Scooby-Loo, alimente-me com
suas lágrimas!”. Não estou brincando, esse monstro acabou me transformando em um monstro! E eu não sou o único que o odeia:
Muitos o consideram a criatura animada mais irritante de todos os tempos.
Ok,
a criatura tradicionalmente animada
mais irritante de todos os tempos. Embora nesse filme ele seja computadorizado,
então nem isso esse filhote de demônio consegue ser.
E
aliás, lembram-se quando disse que há uma explicação para Mr. Bean estar nesse
filme? Bem, originalmente Mondavarious era para ser interpretado por Tim Curry,
o Dr. Frank-N-Furter de “Rocky Horror Picture Show”, que há muito tempo é um fã
assumido de Scooby-Doo, porém assim que leu o roteiro ele se recusou a fazer o
papel, porque (e não estou brincando aqui, ele já admitiu isso!) viu que
Scooby-Loo estaria no filme. Meus parabéns, Scooby-Loo: Por sua causa, um dos
personagens principais desse filme acabou sendo interpretado por ator cujo
maior talento é não falar.
Mas
ei, talvez esse filme o torne finalmente simpático e engraçado...
Ou
ele pode mijar em Sarah Michelle Gellar (uma imagem que vou poupa-los de verem). Claro! O que mais os criadores desse
filme podem fazer com Buffy, a Caçadora de Vampiros?! Fazer com que sem nenhum
motivo as almas de Fred e Daphne troquem de corpos e ele fique então olhando “seus”
peitos?!
Eu
me arrependo de ter perguntado.
Aliás,
uma coisa que acabei reparando agora: Entre piadas de maconha, competições de
peidos, Scooby-Loo mijando em Daphne e Fred olhando o corpo nu dela... O humor
desse filme não apela muito para crianças, não é mesmo? Até aí eu até entenderia,
“Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis” foi um filme que também apelou mais para
adultos fãs de Scooby-Doo do que para crianças, embora essas também possam
assistir e gostar, mas “Scooby-Doo” tampouco apela para esses, pois o humor do
filme é idiota demais para adultos com bom gosto. Esse filme consegue a façanha
de ter um humor que não apela nem para as crianças que foram assisti-lo nem
para os pais que elas arrastaram junto! Ao invés disso, temos o meio-termo
estúpido que críticos gostam de chamar de “juvenil”.
Não
me entendam mal, eu gosto de humor juvenil, assim como muita gente. Mas eis a
questão: O bom humor juvenil é feito quando ele apela exatamente para o público
para o qual ele é voltado: Adolescentes idiotas (ou seja, qualquer adolescente)
e jovens que acabaram de fumar uns becks, porque ambos são capazes de rir de
absolutamente qualquer coisa, seja uma competição de peidos ou um filhote de
cachorro mijando em alguém. Agora me digam uma coisa: Por acaso Scooby-Doo em
algum momento foi uma franquia voltada para adolescentes idiotas e/ou jovens
que acabaram de fumar uns becks (o Salsicha não conta!)? Não, né? Eis o grande
problema de “Scooby-Doo”: Seu humor juvenil não é intencional. Ele surgiu
apenas numa tentativa fracassada de seus criadores em apelar ao mesmo tempo
para crianças e adultos. O resultado é que ele acaba não sendo totalmente juvenil, ainda tendo alguns
momentos que tentam fazer um drama infantil à
la “Sessão da Tarde” (E com drama, eu quero dizer que de tanto em tanto
toca aquele típico solo de piano tão meloso que literalmente me dá enjoo toda
vez que ouço). Quando aos adolescentes e jovens, esses possuem coisas bem
melhores para assistir caso queiram uma dose de humor realmente juvenil. E é por isso que minha avaliação final é:
Avaliação: Não vale a zoeira. Aliás, não
vale nada. Evitem esse filme a qualquer custo.
Ufa, pronto! Acabei de assistir Scooby-Doo.
Depois de tanto tempo... Chega a dar certo vazio, não? Com que outra franquia icônica
que surgiu nos anos 60 e que terá um novo filme saindo esse ano irei então
preenchê-lo?
Hmmmmmmmmmm...