segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Vale a Zoeira? Scooby-Doo

            Finalmente. Após 204 episódios, 6 especiais de TV e 4 filmes lançados direto em vídeo, finalmente chegou o momento aonde eu queria chegar assistindo Scooby-Doo. Foi uma longa jornada, com seus momentos bons e seus momentos muito, muito dolorosos. Vi o surgimento de Scooby-Doo, o estabelecimento de sua tão conhecida fórmula e as várias tentativas (com diferentes graus de sucesso) de desconstrui-la. Vi a turma enfrentar monstros de mentira e de verdade. Vi episódios que duravam meia hora, uma hora, meia hora de novo, sete minutos, quinze minutos, então meia hora mais uma vez (de vez em quando)... Tudo isso me preparou para o verdadeiro horror que me esperava ao final dessa jornada: O filme live-action do Scooby-Doo, lançado em 2002 e dirigido por ninguém menos que Raja Gosnell, o mesmo “gênio” responsável por filmes como “Esqueceram de Mim 3” e “Vovó...Zona”.

            Eu sei que foram feitas novas temporadas e novos filmes de Scooby-Doo depois desse, mas me desculpem, irei parar por aqui. Por quê? Porque esse é o primeiro momento em Scooby-Doo em que eu disse a mim mesmo “Ok, não tem como possivelmente salvar isso”. Mas, como vocês devem ter visto pelo título, irei ver aqui se existe sim uma salvação, como algo que você assiste quando... Bem, quando você e seus amigos estão bêbados e sem nada para fazer e querem tirar um pouco de sarro de um filme. Vamos terminar logo com isso então.
            O filme começa de maneira semelhante a “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”, com a turma resolvendo um caso sobre o qual nunca mais ouviremos pelo resto do filme, apenas para estabelecer que sim, esse é um filme do Scooby-Doo. Infelizmente, essa é a única semelhança entre esse filme e aquele outro muito, muito melhor. E demora apenas cinco minutos para termos a primeira amostra do horror de “Scooby-Doo”:

            Apenas quem, como e qual foi a ideia por trás de contratar Pamela Anderson para fazer uma ponta nesse filme?! A menos que essa seja uma sátira àquela época de Scooby-Doo nos anos 70 em que todo episódio tinha uma celebridade que ajudava a turma, como Sandy Duncan e Phyllis Diller (não se preocupem, eu também tive que pesquisar no google quem elas eram), não há qualquer outra desculpa para me fazer lembrar da época em que Pamela Anderson era popular. Aliás, cadê ela atualmente? (por favor, não me respondam!)
            É nessa hora também que somos introduzidos ao grupo de jovens atores que interpretam a turma: Sarah Michelle Gellar (mais conhecida como Buffy, a Caçadora de Vampiros) como Daphne, Linda Cardellini como Velma, Freddie Prinze, Jr. como Fred e Matthew Lillard como Salsicha. Scooby é interpretado por uma animação computadorizada malfeita.

            No geral, eles não atuam tão mal quanto se esperaria: Gellar e Lillard fazem um bom papel como Daphne e Salsicha (pelo menos, tão bom quanto o roteiro lhes permite, mas chegaremos nisso daqui a pouco), e Cardellini não cheira nem fede como Velma. É Freddie Prinze Jr. como Fred que me incomoda. A impressão que dá é que só o contrataram como uma piada já que ele tem o mesmo nome que Fred, porque ele consegue de alguma forma tornar o personagem mais sem graça da turma (querem ver o quão sem graça Fred é? Ele é o único da turma cujos pais até então nunca apareceram na série) ainda mais sem graça. Eles ao menos tentam torna-lo mais egocêntrico do que ele era na série, mas isso só o torna irritante. A vontade que tenho vendo-o como Fred é de que alguém lhe dê um soco na cara. O que, aliás, Scooby faz em uma cena.
            Voltando à história, a turma tem uma briga e se separa. Não, não estou pulando nada. Sete minutos após o filme começar, eles brigam entre si e cada um segue seu próprio caminho. Sete minutos! E eu sei que eles já se separaram antes na franquia (cof, “Ilha dos Zumbis”, cof), e nem se viu direito a separação, mas há uma diferença aí: Antes, quando eles se separaram foi porque eles simplesmente depois de tantos anos se cansaram de resolver os mesmos mistérios de novo e de novo e decidiram pacificamente cada um seguir seu próprio rumo.  Em “Scooby-Doo”, porém, eles se separam brigados. Isso talvez fosse interessante, se ao menos víssemos mais do que sete minutos desses personagens para entendermos o porquê deles agora de repente se odiarem! Pura e simplesmente não dá para se envolver emocionalmente com esse drama deles em tão pouco tempo! Já imaginaram se em “Os Vingadores” os heróis brigassem e se separassem apenas sete minutos depois de se reunirem? Seria súbito, sem sentido e um tanto ridículo, não? É a mesma coisa aqui!
            De qualquer forma, o filme então pula para dois anos depois, quando vemos a van soltando uma fumaça um tanto suspeita enquanto toca a canção reggae “Pass the Dutchie” no fundo e Salsicha diz para Scooby que “essa coisa é das boas”.

            Lógico que logo se descobre que ele só está falando de comida, mas acho que todos já somos grandinhos o suficiente para saber qual era a intenção dos criadores do filme com essa cena. Durante anos fãs têm levando adiante a teoria/piada/fato de que Salsicha é maconheiro (vamos lá, as gírias hippies e a constante fome dele não enganam ninguém!), e pessoalmente eu acharia engraçado o filme tirar um pouco de sarro disso... Se a piada terminasse apenas por aí! Mas não. O filme insiste em fazer referências a maconha de tanto em tanto. Não demora muito para perder a graça. Aliás, é possível marcar o exato instante em que a piada perde a graça: Quando o interesse amoroso de Salsicha aparece.
            Sim, Salsicha tem um interesse amoroso nesse filme. Mais um. Dessa vez interpretada por Isla Fisher. O que isso tem a ver com maconha, vocês talvez me perguntem? O nome dela é Mary Jane. Não estou brincando: Mary Jane. E o roteiro insiste que Salsicha fale que esse é o nome favorito dele. Sintam-se livres para não rirem.

            Quanto à história. Salsicha e Scooby recebem um convite para irem a um parque de diversões em uma ilha chamado “Spooky Island”. Chegando no aeroporto, Salsicha descobre que, olha só, a turma toda recebeu o mesmo convite. Obviamente alguém quer que eles resolvam algum mistério juntos, mas mesmo após dois anos separados para esfriar a cabeça, eles continuam brigados (de novo, sete minutos, não me importo!), mas decidem todos ir à ilha mesmo assim.
            Assim eles pegam o avião para Spooky Island. Scooby, sendo um cachorro, acaba ficando no compartimento de bagagem...

            Ou podemos adicionar “Scooby computadorizado fantasiado de Vovozona” à lista de supostas piadas que esse filme não precisava ter. Eu sei que nas animações Scooby faz isso o tempo todo, mas eu não sei, eu nunca achei que “Oh meu deus, um cachorro fantasiado de mulher!” fosse engraçado por si só. E se não funcionava em uma animação, definitivamente não funciona em um filme live-action.
            Chegando ao parque de diversões, a turma é recebida pelo seu proprietário, Emile Mondavarious, interpretado por...

            Mr. Bean?! Mas você é ótimo! Especialmente quando não fala! Apenas o que você está fazendo então nesse filme?!
            Curiosamente, há uma explicação para isso, mas chegaremos a ela mais tarde.
            A turma decide então se espalhar em busca de pistas. “Coincidentemente”, todos acabam sendo levados ao mesmo lugar, um castelo onde aparentemente tudo tenta mata-los. E por mais que as ameaças pela quais eles passam soem legais, como Fred e Velma presos em um corredor cheio de pêndulos em forma de machado ou Salsicha e Scooby sendo sufocados por salsichas de plástico, por algum motivo sempre há aquela sensação presente de que tudo isso seria mais plausível em uma animação.

            Mas ei, o que é que esse filme tem então para nos oferecer que soe mais plausível em uma versão live-action de Scooby-Doo?

            Salsicha e Scooby... Tendo uma competição de peidos... Algo que nunca fizeram em momento algum da série, mas o filme achou que seria tããããão engraçado aqui...
            Sabem... Após piadas de maconha, piadas de Scooby de vestido e piadas de peido, eu estou muito perto de perder a paciência com esse filme. Já está mais que na hora de jogarem alguma piada realmente engraçada! Ou se não conseguirem, ao menos joguem algum drama que não dure apenas sete minutos!
            Bom, podemos ter Velma conhecendo um cara que parece se interessar por ela. Meio do nada, mas posso aceitar se isso for bem desenvolvido e levar a algum drama interessante, ou pelo menos alguma situação cômica...
            (O cara aparece no filme por apenas cinco minutos. Nem chegamos a saber seu nome. Não vale a pena mostrar uma imagem dele)
            Mas que droga! Nem isso o filme vai me dar?! Quem é que vai aparecer agora de repente no filme?!

AHNÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
            Ok, para quem não sabe quem é essa abominação aí em cima... Esse é Scooby-Loo, o sobrinho de Scooby-Doo que o acompanhou por algum motivo durante os anos 80. E essa criatura... É... Muito... Irritante!   O tempo todo se achando melhor que todo mundo, o tempo todo se metendo em confusão por causa disso, o tempo todo atrapalhando o episódio e falando as mesmas frases de efeito irritantes na mesma vozinha irritante... E o pior de tudo: Sem nunca, absolutamente nunca se desculpar ou se redimir de qualquer forma pelo que quer que ele tenha feito de errado. Sempre que ele quase matava a turma em suas tentativas de ser melhor que todo mundo, ele apenas desconsiderava o fato e seguia fazendo exatamente as mesmas coisas episódio após episódio! Ele é tão irritante que a única, absolutamente a única vez que ele chorou em um episódio, eu fiquei feliz, sorrindo para a tela e dizendo “Sim, Scooby-Loo, alimente-me com suas lágrimas!”. Não estou brincando, esse monstro acabou me transformando em um monstro! E eu não sou o único que o odeia: Muitos o consideram a criatura animada mais irritante de todos os tempos.

            Ok, a criatura tradicionalmente animada mais irritante de todos os tempos. Embora nesse filme ele seja computadorizado, então nem isso esse filhote de demônio consegue ser.
            E aliás, lembram-se quando disse que há uma explicação para Mr. Bean estar nesse filme? Bem, originalmente Mondavarious era para ser interpretado por Tim Curry, o Dr. Frank-N-Furter de “Rocky Horror Picture Show”, que há muito tempo é um fã assumido de Scooby-Doo, porém assim que leu o roteiro ele se recusou a fazer o papel, porque (e não estou brincando aqui, ele já admitiu isso!) viu que Scooby-Loo estaria no filme. Meus parabéns, Scooby-Loo: Por sua causa, um dos personagens principais desse filme acabou sendo interpretado por ator cujo maior talento é não falar.
            Mas ei, talvez esse filme o torne finalmente simpático e engraçado...
            Ou ele pode mijar em Sarah Michelle Gellar (uma imagem que vou poupa-los de verem). Claro! O que mais os criadores desse filme podem fazer com Buffy, a Caçadora de Vampiros?! Fazer com que sem nenhum motivo as almas de Fred e Daphne troquem de corpos e ele fique então olhando “seus” peitos?!

            Eu me arrependo de ter perguntado.
            Aliás, uma coisa que acabei reparando agora: Entre piadas de maconha, competições de peidos, Scooby-Loo mijando em Daphne e Fred olhando o corpo nu dela... O humor desse filme não apela muito para crianças, não é mesmo? Até aí eu até entenderia, “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis” foi um filme que também apelou mais para adultos fãs de Scooby-Doo do que para crianças, embora essas também possam assistir e gostar, mas “Scooby-Doo” tampouco apela para esses, pois o humor do filme é idiota demais para adultos com bom gosto. Esse filme consegue a façanha de ter um humor que não apela nem para as crianças que foram assisti-lo nem para os pais que elas arrastaram junto! Ao invés disso, temos o meio-termo estúpido que críticos gostam de chamar de “juvenil”.

            Não me entendam mal, eu gosto de humor juvenil, assim como muita gente. Mas eis a questão: O bom humor juvenil é feito quando ele apela exatamente para o público para o qual ele é voltado: Adolescentes idiotas (ou seja, qualquer adolescente) e jovens que acabaram de fumar uns becks, porque ambos são capazes de rir de absolutamente qualquer coisa, seja uma competição de peidos ou um filhote de cachorro mijando em alguém. Agora me digam uma coisa: Por acaso Scooby-Doo em algum momento foi uma franquia voltada para adolescentes idiotas e/ou jovens que acabaram de fumar uns becks (o Salsicha não conta!)? Não, né? Eis o grande problema de “Scooby-Doo”: Seu humor juvenil não é intencional. Ele surgiu apenas numa tentativa fracassada de seus criadores em apelar ao mesmo tempo para crianças e adultos. O resultado é que ele acaba não sendo totalmente juvenil, ainda tendo alguns momentos que tentam fazer um drama infantil à la “Sessão da Tarde” (E com drama, eu quero dizer que de tanto em tanto toca aquele típico solo de piano tão meloso que literalmente me dá enjoo toda vez que ouço). Quando aos adolescentes e jovens, esses possuem coisas bem melhores para assistir caso queiram uma dose de humor realmente juvenil. E é por isso que minha avaliação final é:

Avaliação: Não vale a zoeira. Aliás, não vale nada. Evitem esse filme a qualquer custo.

Ufa, pronto! Acabei de assistir Scooby-Doo. Depois de tanto tempo... Chega a dar certo vazio, não? Com que outra franquia icônica que surgiu nos anos 60 e que terá um novo filme saindo esse ano irei então preenchê-lo?


            Hmmmmmmmmmm...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Scooby-Doo e a Caçada Virtual


            Eu sei, eu sei, duas críticas de Scooby-Doo seguidas?! Não é um pouco demais?
            Para ser bem sincero, eu nem ia falar desse filme ainda. Estava pensando em agora fazer uma homenagem ao recém-falecido diretor italiano Ettore Scola, mas como não consegui achar em lugar nenhum o filme dele que eu ia criticar, tive que ficar com o que estava em seguida na minha agenda: “Scooby-Doo e a Caçada Virtual”.

            Ao contrário dos filmes anteriores do Scooby-Doo, esse é um que tem um pequeno significado pessoal para mim. Isso em nada quer dizer que serei bonzinho com ele.
            Quando criança, meu primeiro console de videogame foi um Playstation 1. Entre os jogos que eu tinha para jogar, um deles era justamente o jogo “Scooby-Doo and the Cyber Chase”. E como me lembro desse jogo! Provavelmente foi um dos jogos que mais joguei no meu Playstation, e quando criança eu o achava super difícil, nunca tendo chegado à fase final naquela época (muitos anos mais tarde eu o jogaria de novo e terminaria ele em três dias). Os gráficos eram tão simples quanto os de um jogo de Playstation 1 podem ser, e a história também: A turma fica presa no ciberespaço e precisa derrotar um vilão chamado Vírus Fantasma, passando por vários níveis com as mais diversas ambientações: Japão feudal, Roma antiga, Egito, por aí vai.

            Então eis minha surpresa quando entro numa locadora e vejo que existe um filme do jogo!
            Ok, o filme não é baseado no jogo, mas sim o contrário, mas acreditem, poderia muito bem ser assim, pois o enredo de “Caçada Virtual” implora para ser adaptado para vídeo game!

            O filme começa no laboratório de alguma universidade, onde dois alunos, orientados por um professor cuja aparência é uma imitação tão descarada de Albert Einstein que irei chama-lo assim a partir de agora, estão testando uma nova invenção deles: Um laser capaz de transmitir objetos reais para o ciberespaço. Como exemplo, Professor Einstein usa mais tarde uma caixa de biscoitos Scooby. Guardem isso na cabeça, por favor.
            Como se uma ideia dessas já não soasse ridícula, ouça isso: O filme até tenta dar uma explicação científica para isso funcionar. Sem brincadeira. Não estou desmerecendo a inteligência por trás de Scooby-Doo, mas vocês realmente acham que essa é a franquia infantil que possui a resposta científica para teletransportar objetos e pessoas para uma realidade virtual?!

                De qualquer forma, tudo vai bem com Professor Einstein e seus alunos, até que, de alguma forma, um vírus de computador, apelidado de Vírus Fantasma, faz o caminho inverso, saindo do computador e entrando no mundo real.
            Quanto à aparência do Vírus Fantasma... Embora ele pareça legal, honestamente eu não o acho muito ameaçador. Não sei, talvez seja a cara dele. Por algum motivo, o Vírus Fantasma me lembra do Jim Carrey se fosse pintado de azul.


            Voltando à história, é nesse momento que a Fred, Daphne, Velma, Salsicha e Scooby chegam à universidade. Aparentemente, um amigo deles, Eric, é um dos alunos de Professor Einstein, e junto com o laser está também desenvolvendo um jogo inspirado nas aventuras da turma. Ao se encontrarem, porém, Professor Einstein pede para eles ajudarem a encontrar o Vírus Fantasma, que fugiu para algum lugar escondido no campus, e que segundo o professor é vulnerável a ímãs por motivos de... Hã... Ciência.
            Você talvez esteja pensando “Tá, mas quando é que a turma entrará no ciberespaço para enfrentar o vírus lá, como no jogo?”. Bem, a verdade é que... Eles não entram no ciberespaço até a marca dos vinte minutos. E o filme tem só 73 minutos de duração, com créditos e tudo!
            O que temos até então? Temos uma longa... Looonga... Loooooonga perseguição pelo campus.

            E por que ela parece tão longa, você talvez me pergunte? Porque o Vírus Fantasma aparentemente aprendeu a ser um vilão imponente na mesma escola em que o Dr. Destino do novo filme do Quarteto Fantástico: Exiba alguns poderes realmente ameaçadores no começo, apenas para nunca mais mostra-los no resto do filme. Sério! No começo do filme, vemos o Vírus Fantasma destruir equipamentos eletrônicos, dar vida a cabos que agarram as pessoas, e todo tipo de coisa que apenas a virada do milênio poderia imaginar que um vírus de computador é capaz de fazer.
            E o que acontece? O Vírus Fantasma só apanha praticamente a perseguição inteira! Tem até uma hora em que Salsicha e Scooby colam eletrodos nele para lhe dar choques. Se nos basearmos no começo do filme, quem devia estar dando choques com eletrodos era o vírus, não Salsicha! Caramba, é possível esse monstro ser mais burro?

            Sim. Sim, é possível.
            Finalmente, após vinte minutos dessa história, alguma figura misteriosa aperta o botão que ativa o laser e envia a turma para dentro do jogo de Eric. De alguma forma não explicada, o Vírus Fantasma é enviado para lá junto. E lembram-se que eu avisei para guardarem aquela caixa de biscoitos Scooby na cabeça? Bem, no começo do filme, Professor Einstein era capaz de trazê-la de volta para o mundo real apenas apertando um botão, sem quaisquer danos que sejam. Quando a turma é enviada para dentro do jogo, porém, Eric enfatiza que o único jeito de eles retornarem para o mundo real é vencendo os dez níveis do jogo.

POR QUÊ????!!! Até onde a “ciência” do filme explica, não há nada que difira a turma da caixa de biscoitos de antes! Apenas apertem o botão de volta e bum, todos estão bem no mundo real! Pra quê fazê-los passar por dez níveis de inferno que podem muito bem mata-los, como o filme enfatiza?! Por acaso a caixa de biscoitos Scooby venceu o jogo antes de ser enviada de volta?! O QUE É QUE MUDOU QUE NÃO PERCEBI?!
Ah, e como se isso não fosse uma pérola, ouça isso: Os quatro restantes no laboratório (Professor Einstein, Eric, o outro aluno e um segurança que até esse ponto meio que apenas está no filme) sabem que um deles apertou o botão e propositalmente enviou a turma para dentro do jogo. Em qualquer boa história de mistério, esse é o momento em que eles começam a acusar uns aos outros e, em meio à histeria resultante, tentam utilizar a lógica para resolver o mistério. Agatha Christie enlouqueceria com as possibilidades de um cenário desses.
E o que é que esses quatro elementos fazem? Apenas ficam sentados observando através de um monitor a turma jogar o jogo, sem fazer ou falar nada. Porque afinal, seria um crime se alguém que não seja da turma decifrasse o mistério!

            Mas quem se importa, a turma finalmente está dentro do jogo! Hooray! Finalmente teremos a turma passando pelos mais diversos ambientes possíveis: Roma Antiga, Japão Feudal, Ártico, Aquelamalditafasepréhistóricaquenojogomefezmorrerpracaceteequeeuatéhojeodeio... E com cinquenta minutos restantes, dá tempo mais que o suficiente para explorar bem o potencial de aventura e comédia de cada uma das fases...
            Isso é, a menos que o orçamento do filme esgote, forçando os animadores do filme a mostrar apenas as primeiras três fases, então se apressar pelas seis seguintes em uma montagem musical (cuja música, aliás, é muito ruim. Tipo, nível canção da Madonna em “007 – Um Novo Dia Para Morrer” de ruim), e ao final passar um terço do filme na última fase, ambientada no mesmo parque de diversões que aparece obrigatoriamente em toda temporada de Scooby-Doo.

            Mas que roubo! Por acaso os animadores do filme seriam demitidos se ultrapassassem a marca dos 80 minutos?!
            E porque eu digo que essa escolha foi devido a falta de dinheiro? Porque após os créditos, temos cinco minutos da turma falando quais foram seus momentos favoritos do filme (olha a carícia ao ego aí)... Sendo que nenhum deles aparece no filme! Eles apenas falam diante de artes conceituais que, caso tivessem sido aprovadas, teriam com certeza feito o filme bem mais interessante: Fred lutando como gladiador, a turma treinando mamutes como montaria, explorando o Polo Norte (quem sabe com direito àquele gelo derrapante do capeta que tem no jogo), até mesmo Salsicha e Scooby invocando montanhas de comida da internet para o mundo real (e Professor Einstein ainda diz que seus estudantes receberão US$ 250 mil por essa invenção?! Eles podem acabar com a fome mundial! O Nobel é o mínimo que merecem!). É como se o diretor de “A Caçada Virtual” estivesse ao final do filme dizendo para os produtores “É, olha todas essas cenas que poderíamos ter de fato mostrado no filme, mas vocês não quiseram nos dar o dinheiro pra isso!”.

            Então é, “Scooby-Doo e a Caçada Virtual” possui bastante coisa ruinzinha, entre um vilão pouco ameaçador, um início lento demais, inconsistências narrativas, cenas pelas quais os animadores tiveram que passar apressados e um monte de potencial desperdiçado. Mas então, o que o filme tem a oferecer de bom?
Bem... Posso resumir em uma única imagem:

            Eis o que é possivelmente a parte mais famosa desse filme: Quando a turma, no último nível, se encontra com seus “eus” do jogo, que, como Eric não os via há bastante tempo, se parecem com a turma dos episódios originais. Isso é, exceto Salsicha, que por algum motivo está usando a camiseta vermelha que ele vestiu entre 1985 e 1988. Mas fora isso, tudo está lá: As meias longas de Velma, o vestido roxo com meia-calça de Daphne, o lenço no pescoço de Fred... Até mesmo os olhos deles são animados à moda antiga, apenas pontos pretos sobre fundo cor-de-pele.
            E como se isso não fosse nostalgia o bastante, quando eles enfim chegam ao parque de diversões onde ocorre o último confronto deles com o Vírus Fantasma, este tem uma surpresinha para eles...


            Sim: Dr. Creeper, o Monstro de Piche, o Jaguaro e outros dos monstros mais famosos da franquia reaparecem nesse filme. A turma, lógico, os reconhece e aponta seus nomes para aqueles do público que não lembram (embora a turma virtual por algum motivo não faça ideia de quem eles são, mas a essa altura essa é a menor das inconsistências).
            Para os fãs de Scooby-Doo, a mão da nostalgia chega a tremer diante de tudo isso.
            Maaaaaaassss... Nada que eu não possa reclamar com meus incríveis poderes de levar Scooby-Doo a sério.
            Além de demorarmos 50 minutos para ver esse encontro entre a nova e a velha turma, é de se imaginar que a reação deles ao se verem seria um pouco mais... Mais. Mais dramática ou mais cômica, dependendo das preferências do fã, mas ao menos se esperaria alguma grande reação. O que temos, então? A turma fazendo exatamente o que ela sempre faz desde 1969, apenas dessa vez em dobro: O dobro de Salsicha comendo, o dobro de Scooby roubando comida, o dobro de Velma procurando seus óculos... Nada que não tivéssemos visto antes em proporção normal.

            Ao final, embora essa conclusão já esteja se repetindo nessas críticas de Scooby-Doo, “A Caçada Virtual” não é um filme realmente ruim: A nostalgia de ver a turma antiga e alguns monstros clássicos talvez valha a pena, embora só dure uns vinte minutos, e ao final a ideia de transportar a turma para dentro de um mundo virtual é algo interessante e até então inovador na franquia (embora eu me pergunte de que “Tron”, quero dizer, filme, eles tiraram essa ideia), e com certeza deixará as crianças entretidas. Mas o filme é tão enrolado em algumas partes que não importam, tão apressado em outras que importam sim, e o potencial desperdiçado é tão grande, que eu continuo achando que o jogo, apesar de ter seus próprios problemas, era bem mais divertido.
            Enfim, “A Caçada Virtual” não é de todo mal. Mas querem saber o que em Scooby-Doo realmente é de todo mal? Bem... Isso ficará para minha próxima (e última!) postagem de Scooby-Doo. Ah, sim, ficará...


Avaliação: Não vale a pena. Tentem achar o jogo ao invés do filme.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Scooby-Doo e os Invasores Alienígenas

            O mundo está sossegado? Nenhum ator morreu? Posso continuar com minhas críticas de Scooby-Doo? Ótimo.
            Como vimos, “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis” foi praticamente um marco na história da franquia, algo completamente diferente de tudo que foi feito antes; “Scooby-Doo e o Fantasma da Bruxa” tentou seguir nessa corrente, mas acabou não tendo o mesmo impacto do filme anterior; agora chegamos ao momento em que os responsáveis pela franquia decidiram voltar às velhas rotas, com “Scooby-Doo e os Invasores Alienígenas”, lançado em 2000.

            Eu não sei, desde que eu vi que esse seria o próximo filme que eu iria assistir já imaginei que não seria tão assustador quanto os anteriores. Isso porque, embora admito que as possibilidades do que se fazer em um filme com alienígenas são quase infinitas, nunca os considerei como um bom material de terror. Zumbis e bruxas podem ser assustadores, sim, mas isso porque eles possuem certo elemento de desconhecido e invencível neles que os torna ameaçadores. Alienígenas, porém, podem ser feios, sim, mas pessoalmente acho difícil torna-los de fato assustadores. A menos que o seu alienígena se pareça com isso

            Evite aborda-los como algo supostamente assustador.
            Mas, talvez, “Os Invasores Alienígenas” nem quisesse ser um filme tão assustador quanto os dois anteriores em primeiro lugar. Pelo que o tom do filme sugere, parece que a ideia dos criadores dele era não aproxima-lo dos dois filmes anteriores da franquia, mas sim de suas origens mais simples e cômicas, no final da década de 60. É como se eles dissessem “Bom, já enfatizamos nosso ponto com os outros filmes, Scooby-Doo pode ser sério e assustador. Agora vamos fazer algo parecido com o que as crianças se lembram de ter assistido na TV”. Há vários pontos que me fazem suspeitar que foi isso que aconteceu, mas vou apontando eles ao longo dessa crítica.

            O filme começa da mesma forma como a maioria dos episódios originais de Scooby-Doo começavam: Com a turma viajando pelos Estados Unidos em sua van sem nenhum destino certo. Imagino que no final dos anos 60 isso fazia sentido, já que era para eles serem meio hippies, mas admito que atualmente isso soa meio estranho.
            De qualquer forma, Salsicha está dirigindo a van no meio de uma tempestade de areia e, sem conseguir ver bem a estrada, acaba tomando a rota errada. Assim que ele faz isso, uma nave espacial aparece do nada sobre eles, a luz cegando Salsicha e fazendo-o bater em um cacto. Com a van quebrada, Fred, Daphne e Velma vão para uma pequena cidade próxima para procurar ajuda, enquanto Salsicha e Scooby ficam perto da van. Nisso, eles avistam uma lebre-antílope (claro, por que não?), que rouba um de seus biscoitos Scooby. Salsicha e Scooby correm atrás dela, mas ela entra em uma caverna com um brilho misterioso dentro. E não se preocupe quanto à lebre-antílope: Ela só aparece mais uma vez na última cena. Porque os criadores do filme insistiram em fazer Salsicha e Scooby irem atrás de uma criatura folclórica ao invés de uma lebre comum, se a importância para o enredo seria praticamente a mesma, eu não sei.
            O que eu sei é que mal eles encontram a caverna aparecem atrás deles dois alienígenas. Hora da perseguição enquanto a música-tema toca!

            Salsicha e Scooby conseguem alcançar o resto da turma em uma cidadezinha e os avisam sobre os alienígenas. De fato, os habitantes da cidade parecem habituados com os relatos de pessoas que dizem tê-los visto, desde que o governo americano instalou perto dali uma base com satélites para busca de formas de vida alienígena (eu não vejo nada de suspeito nisso, e você?).
            Sem conseguir alguém que concerte a van até o dia seguinte, a turma decide passar a noite na cidadezinha e aproveitar para investigar o mistério. Salsicha e Scooby, porém, são sequestrados pelos alienígenas. Após mais uma perseguição, eles acordam na manhã seguinte no meio do deserto sem qualquer lembrança de como foram parar lá. Mas eis que aparece para ajuda-los Crystal, uma garota que se diz fotógrafa, acompanhada de sua cadela Amber. Como é de se imaginar, Salsicha e Scooby imediatamente se apaixonam por elas.

            Como imagino que dê pra ver, Crystal se veste como uma hippie. E não só se veste, mas fala como uma hippie também. Supõe-se que isso seja uma homenagem ao fato de Scooby-Doo ter sido criado nos anos 60 (embora, para o crédito do filme, a explicação que ele dá no final para o porquê de ela se vestir assim é um tanto engraçada). Uma evidência que aponta para isso é quando Salsicha, uma vez de volta à turma, tem um delírio/número musical em que ele se imagina casando com Crystal e “enchendo a casa deles com coisas de 1969”, como ele canta. Não importa se combinava com a rima ou não, é um tanto quanto uma “coincidência” terem escolhido justamente o ano em que estreou a primeira temporada de Scooby-Doo.

            De todos os filmes de Scooby-Doo que assisti até agora, esse é provavelmente o que mais se parece com um episódio da série original estendido para um longa-metragem: Você tem o lugarzinho no meio do nada e cheio de gente esquisita que serve de ambientação, a turma que do nada esbarra com um mistério, as provas jogadas aqui e ali que levam à solução, o objeto ou local que parece ser de grande interesse do monstro, tudo isso misturado com perseguições, piadas, comida e música. Junte a isso alguns sustos leves, nada assustador demais, e um desenvolvimento de personagens que começa e termina dentro do filme, nada que afete a turma permanentemente, e temos a proposta de “Scooby-Doo e os Invasores Alienígenas”. Pessoalmente, não é o caminho que eu seguiria, mas de certa forma entendo o que os criadores do filme queriam com isso: Por anos Scooby-Doo foi se afastando cada vez mais de sua proposta original, com os responsáveis pela franquia jogando coisas diferentes para chamar a atenção dos novos públicos que surgiam. Portanto, na hora de idealizar esse filme, eles decidiram não fazer mais coisas novas e ao invés disso criar algo que homenageasse as velhas rotas. Sendo assim, evitarei fazer comparações com os dois filmes anteriores, e tratarei “Os Invasores Alienígenas” mais como algo em si.
            Pois bem, a proposta está dada. Mas, como eu já disse antes, o que realmente importa em um filme não é a proposta em si, mas como ela é feita. O que fazem então em “Os Invasores Alienígenas”?

            Em primeiro lugar, mais uma vez temos a tão elogiada (pelo menos por mim) animação do estúdio japonês Mook Animation, porém dessa vez com um toque a mais: Essa é a primeira animação de Scooby-Doo a usar imagens computadorizadas. Não é muita coisa, elas só são usadas durante os créditos iniciais e em alguns efeitos de luz aqui e ali durante o filme, mas ainda assim dá um pequeno toque especial na animação.
            É quase impossível falar desse filme sem discutir dois de seus elementos principais: Suas canções e Crystal. Falemos primeiro sobre as canções. E eu sei que prometi não comparar esse filme com os dois anteriores, mas a verdade é que comparadas às canções deles... As de “Os Invasores Alienígenas” são um tanto ruinzinhas. Sim, vocês leram certo: Apesar de tudo que falei mal sobre as Hex Girls em “O Fantasma da Bruxa”, elas ainda eram melhores do que as canções desse filme. Por quê? Porque ao menos eu ainda me lembro das canções delas! Eu me lembro das canções das Hex Girls em “O Fantasma da Bruxa”, eu me lembro das canções de “Ilha dos Zumbis”... Assim que terminei de assistir “Os Invasores Alienígenas” tentei cantarolar as canções do filme e não me veio nada à cabeça! O máximo que me lembro são trechos da letra da canção que Salsicha canta em seu delírio sobre Crystal, mas mesmo assim não me pergunte qual era a melodia. A coisa que mais me lembro dessa cena é Fred vendo a cara de viajado de Salsicha e cheirando a garrafa d’água dele (eu vi o que você fez aí, filme!).
E aliás, mesmo a letra dessa canção, eu provavelmente só me lembro devido ao quão melosa e brega ela é. Não basta Salsicha cantar sobre se casar com Crystal e ter uma casa com ela cheia de coisas hippies, ele tem que ir além e cantar sobre ter um filho com ela! Nessa hora eu simplesmente olhei para a tela e disse “Ok, cara, relaxe aí, você só trocou uma conversinha de cinco minutos com essa garota, não é pra tanto!”.

                E então temos Crystal. Pessoalmente, eu não tenho nada contra ela como uma personagem, aliás acho que ela em si é uma das melhores coisas do filme, mas me incomodou um pouco o quanto que o filme tenta fazer você dizer “Oh meu deus, Salsicha tem um interesse amoroso!”. Grande coisa: Salsicha já teve uma namorada antes na franquia. Duas vezes, aliás! Uma sem nome especificado em um episódio de 1982

                E outra, Googie (não estou brincando, esse era o nome dela), no especial de TV “Scooby-Doo e o Lobisomem”, de 1988.

            Eu não estava brincando quando disse que assisti tudo de Scooby-Doo.
            A questão é, o simples fato de Salsicha ter um interesse amoroso não é algo tão grandioso assim.

            Agora, o que efetivamente fazem com o romance entre Salsicha e Crystal... Tem seus altos e baixos.
            Começando com os altos. Mesmo não sendo algo totalmente original, o interesse amoroso de Salsicha dessa vez soa sério. Por mais meloso e brega que seja, a química entre eles nesse filme pelo menos parece legítima. E eu realmente não quero estragar o final do filme, mas digamos que a conclusão que o filme arruma para esse romance entre eles é legitimamente triste.
            Agora quanto aos baixos, o principal deles sendo: O romance entre eles se distancia muito do enredo principal. Fisicamente, aliás: Em um dado momento, Salsicha e Scooby simplesmente largam Fred, Daphne e Velma na cidade e vão com Crystal e Amber tirar fotos no deserto. E a turma só se reúne de volta perto do final do filme! É como se fossem dois filmes completamente diferentes um do outro: Um sobre Fred, Daphne e Velma resolvendo um mistério envolvendo alienígenas e outro sobre esse romance entre Salsicha e Crystal. Eu não sou nenhum roteirista profissional, mas não seria mais interessante manter todos juntos ao longo do filme, para mostrar a interação entre os personagens e a evolução do romance à medida que eles vão solucionando o mistério principal? Fica a dica aí.

            Outro grande problema desse romance é que, bem... Ao final, depois que você digere o filme, você percebe que esse romance todo não afeta muito o enredo. Seria perfeitamente possível tira-lo do filme e teríamos um típico episódio de Scooby-Doo, apenas talvez um pouco mais longo. Quem já assistiu esse filme e gostou vai provavelmente ficar enfurecido comigo por dizer isso, ainda mais considerando a surpresa que o enredo reserva para o final envolvendo Crystal. E eu entendo isso, eu próprio gostei dessa surpresa: Foi algo diferente e com um teor dramático pouco visto na franquia. Mas tire ele, e o que você terá é um típico episódio de Scooby-Doo, nada mais, nada menos. O filme até mesmo arruma uma solução no último minuto para que as crianças não terminem o filme chorando (solução, aliás, que eu pessoalmente odiei. Não irei revelar muito, mas digamos que ela faz Salsicha e Scooby parecerem completos insensíveis!).
            Aliás, eis também um dos grandes problemas desse filme: Ele claramente é voltado para as crianças e para as crianças apenas. Em uma época pós desenhos como Animaniacs e a série animada do Batman, que revelaram aos produtores de desenhos animados que estes podiam ser assistidos e apreciados igualmente por crianças e adultos, “Os Invasores Alienígenas” soa como um certo retrocesso. Ainda há uma ou outra piada que adultos entenderão mais que crianças, mas no geral a impressão que dá é que o tempo todo havia algum chato que observava o processo de produção do filme e dizia “Não, não, pense nas crianças, isso aí é pesado demais para elas!”. Assim os sustos são leves, o romance é leve, o humor é leve, até mesmo os alienígenas não são tão ameaçadores assim. Aliás, os guardas da base do governo conseguem ser mais ameaçadores que os alienígenas! Pelo menos eles portam armas!

            E nisso temos o seu maior problema: Em sua tentativa de ser algo mais infantil, seu mistério se tornou absurdamente previsível. Qualquer adulto é capaz de prever seu desfecho há anos-luz de distância (não houve intenção de fazer trocadilho com o tema do filme). Talvez algumas das dicas não sejam tão óbvias para crianças, mas adultos com certeza verão e dirão “puxa, me pergunto se...”.
            Concluindo, não é exatamente um filme ruim, e está longe de ser a pior coisa que a franquia já ofereceu. Mas “Os Invasores Alienígenas” definitivamente apela mais para crianças do que para adultos atrás de um pouco de nostalgia. Para esse segundo caso, definitivamente há maneiras melhores de satisfazê-los.


Avaliação: Não vale a pena

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Duro de Matar

Ok, 2016, qual é a sua?
            Primeiro você mata David Bowie aos 69 anos, e então apenas quatro dias depois você mata Alan Rickman, também aos 69?!

            Bom, imagino que terei que então fazer uma homenagem minha a ele, não? Ainda mais considerando que ele foi uma figura tão marcante na infância (e na juventude. E na vida) de tanta gente da minha geração, com sua interpretação perfeita de Severus Snape nos filmes do Harry Potter. E, a princípio, eu até ia homenageá-lo com uma crítica de algum dos filmes da série, mas aí pensei que não. Convencional demais. A essa altura, todo mundo já deve saber que ele atuou em Harry Potter, e quase todo mundo deve ama-lo por isso. Vamos então analisar um filme em que ele atuou sobre o qual as redes sociais estão falando menos, mas ao mesmo tempo não desconhecido a ponto de me chamarem de hipster por critica-lo.
            Vamos analisar sua primeira aparição no cinema, em 1988, como o vilão em “Duro de Matar”.

            Eu sei, eu também fiquei surpreso quando soube disso! Não que Alan Rickman não tivesse experiência o suficiente como ator até então, mas ele só havia atuado em peças de teatro, séries e um ou outro filme de televisão para a BBC. Esse foi seu primeiro filme lançado nos cinemas. E que jeito de começar sua carreira: No que é considerado um dos melhores filmes de ação (e, por muitos, um dos melhores filmes de natal também) de todos os tempos.
            A história é simples e, após esse filme, repetida infinitamente por Hollywood apenas com atores e cenários diferentes, mas caso você não a conheça ainda, o filme começa no dia de natal, com o policial nova-iorquino John McClane (interpretado por Bruce Willis) viajando para Los Angeles para tentar se reconciliar com a esposa, Holly (interpretada por Bonnie Bedelia), que se mudou para lá com os filhos após receber uma oferta de emprego que ela não podia recusar, se me permitem usar essa referência.
            Aliás, reparem bem nos primeiros quinze minutos do filme, pois mesmo que um dia façam um remake, eles nunca serão repetidos: Entre McClane portando uma arma dentro de um avião, pessoas fumando em espaços fechados e uma grávida bebendo álcool, essa introdução está cheia de coisas que jamais voltarão a serem legalizadas. Não sei se isso é algo bom ou ruim, mas apenas mostra o quão anos 80 esse filme é.

            De qualquer forma, ao chegar no prédio aonde sua esposa trabalha, e no qual está havendo uma celebração de natal entre os funcionários, McClane não fica nem um pouco satisfeito ao ver que sua esposa está usando seu sobrenome de solteira para os negócios. Mas, justamente após uma discussão, enquanto John está no banheiro se arrumando e Holly vai falar algo para os outros funcionários a pedido de seu chefe, um grupo do que parecem ser terroristas invade o prédio.

                O grupo logo se revela sendo na verdade um grupo de ex-terroristas alemães orientais liderados por Hans Gruber, interpretado pelo homenageado de hoje Alan Rickman, que abandonaram a militância e agora decidiram roubar os US$ 640 milhões (na época em que isso valia muitíssimo mais do que hoje) que o chefe japonês de Holly (interpretado por James Shigeta) guarda em um cofre. Mas isso não os torna menos perigosos, devido ao seu poderoso arsenal e ao seu profissionalismo.
            McClane, estando no banheiro no momento em que o grupo de Gruber ataca o andar em que a festa está ocorrendo, consegue passar despercebido por eles e escapa para o andar superior.

            Assim começa uma sequência de ação de quase duas horas, com McClane, armado apenas com o que quer que lhe apareça, eliminando os terroristas um a um, enquanto a polícia é incapaz de invadir o prédio devido ao arsenal e ao senso estratégico de Gruber.
            É até curioso como um filme com tantos problemas de produção conseguiu ser consagrado como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Para começar, Bruce Willis nem era para interpretar o papel principal. Ele só foi contratado porque o estúdio estava desesperado pois ninguém aceitava o papel, então tiveram que se contentar com um ator cujo papel mais famoso até então era em uma série de comédia. Além disso, o roteiro ainda não estava finalizado quando as filmagens começaram, e muitas cenas foram adicionadas ao roteiro na última hora. Como se não bastasse, as próprias filmagens foram complicadas, com o prédio da 20th Century Fox que serve de cenário ainda no final de sua construção, e houve vários problemas de licença que limitaram o tempo de filmagem de algumas cenas. Assim, alguns dos momentos mais importantes do filme tiveram que ser filmados com os cenários e o tempo que havia à disposição. Muitas dessas cenas chegaram a ser filmadas em apenas uma tomada.
            E ainda assim, com tudo isso dando errado... “Duro de Matar” conseguiu ser um filme de ação praticamente perfeito.

            Esse é provavelmente um dos poucos casos no cinema em que a lei de que “a necessidade é a mãe da invenção” deu certo. Com todas as dificuldades, os envolvidos foram arrumando maneiras criativas de fazer o filme, em um trabalho conjunto que envolveu não apenas o diretor e os roteiristas, mas também os atores e até mesmo os dublês. O prédio não está completo? Faremos uma cena de ação em um andar ainda sendo construído então! O cabo em que o dublê de Bruce Willis estava pendurado rompeu-se e ele só se salvou no último segundo? Perfeito, criaremos um contexto e colocaremos isso no filme! O que, Alan Rickman é capaz de imitar um sotaque americano? Por que não disse antes?! Faremos com que na primeira vez em que Gruber e McClane se encontram o terrorista finge ser um dos reféns!
            Falando assim parece que “Duro de Matar” foi feito aos trancos e barrancos, e de certa forma talvez tenha sido feito, mas o segredo é que não apenas o resultado final não mostra nada disso, já que todos estavam decididos a fazer o filme dar certo, como também todas essas cenas idealizadas a partir da necessidade adicionam certo elemento de originalidade ao filme. São coisas que na época ninguém havia feito antes porque ninguém havia visto o porquê de fazê-las, e que ao serem imitadas mais tarde parecem descartáveis, pois já não possuem mais aquele espírito de necessidade, de algo que precisava ser feito para o filme ser bom e bem-sucedido.

                Em segundo lugar, há o seu roteiro. Embora sua história seja tão simples quanto uma história de ação/aventura dos anos 80 pode ser (quase não dá para acreditar que o filme é baseado em um livro!), “Duro de Matar” possui aquilo que histórias de ação/aventura dos anos 80 possuem melhor do que as de qualquer década anterior ou posterior: Diálogos e frases de efeito. Quase toda fala do filme fica guardada na memória depois que se assiste ele, e raramente elas são sérias ou com alto teor filosófico; não, são diálogos descontraídos, com os personagens fazendo piada das situações em que estão ou apenas sendo intimidadores uns com os outros. Isso atinge o auge em McClane, que fala uma pérola atrás da outra. E o melhor: Não são pérolas soltas, que qualquer um poderia dizer, mas sim frases que combinam com o tipo de coisa que alguém falaria em sua situação. Ele é um policial, sim, ele é durão, sim, mas ao mesmo tempo ele é só um cara que foi pego de surpresa no lugar errado e na hora errada, é só quer ver tudo resolvido logo e ir pra casa com sua esposa. Tanto que, quando ele explode um andar do prédio e o chefe dos policiais fala pelo rádio para ele parar de agir por conta própria porque seus homens já estão cobertos de vidro devido à explosão, McClane apenas olha para o vazio e responde irritado “Vidro?! Quem tá se f#d&ndo para vidro?!” (mal sabia ele...).

            Mas tudo isso não tornaria o filme “um filme de ação praticamente perfeito” se não tivesse uma das melhores duplas herói-vilão do gênero. E é o que o filme tem, na forma de John McClane e Hans Gruber.
Primeiro McClane. Em uma época em que quase todo herói de ação parecia um monstro de esteroides indestrutível, Bruce Willis é o exato oposto: ele tem seus músculos, sim, mas nada que o faça parecer um super-homem. No máximo, ele se parece, fala e age como aquele seu tio que faz academia. Para “piorar” seu visual, durante quase o filme inteiro ele está descalço e vestindo uma regata. Ótimo: Agora ele parece aquele seu tio farofeiro. E como se não bastasse, ele não possui nem metade do equipamento necessário para sobreviver à situação em que se meteu. Tudo o que ele possui ele pilha do terrorista que ele acabou de matar e se mostra apenas o suficiente para matar e pilhar o próximo. Pensando assim, o filme lembra muito um daqueles jogos de videogame de sobrevivência, não?
Mas eis aí o apelo de McClane: Entre os heróis de ação que se vê por aí, ele é um dos que mais gera uma empatia com o público. Você vê ele e vê alguém parecido com alguém que você conhece, em uma situação parecida com a que esse alguém provavelmente estaria se tivesse que se defender sozinho de um grupo de terroristas, tendo que usar as mesmas coisas que ele usaria. Talvez então você responda “Mas esse alguém se sobrevivesse acabaria todo estropiado!”. Bom, McClane também. Como eu disse, ele não é um super-homem indestrutível. Aliás, ele apanha MUITO ao longo do filme. Ao final você se pergunta como é que ele ainda está de pé! De certa forma, pensando assim Bruce Willis acabou sendo meio que o ator certo para o papel. Quero dizer, vocês acham que eu seria capaz de dizer tudo isso se McClane fosse interpretado por, digamos, Arnold Schwarzengger?

            E então temos Alan Rickman como Hans Gruber. Eu não sei como ele foi ser aceito para o papel (ainda mais que ele exigia o ator falar em alemão em algumas cenas e na época Rickamn não sabia falar a língua), mas oh... Ele é uma preciosidade.

            Se você quer saber como é que Rickman foi parar interpretando Snape em Harry Potter, assista essa estreia dele no cinema e você entenderá. Gruber é praticamente um Snape de terno e pistola na mão (e que não se revela bonzinho no final): Frio, sério, inteligente, profissional. E ele não precisa falar nada para sabermos disso: É só olhar para o rosto de Rickman que você é capaz de deduzir tudo. Agora isso sim que é atuação!
            E como se não bastasse, Gruber é um vilão tão legal! O quão legal ele é? Sua música-tema é a 9ª Sinfonia de Beethoven. E como Stanley Kubrick nos ensinou, qualquer vilão fica melhor se Beethoven toca quando ele aparece.
            Mas não é só por isso que ele é legal. Ele não apenas parece frio e inteligente, mas ele de fato é isso. Ele é aquele tipo de vilão que você sabe que morrerá se não jogar de acordo com as regras dele. E mesmo se jogar, há boas chances de que ele te mate também caso ache necessário. Ele pode não pegar em uma pistola e sair matando todo mundo como McClane, mas ele é de fato um “cérebro do mal” e sabe disso, transmitindo perfeita autoconfiança de que seu plano elaborado e minucioso irá funcionar. O que, de fato, funcionaria, se McClane não fosse tão esperto quanto ele. E isso torna o filme bem mais interessante: Não são apenas dois caras que saem brigando sem qualquer estratégia envolvida; é um jogo mental, uma partida de xadrez com metralhadoras, cada um elaborando uma estratégia para passar a perna no outro.
            Sei que irei perder muitas amizades dizendo isso, mas... Acho que Hans Grubber é um vilão tão bom quanto Snape. Talvez... Melhor? Fica a seu julgamento.

            Droga, 2016! Pra que matar um ator como esse?! Ele podia ter interpretado tantos vilões legais a mais!


Avaliação: Vale muito a pena