quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Vale a Zoeira: A Hora do Pesadelo 5: O Maior Horror de Freddy

            Ok, eu adoro como a versão brasileira resolveu mudar o subtítulo de “A Hora do Pesadelo 5” de “The Dream Child” (algo como “O Filho dos Sonhos” em inglês) para “O Maior Horror de Freddy”... Porém ainda assim manter o pôster original. Tipo, você ouve “O Maior Horror de Freddy” e imagina uma cena grotesca, digna dos seus piores pesadelos, mas quando vai ver o pôster você tem... Um carrinho de bebê. A menos que isso seja “O Bebê de Rosemary”, eu não consigo imaginar um carrinho de bebê como “o maior horror” de coisa alguma.
Resultado de imagem para A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child
                Então... É. Freddy Krueger volta do inferno. De novo. Bom pra ele, mal pra gente. Aliás, dessa vez mal pra gente mesmo. Isso porque esse é considerado o “ponto sem retorno” da franquia, quando o público já estava mais que cansado dessa história de “A Hora do Pesadelo”, o que se pôde notar pela sua bilheteria, que caiu pela metade em relação a “O Mestre dos Sonhos”; e, como se não bastasse, aparentemente os envolvidos na produção da franquia também já estavam mais que cansados dela, pois “O Maior Horror de Freddy” é infinitamente pior que seus antecessores: “Guerreiros” e “Mestre” podem ter sido bestas em diferentes níveis, mas ao menos tinham alguma inteligência... Inteligência a qual inexiste em “O Maior Horror”, que ao invés disso é apenas mais uma de tantas continuações de terror ruins sem nenhuma qualidade que as redima.
            Ou será que não? Bom, vamos analisar então se ao menos “O Maior Horror de Freddy” vale ser assistido apenas pra ser zoado naqueles dias em que você reúne seus amigos pra assistir um filme ruim... Não? Ninguém aí faz isso? Droga, vou ter que assistir esse filme sozinho mesmo então.
Resultado de imagem para A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child
            De um jeito ou de outro, Freddy está de volta... E assim que ele aparece em cena percebe-se que nem mesmo o departamento de maquiagem e figurino se importa mais com a franquia! Não só a maquiagem de Robert Englund deu uma notável piorada, com Freddy Krueger parecendo ter envelhecido trinta anos entre filmes; como também na cena de seu retorno ele aparece com uma óbvia prótese no braço esquerdo que o deixa muito maior que o direito, por motivos de... Nenhum motivo, sendo bem sincero! Está certo que a versão que assisti é a que foi originalmente lançada nos cinemas, que teve vários cortes para diminuir a violência a fim de conseguir uma censura R (algo como uma censura 16 anos nos EUA) ao invés de X (tipo uma censura 18, geralmente associada a filmes pornôs, mas se estendendo também àqueles com violência extrema); ainda assim, duvido que qualquer corte feito explique porque raios Krueger aparece com um braço mais longo que o outro.
            Ah, e adivinhem só: Esse braço esquerdo mais longo nunca mais aparece no resto do filme! A única explicação que consigo imaginar para isso é que a prótese quebrou durante as filmagens e, quando o diretor foi pedir por uma nova ao chefe do departamento de efeitos especiais, este apenas disse, de saco cheio: “Meu caro... Os jovens que forem idiotas o bastante para irem ao cinema assistir este filme não vão se importar com esses detalhes. Você quer realmente nos dar esse trabalho extra?”.
Resultado de imagem para A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child
            Mas enfim, como é que Freddy volta? Sinceramente... Eu não faço a menor ideia. Não, sério, se você achava que Freddy ressuscitar através de um cachorro que o desenterra e mija fogo em cima dele era confuso, dessa vez temos algo envolvendo Alice engravidando de... Hum... Gostosão. Pode soar feio eu como crítico esquecer o nome dos personagens, mas cá entre nós, após quatro continuações você também não se lembrará de todo mundo que aparece e muito menos se importará com isso.
            De qualquer forma, Alice engravida de Gostosão (aliás, o “momento em que ela engravida” é literalmente a primeira cena do filme. Eu sei que filmes slasher gostam de apelar para o sexo tanto quanto para o terror, mas isso é ridículo!). E aparentemente o plano de Freddy é entrar nos sonhos do feto e alimentá-lo com as almas de suas vítimas, para assim lentamente possuí-lo e, quando ele nascer, voltar ao mundo dos vivos através dele. Ah, e tem algo no meio desse plano envolvendo a mãe de Freddy Krueger. Se isso parece não ter nada a ver com tudo isso e parece ter sido lembrado na última hora, é porque é exatamente esse o caso.
            Sabem, a essa altura estou cansado dessas explicações fajutas para Freddy voltar do inferno. Por que ele não simplesmente volta com a única explicação sendo o fato de ser uma continuação?!... Pensando bem, acho que devo tomar cuidado com o que desejo, não?
Resultado de imagem para A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child
            De qualquer forma, isso levanta tantas questões! Em primeiro lugar, como é que Freddy é capaz de invadir os sonhos do feto, se no momento em que a história se passa este está na sua primeira semana, a ponto de Alice inicialmente nem saber que está grávida?! Eu não sou nenhum especialista no assunto, então me corrijam no que eu estiver errado... Mas para qualquer criatura ser capaz de sonhar, seu cérebro precisa estar desenvolvido a um nível minimamente avançado, nível ao qual fetos não chegam antes do segundo trimestre de gravidez. E embora eu tenha lido isso na internet, que está longe de ser uma fonte confiável e que não era tão desenvolvida quando este filme foi lançado (1989, pra ser exato), havia na época uma fonte bem mais confiável: A BIBLIOTECA! E está certo que demora mais tempo para se descobrir coisas numa biblioteca do que na internet, e que a produção deste filme foi bem apressada para que ele fosse lançado apenas um ano após “O Mestre dos Sonhos”; mas tenho certeza que um ou até dois dias pesquisando na biblioteca antes de escrever o roteiro não atrasariam a produção tanto assim!
            E em segundo lugar, há a questão de o filme afirmar que fetos passam 70% do tempo em um estado de sonho, porcentagem que aumenta à medida que a gravidez evolui. E embora, pelo que pesquisei, esses dados estejam razoavelmente corretos (pelo menos o suficiente em termos de Hollywood), há um grande problema nisso: Um ponto importante do enredo é que, devido aos poderes de sonhos de Alice, e pelo feto ser basicamente uma parte dela, ela por vezes ao longo do filme se vê de repente no mundo dos sonhos, apesar de estar acordada. Até aí é uma ideia interessante, se não fosse por um problema: Se o feto está sonhando 70% do tempo, Alice não deveria passar esse mesmo tempo no mundo dos sonhos, ao invés de ser jogada nele apenas de vez em quando?! Vamos lá, filme, se você for criar uma lógica para seu enredo, ao menos faça o favor de se manter fiel a ela!
Resultado de imagem para A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child
            A menos... Que de fato 70% do filme seja na verdade apenas um sonho de Alice, e que “O Maior Horror” tenha decidido voltar às rotas do “A Hora do Pesadelo” original e deixar ambíguo o que é sonho e o que é real... Hum... Nah, quem estou querendo enganar? A essa altura qualquer senso de sutileza nessa franquia está perdido, e é tarde demais para se pensar em trazê-lo de volta.
            Mas além de um enredo pra lá de confuso e cheio de furos, o que mais “O Maior Horror de Freddy” tem a oferecer? Sendo bem sincero... Nada de muito especial. Embora, sendo também sincero, ninguém deve estar surpreso com isso.
Resultado de imagem para A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child
            Primeiro, as sequências de sonhos, que geralmente são as melhores partes dos filmes de “A Hora do Pesadelo”, aqui podem ser chamadas de tudo, menos de interessantes, variando entre “sonhos dentro de sonhos” (insira aqui sua piada de “A Origem”) que servem apenas para expor pontos importantes do enredo de forma incoerente; sonhos tão estranhos que te deixam desorientado, como um em que Alice anda por um hospital abandonado, e de repente é uma paciente a caminho da sala de parto, e antes que você possa se perguntar o que está acontecendo ela é uma médica observando o nascimento de Freddy Krueger (que por algum motivo já nasce deformado), para logo em seguida sair pela porta da sala de parto e entrar na igreja onde rolou o clímax de “O Mestre dos Sonhos” (já está tonto com tanta informação? Eis como é assistir essa cena); outro sonho que implora por uma piada envolvendo o clipe de “Take on me” (admitam, vocês sabem do que estou falando); e um clímax no qual a igreja se transforma em um quadro de M.C. Escher, com direito a todo tipo de ângulo de câmera estranho para te deixar ainda mais tonto (imagino que seja a tática do “se o público tá tonto, ele não vai questionar as incoerências do filme”), Freddy Krueger se escondendo dentro de Alice e aos poucos saindo dela (acreditem, é ainda mais nojento do que soa), e tudo isso enquanto uma das amigas de Alice procura pelos restos mortais da mãe de Krueger.
            Ok, tenho que admitir: Esse é o clímax mais estranho da franquia até agora. E olha que já tivemos Freddy Krueger em chamas estrangulando uma mulher enquanto ela dorme e em seguida desaparecendo com ela dentro da cama; Freddy voltando ao mundo real como um esqueleto e lutando contra um cara no meio de um ferro-velho no melhor estilo “Jasão e os Argonautas”; e Freddy levando porrada em uma luta mano-a-mano no meio de uma igreja, na qual ele perde para um espelho!
Resultado de imagem para A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child
            Como se não bastassem as sequências de sonho, há ainda os personagens: “O Maior Horror de Freddy” possui um elenco bem menor que o dos filmes anteriores, a ponto de ter a menor contagem de mortes da franquia. Imagina-se então que, com menos personagens, o filme dedicaria mais tempo para desenvolvê-los, certo? Errado: Os personagens de “O Maior Horror” conseguem de alguma forma ser ainda menos complexos que os estereótipos de “Guerreiros” e os personagens com um único traço de personalidade de “Mestre”. De tão sem-graça que esses novos personagens são, já se sabe tudo sobre eles cinco minutos após aparecerem pela primeira vez. Assim como em “Mestre”, eles não passam de sacos de carne fresca para Freddy Krueger ter algo que fazer no filme.
            Além disso, é simplesmente impossível gostar desses novos personagens pelo simples motivo do quão estúpidos eles são: Apesar de anos terem se passado desde a primeira aparição de Freddy no primeiro filme e desde então dezenas de jovens terem sofrido mortes inexplicáveis, todas elas numa mesma cidadezinha, esses novos personagens insistem em não acreditar em Freddy Krueger e ignorar completamente essa epidemia de mortes! Como isso é possível?! Até mesmo em “Mestre dos Sonhos” os jovens começaram a perceber o quanto a cidade deles era um péssimo lugar para se crescer, e agora esses idiotas decidem não levar os avisos de Alice sobre Freddy Krueger a sério e ao invés disso não fazerem nada e tratarem tudo isso como normal?! E o filme ainda pede que eu me importe caso eles morram?! (Embora, para o crédito do filme, as mortes são bastante criativas, com bons efeitos especiais que fazem os personagens fundirem-se com motos, incharem e até transformarem-se em papel)
Resultado de imagem para A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child
                E então temos o nosso querido Freddy Krueger... E infelizmente, o desserviço que “O Mestre dos Sonhos” fez a ele é completado em “O Maior Horror de Freddy”: A maior parte do tempo, ele não parece nem se importar muito em matar suas vítimas, estando apenas “por aí”, fazendo piadas e até dando uma cantada em Alice (“Oi Alice! Quer fazer bebês?”)! Sem falar que a forma como ele leva suas mortes na brincadeira soa quase como uma paródia da franquia, com Freddy transformando-se em uma moto, fantasiando-se de cozinheiro e até andando de skate! Como se isso não bastasse, a partir de certo ponto do filme parece que ele mais apanha do que de fato faz qualquer coisa de útil... Lógico que ele sempre se levanta depois de apanhar como se nada tivesse acontecido, mas ainda assim, fica difícil considera-lo ameaçador.
            Enfim, resumo da ópera: Não, “O Maior Horror de Freddy” simplesmente não vale nem mesmo a zoeira. O pouco do filme que poderia ser considerado interessante foi feito de forma bem melhor nos filmes anteriores, mesmo os ruinzinhos, e os momentos em que o filme cai na autoparódia, embora possam gerar algumas rizadas eventuais, são intercalados com cenas que deixam o espectador confuso e tonto demais para essa ser de fato uma experiência divertida.
            Ah, e antes de terminar, não vamos esquecer a trilha sonora deste filme, que é a pior que a franquia teve até agora, a ponto de duas de suas canções serem indicadas ao Framboesa de Ouro de Pior Canção Original: “Let’s Go”, de Kool Moe Dee, que toca durante os créditos finais (provavelmente uma estratégia daqueles que estavam com vergonha de terem se envolvido no filme, para que o público saísse o mais rápido possível da sessão e assim não visse seus nomes); e “Bring Your Daughter... To The Slaughter”, de Bruce Dickinson (não confundir com a versão cantada pelo Iron Maiden, que até que é legal), que inclusive ganhou o Framboesa de Ouro. Como se não bastasse, enquanto o clipe promocional (sim, naquela época era comum artistas fazerem videoclipes promovendo algum filme) de “Guerreiros dos Sonhos” apresenta a canção sensacional de Dokken, e o clipe de “Mestre dos Sonhos” cantado pelos Fat Boys é razoavelmente medíocre, “O Maior Horror de Freddy” possui um videoclipe inacreditavelmente ruim estrelando o grupo de hip hop Whodini (porque afinal, quando você pensa em um estilo musical que combina com “A Hora do Pesadelo”, hip hop é o primeiro que vem à cabeça, né?). Ah, e para piorar a trilha sonora do filme, eles ainda têm a pachorra de mexer na canção do Freddy! Isso mesmo, a canção de pular corda que vinha sendo repetida em todos os filmes anteriores sem alterações, uma das canções mais famosas da história dos filmes de terror, por algum motivo aqui tem seu último verso mudado de “Never sleep again” para “He’s back again”. E vocês ainda esperam que eu seja gentil com este filme?!


Avaliação: Não vale a zoeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário