Enquanto
que “A Hora do Pesadelo 2” é considerado pela maioria dos fãs como o filme mais
irrelevante da franquia (a ponto de ser perfeitamente possível pular direto do
primeiro para o terceiro filme sem perder nada, como estou fazendo aqui), “A
Hora do Pesadelo – Os Guerreiros dos Sonhos” é um caso um tanto curioso: Por um
lado, essa é de fato uma das melhores continuações de terror já feitas, todo
mundo admite isso. Mas por outro... Não há muita concorrência para esse título
ter um grande valor, não é?
Foi
nesse ponto que a franquia assumiu o tom que atualmente conhecemos e
reconhecemos: Qualquer ambiguidade é deixada de lado, com Freddy Krueger sendo
admitido como real, e portanto deixando de ser um bicho-papão inexplicável e
tornando-se um personagem de fato, que exige uma maior caracterização. E embora
essa inteligência do filme original tenha sido jogada no ralo, “Guerreiros dos
Sonhos” não deixa de ter sua própria criatividade, a começar que as mortes aqui
não são meros homicídios com um toque de fantasia: A forma como Krueger mata
suas vítimas neste filme reflete a personalidade delas e suas fraquezas. Sem
falar que a contagem de mortes aqui, embora relativamente baixa, é pelo menos
digna do gênero slasher. E no geral,
“Guerreiros dos Sonhos” é um filme mais divertido
que o original, com frases de efeito, efeitos especiais, estereótipos dos anos
80, seios e, claro, não vamos esquecer sua música-tema cantada pela banda de heavy metal Dokken que é simplesmente
viciante (sério, pelo amor de deus, ouçam essa música, não tem como se arrepender!).
Mas
vamos admitir entre nós: Esse filme é tão
idiota!
Mais
uma vez, a estrutura narrativa básica está aí: Um grupo de jovens se vê
perseguidos por Freddy Krueger em seus sonhos, quando eles são feridos ou
mortos nos sonhos o mesmo acontece no mundo real e blah, blah, blah, já falei
disso anteriormente. Mas essa não é a única coisa que “Os Guerreiros dos
Sonhos” possui em comum com o primeiro filme. Se você assistiu “A Hora do
Pesadelo” (e por algum motivo nunca tocou nas continuações): Lembra-se dela?

Isso
mesmo, Nancy, a protagonista do primeiro filme, está de volta, mais uma vez
interpretada por Heather Langenkamp. Ué, você não achava que ela havia morrido
no final do primeiro filme? Como é que ela escapou?! Bom, guarde essas
perguntas para si, pois aparentemente seis anos depois dos eventos do primeiro
filme (embora “Os Guerreiros dos Sonhos” tenha sido lançado apenas três anos
após “A Hora do Pesadelo”. Ou seja, este filme oficialmente se passa no futuro),
Nancy está perfeitamente sã e salva como uma residente médica especialista em
sonhos (e com sua mecha de cabelo branco no lado errado)!
Sabe,
Wes Craven, eu sei que você não queria que o final do primeiro filme fosse
ambíguo, mas isso não é desculpa pra simplesmente ignorar qualquer
continuidade!
Cito
Wes Craven aqui porque aparentemente, após ficar furioso com a New Lines Cinema
por transformar seu filme em uma franquia, Craven resolveu aceitar que não
havia volta e retornar a ela, co-escrevendo o roteiro e servindo como produtor
executivo. E admito que, se o filme tivesse se mantido de acordo com sua ideia original,
ele talvez tenha sido um pouco mais interessante. Infelizmente, porém, o
estúdio exigiu revisões que mudaram drasticamente o roteiro original (e
acabaram por afastar Craven da franquia por mais muitos anos). Nancy aparecer
inexplicavelmente sã e salva neste filme, porém, foi uma das ideias de Craven
que se mantiveram.
Mas
enfim, aceitando que Nancy está de volta e não há remédio para isso, qual o
papel dela em “Guerreiros dos Sonhos”? Bom... Digamos que ela aqui é uma
espécie de Mestre dos Magos. Pode soar como uma piada, mas é a verdade: O papel
de Nancy em “Guerreiros dos Sonhos” é quase igual ao do Mestre dos Magos em
“Caverna do Dragão”, servindo de amiga e mentora para o grupo de jovens
assombrados por Freddy Krueger e tentando lhes providenciar conselhos e ajuda,
mas não de uma maneira que efetivamente evite que os jovens se ferrem nas mãos
do vilão. Soa familiar?
Pensando
agora, a comparação está longe de ser forçada. Afinal, “Caverna do Dragão” é
baseado no RPG Dungeons & Dragons (parando pra pensar, aja tradução
forçada!), e “Guerreiros dos Sonhos”... Bem, “Guerreiros dos Sonhos” em muito
soa mais como um RPG de fantasia do que como um filme de terror. Nancy até
ensina os jovens a utilizarem – não estou brincando – seus “poderes de sonhos”.
E
antes que alguém diga: Não, o primeiro filme não fazia já referência a isso! O
que “A Hora do Pesadelo” fazia referência é às habilidades de sonhos, que dentro do contexto do filme é uma forma
de “sonho consciente”, que permite às pessoas controlarem o que estão sonhando
e assim evitarem pesadelos – algo que faz sentido no mundo real e há relatos de
pessoas capazes de tais habilidades! Os poderes
de sonhos de “Guerreiros”, porém, são basicamente poderes mágicos que não
apenas são individuais de cada personagem, como também são aparentemente
imutáveis e variam de acordo com a personalidade de cada um deles... Mais ou
menos como as HABILIDADES DE CLASSE DE UM RPG!!!!! Aliás, é até possível dizer
qual que é a “classe” de cada personagem: Temos o bárbaro, o mago, a ladina, a
monge... E isso em um filme que é supostamente de terror! Eu já disse que esse filme é idiota?

Mas
de certa forma... Eu entendo quem por aí disser que é justamente isso o charme de
“Guerreiros dos Sonhos”. Afinal, deem uma olhada em uma das fotos promocionais
do filme:
Vendo
uma imagem dessas e pensando sobre o que o filme se trata, você deve estar imaginando
a mesma coisa que todo mundo imagina ao ver uma imagem dessas: Um grupo de
jovens e coloridos estereótipos dos anos 80 que Freddy Krueger acha que vai ser
fácil assombrar, mas que decidem dar o troco e juntos descerem o cacete em cima
do sr. Cara-de-Pizza, utilizando-se do que havia de melhor em efeitos especiais
naquela época. E adivinhem só, é isso que recebemos ao assistir o filme...
Embora mais ou menos: Freddy Krueger não tem muita dificuldade em assombra-los,
chegando a matar dois deles sem qualquer resistência... E os jovens não ficam
muito unidos, separando-se uns dos outros no clímax aparentemente sem motivo
algum... E só um ou dois deles conseguem efetivamente dar uma boa porrada em Krueger...
Éééééé... Mas os efeitos especiais pelo menos estão lá! E tenho que admitir que
são uma visão gloriosa para todos aqueles que já estão com os olhos cansados de
tantas imagens computadorizadas: Quase tudo em “Guerreiros dos Sonhos” é feito
de forma prática, com animatrônicos, maquiagem, stop-motion, jogos de
iluminação e muito, muito esforço. Especialmente a cena em que Freddy Krueger
assume a forma de um verme gigante, que até hoje continua impressionante.
Falando
no sr. Cara-de-Pizza, foi a partir deste filme que a New Lines Cinema resolveu
mudar a impressão que ele causava. Agora ele já não era apenas um bicho-papão
misterioso com poderes inexplicáveis: Agora ele era um personagem com uma personalidade marcante... E poderes inexplicáveis,
isso pelo menos se manteve. Em “Guerreiros dos Sonhos”, ele não se contenta em
ficar nas sombras, rindo de suas vítimas enquanto as persegue: Ele mostra a
cara, tortura os jovens até se cansar, e o tempo todo faz piada da situação,
soltando algumas das frases de efeito mais memoráveis da história do cinema de
terror (“Bem-vinda ao horário nobre, vadia!”). Nota-se até uma mudança na
atuação de Robert Englund, que aqui assume uma voz grossa, menos maliciosa e mais
imponente do que no primeiro filme. Mais do que um personagem, em “Guerreiros
dos Sonhos” Freddy Krueger assume uma proporção quase mitológica: É nesse
filme, por exemplo, que ele é chamado pela primeira vez pela sua famosa alcunha
de “O Filho Bastardo de Cem Maníacos”.
Tal
mudança, porém, veio a um custo caro: É em “Guerreiros dos Sonhos” que Freddy
Krueger começa a ficar cada vez menos assustador. E o motivo eu acabei de
dizer: É aqui que ele deixa de ser a criatura
que te assombra quando você dorme e se torna um personagem, um vilão. E
vilões podem até ser intimidantes – e Krueger não é exceção – mas efetivamente
assustadores? Para algo ser assustador, certa dose de mistério é quase
necessária. Afinal, no fundo a maioria de nossos medos se resume àquilo que não
conseguimos compreender – pois o que não compreendemos, não conseguimos evitar.
E em “Guerreiros dos Sonhos”, acontece justamente o que não deveria acontecer:
Passamos a compreender melhor Freddy Krueger, entender seu modus operandi e o que ele quer – nos é até esclarecido um pouco
mais de seu passado.
Mas
de certa forma, não culpo tanto assim o filme por isso. Afinal, já que uma
continuação seria feita de qualquer jeito, manter Freddy Krueger eternamente no
mistério eventualmente perderia graça, e ansiaríamos por um pouco mais de
caracterização. Sendo assim, “Guerreiros dos Sonhos” até que lida com essa
transição de monstro para vilão de uma maneira que está longe de ser ruim,
dando a Krueger uma personalidade que, embora o deixe menos assustador, é uma
das mais memoráveis dos filmes de terror.
Ao
final, se você quiser ver “Guerreiros dos Sonhos” mais como um filme de
fantasia sanguinolento e meio assustador, mas cheio daquela sensação de
diversão particular dos anos 80, talvez você tire algum proveito dele. Mas se
você decidir assisti-lo porque gostou do primeiro filme e está com gostinho de “quero
mais”, você vai acabar se decepcionando. Mas de um jeito ou de outro, se for
pra assistirmos o filme, recomendo irmos até os créditos finais, para podermos
cantar todos juntos: With the dreeeeeeeeam waaaaaaarriooooooors, don’t want to
dream no mooooore, with the dreeeeeeeeam waaaaaaarriooooooors, and maybe
tonight, MAYBE TONIGHT YOU’LL BE GOOOOOOONE!!!!!!!
Avaliação: Não vale a pena.
P.S: Não falei sobre isso porque imagino
que todo mundo vai pensar a mesma coisa ao assistir o filme, mas... Por que raios o hospital onde o filme se
passa não tem câmeras?! Metade dos problemas estariam resolvidos com isso!
Desculpe, precisava soltar isso da minha
cabeça.
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