O que falar de “Frozen” agora? Chega a parecer que todo mundo já
viu esse filme! Pior: Todo mundo já falou montes sobre ele. Nada do que eu
disser aqui será novidade.
E ainda assim... Sinto-me quase na
obrigação de critica-lo.
É
impressionante como que, mais de dois anos após seu lançamento, “Frozen”
continua tão popular. Mesmo com tantas outras animações sendo lançadas, nenhuma
parece competir com seu sucesso monstruoso. Para todo lado há mochilas de
“Frozen”, brinquedos de “Frozen”, camisetas de “Frozen”, DVDs de “Frozen”, encenações
para teatro de “Frozen”... E nem ouse começar a cantar “Let it Go” em uma
escola, a menos que você queira começar uma revolução!
E
ainda assim, com tamanho sucesso, começa-se a pensar se o filme é tão bom
assim.
Não
me olhem assim, vocês sabem que é verdade! Não existe tal coisa como um filme
perfeito, e “Frozen” está longe de ser um! Não estou dizendo necessariamente
que o filme é ruim, mas também... Merece mesmo tudo isso?
Ok,
como uma crítica normal a essa altura será incapaz de englobar todos os
aspectos positivos e negativos de “Frozen”, vamos fazer aqui algo diferente:
Vamos ver o que o filme tem a oferecer, como enredo, personagens e outros, e o
que cada um tem de bom e de ruim. Algo como um “Prós e Contras”. Assim,
agradarei tanto quem gostou quanto quem não gostou do filme. Ou então não
agradarei a ninguém. Vamos começar então com:
ENRE...
Ah,
um último aviso para o caso de você ser um dos que ainda não assistiu o filme:
Haverá spoilers todos os lados. Entendido? Vamos começar de novo:
ENREDO
“Frozen”
conta a história de Elsa e Anna, princesas do reino fictício de Arendelle.
Elsa, a mais velha, nasceu com poderes mágicos que lhe permitem controlar neve
e gelo. Porém, sem ter total controle sobre eles, quando criança ela quase
matou sua irmã, resultando em Anna perdendo todas as suas memórias da magia e
Elsa sendo trancafiada dentro de seu quarto para não expor seus poderes para
ninguém. Os anos passam, e no dia da coroação de Elsa Anna anuncia que vai se
casar com o príncipe Hans, que conheceu naquele mesmo dia. Isso causa uma briga
entre as duas irmãs que faz com que Elsa sem querer libere seus poderes na
frente de todo mundo, entre em pânico, fuja de seu reino e cause um inverno
eterno em Arendelle. Anna, então, sai em busca da irmã para fazer com que ela
traga o verão de volta, com a ajuda de Kristoff, um vendedor de gelo, e Olaf, um
boneco de neve falante. As coisas complicam quando Elsa sem querer acerta Anna
com sua magia no coração, fazendo-a lentamente congelar, e apenas um ato de
amor verdadeiro pode impedir isso.
Por um lado, “Frozen” traz uma
abordagem consideravelmente diferente da Disney se comparado com os outros
contos de fadas do estúdio. O relacionamento entre irmãs é algo curiosamente
raro de se ver no cânone da Disney. Além disso, o relacionamento delas é
bastante conturbado, tendo passado anos forçadamente separadas e estranhas uma
à outra. Como se não bastasse, há também todo o arco envolvendo Elsa, que
cresceu sentindo medo de seus poderes e agora de repente se vê livre para
manifestá-los do jeito que quiser. Felizmente, fugindo do velho clichê de
“poder corrompe”, isso não a torna uma vilã.
Mas
a cereja do bolo fica para o terceiro ato, quando o conceito de amor verdadeiro
é desconstruído. Durante o filme inteiro Anna acredita que o ato de amor
verdadeiro que irá salva-la é beijar Hans, mas então eis que este se revela o
vilão. Acontece que o tal ato de amor verdadeiro que a salva não é no sentido
romântico, mas sim fraterno, quando ela se coloca na frente de Elsa para
salva-la de Hans. Mentes explodem em salas de cinema ao redor do mundo.
Inúmeras (e perfeitamente legítimas) análises são feitas apontando o feminismo
nessa história, como ela mostra um relacionamento sincero entre mulheres e que
um homem não é uma necessidade na vida delas.

Porém, a abordagem não é tão diferente
assim. Além de “Lilo e Stitch” já ter falado antes sobre um relacionamento
entre duas irmãs, o conceito de amor verdadeiro também já foi desconstruído
antes. Muita gente elogiou que o filme, de uma forma meio cruel, tira sarro da
ideia de filmes anteriores da Disney de um casal se apaixonando à primeira
vista. Essas pessoas ao menos assistiram “Encantada”?! “Amor à primeira vista é
irreal” era 90% do enredo daquele filme!
Além disso, ambos
possuem uma mesma falha muito grande: Tiram sarro do amor à primeira vista,
para a princesa se apaixonar por outro cara em 24 horas. Disney, se você quer
tanto defender esse argumento, não faria sentido seus filmes se passarem ao
longo de um pouco mais de um dia?
E
quanto às análises feministas... Elas continuam legítimas, mas “Valente” também
fez isso primeiro.
Sem falar que a
história é sobre uma membra de uma família real que foge após uma tragédia, e
quando finalmente deixa seus problemas e preocupações de lado descobre que seu
reino está à beira do colapso e sendo governado por um príncipe usurpador. Hum,
não teve outro filme animado da Disney de sucesso com um enredo parecido?
Nah,
deve ser imaginação minha!
E
nisso temos toda a história de amor verdadeiro. Por mais que eu ache legal essa
ideia que o filme passa de que o amor romântico não é o único que existe... Já
não é hora da Disney parar de enfiar na nossa cara a mesma mensagem de que “o
amor resolve tudo”? E com tudo, eu quero dizer literalmente tudo, com Elsa no
final simplesmente gritando “Amor!” e bum, o verão voltou? Desculpe, mas eu não
consigo levar isso a sério.
Com
isso dito, vamos para...
PROTAGONISTAS
Devido
aos anos de isolamento, Elsa e Anna cresceram sem saber lidar muito bem com
outras pessoas. Porém, de formas diferentes: Elsa tem medo dos outros e evita
qualquer contato para que ninguém saiba de seus poderes, pois daí terão medo
dela e a odiarão (aparentemente, o mundo de Arendelle possui a mesma lógica que
o dos X-Men). Anna, porém, sem saber o que temer, está disposta a se jogar no
mundo depois de tanto tempo trancada no castelo, confiando ingenuamente em
qualquer um que lhe apareça pela frente, a ponto de acreditar que está
apaixonada apenas porque um cara lhe deu atenção.

Por um lado,
não vou mentir, essa introdução às personagens e aos seus dilemas é muito
inteligente. Ainda mais considerando que nunca é explicitada em palavras, o que
faz com que pareça mais natural. Nós não ouvimos ninguém criticar Elsa por ser
fechada ou Anna por ser ingênua (talvez um pouquinho sobre Anna); nós vemos elas agindo assim. Além disso, o
arco pelo qual Elsa passa é legitimamente interessante, com ela finalmente se
sentindo feliz e livre para usar seus poderes como quiser depois que foge,
apenas para desmoronar ao descobrir o mal que isso causou e perceber que não
sabe como revertê-lo, e, quando descobre como fazer isso, se sentindo confiante
pela primeira vez.
Porém... O arco de Anna não é tão
interessante e bem desenvolvido assim. Ela é fofa e ingênua no começo do filme,
e continua fofa e ingênua no final. A única coisa que muda é que agora ela é
capaz de dar um soco na cara de alguém. Sem falar que dá para criticar que sua
personalidade é semelhante um pouco demais à de Rapunzel em “Enrolados”.
Além
disso, o próprio fato de Elsa ser uma rainha, algo tão elogiado como diferente
dos outros contos de fadas da Disney, praticamente não faz diferença. Nunca a vemos
assumir as responsabilidades que seu título lhe dá, ou dar ordens e lidar com
as consequências delas. Em si, a única coisa que a diferencia de uma simples
princesa é uma cena de coroação.
Mas
protagonistas não são o suficiente sem...
PERSONAGENS
SECUNDÁRIOS E ANTAGONISTAS
Além
de Olaf, Kristoff e da rena Sven, que acompanham Anna em sua jornada, outros personagens
secundários incluem os pais das irmãs, cuja função no enredo é morrer, mas não
antes de trancafiarem suas filhas em casa por medo, mesmo quando os trolls lhes
avisam que o medo será o inimigo de Elsa; e os trolls, cuja função é passar
mensagens importantes para o filme.
Quanto
aos antagonistas, eles consistem apenas de dois, Hans e um tal de Duque de
Weselton.
Por um lado, fiquei surpreso com o quão
não irritante Olaf é. Quando vi que
um dos personagens do filme seria um boneco de neve falante, minha reação
inicial foi “Ah, essa não!”. Mas Olaf é surpreendentemente carismático e
engraçado em sua estupidez. Kristoff também não deixa de ser um bom personagem,
e a relação de pirraças e gracejos entre ele e Anna é bem engraçada de se ver,
mas ao mesmo tempo não deixa de ter certa evolução ao longo do filme, de forma
que quando Anna percebe que ele a ama não parece algo saído do nada. Quanto a
Sven, ele é uma adição divertida ao elenco, especialmente quando Kristoff
utiliza a “voz” dele como desculpa para seus próprios diálogos interiores.
Sobre
Hans, tenho que admitir, eu não esperava que ele fosse o vilão. Está certo que
era óbvio que ele não ficaria com Anna no final a partir do momento em que
Kristoff aparece, mas não imaginava que fosse por esse motivo! Mas de nada adianta ser surpreendente se não for bom.
E Hans é um bom vilão. Quando você descobre o esquema dele, percebe o quão
maquiavélico e sociopático esse cara é. É difícil não passar a odiá-lo por
isso.
Porém... “Frozen” sofre de um típico
excesso de personagens. Alguns, como o Duque de Weselton e um mercador que Anna
encontra, não aparecem nem por cinco minutos e servem muito pouco para a
história. Especialmente o Duque de Weselton. O mercador ao menos é engraçado, mas
a única piada feita com o duque é em cima do nome do país dele.
E
acho que já falaram o suficiente sobre o quão insanos os pais de Elsa e Anna
foram. Então a resposta deles para “O medo será o inimigo de Elsa” é fazê-la
sentir medo de si mesma?! E trancar Anna junto?! E fazer com que elas se vejam
o mínimo possível?! Uau. Mesmo para os padrões da Disney, esses pais são
péssimos. Aliás, esqueça Hans: Esses
são os verdadeiros vilões do filme!
E
quanto aos trolls, eles são mais aparelhos de enredo do que personagens de
fato. Tudo o que fazem é explicar alguns elementos da história (que parece que
ninguém entende direito) e cantar um número musical. Falando nisso...
CANÇÕES
Ao
todo, “Frozen” possui oito canções e meia (uma delas é meio que repetida), o
que na Disney já é mais que o suficiente para considera-lo um musical.
Por
um lado, por mais que metade da população mundial esteja
cansada de ouvir as músicas de “Frozen” (e a outra metade esteja ainda cantando-as), elas estão entre as
melhores compostas para a Disney nos últimos anos. Não estou brincando! “Let it
go” é uma canção muito boa! Isso não
me impede de querer furar com um pedaço de gelo a garganta do próximo que ouvir
cantando-a, mas ainda assim quando assisto “Frozen” sou capaz de apreciar sua
trilha sonora. E não é só “Let it go”: A maioria das canções do filme são boas.
São bem cantadas, tem letras interessantes, e o mais importante, efetivamente
contam a história. Algumas delas, como a primeira (não me force a pesquisar o
nome), possuem em suas letras pontos importantes para uma compreensão mais
aprofundada do filme.
Porém,
com oito canções (e meia), é difícil que todas sejam ótimas. E adivinhe só, nem
todas são. A canção de Olaf é particularmente difícil de lembrar e é
absolutamente inútil dentro do contexto do filme: Ele já havia dito que queria
saber como era o verão antes de cantar, e depois que a canção termina todos
agem como se nada tivesse acontecido. A mesma coisa acontece com a canção dos
trolls: É quase impossível de se lembrar mais do que algumas palavras quando se
assiste pela primeira vez e só serve para mostrar o quão malucos elessão, o que
já havia sido mostrado antes sem música!
Por
fim, mas não menos importante, temos o que dá vida a tudo isso:
ANIMAÇÃO
E DESIGN
Além
de ser uma animação computadorizada, “Frozen” possui o que parece ser o novo
design de personagens da Disney, com a parte superior da cabeça (olhos e testa)
anormalmente grande e a parte inferior (nariz, boca e queixo) pequena e
fofinha, a exceção sendo alguns dos personagens masculinos. Além disso, é
difícil falar sobre Arendelle sem citar o fato de que sua geografia e cultura
são fortemente inspiradas na Escandinávia, principalmente Noruega.
Por um lado,
tal ambientação nunca tinha sido usada antes nas animações da Disney, e além de
trazer alguns aspectos culturais diferentes, os fiordes e montanhas noruegueses
dão ao filme a impressão de ter uma escala muito maior do que realmente tem.
Quando se pensa bem, a jornada de Anna para encontrar Elsa e voltar não é
nenhuma viagem do Condado até Mordor, ao ponto de durar nem 24 horas. Mas
quando você a vê atravessando fiordes, escalando montanhas e percorrendo
florestas escuras com neve até os joelhos, a impressão é de algo enorme e
épico.
Além
disso, não há qualquer dúvida de que a animação computadorizada de “Frozen”,
quando quer ser espetacular, é realmente
espetacular, tanto nos pequenos detalhes quanto nos grandes. Todo fio de
cabelo, todo botão de roupa, todo laço possui uma textura identificável. Da
mesma forma, mesmo os grandes cenários, como a montanha aonde Elsa se esconde, a
cachoeira congelada e o castelo de Arendelle, possuem uma grande riqueza de
detalhes. E o palácio de gelo, então...
Sem
falar na expressividade dos personagens.
A
expressão de Anna nessa cena não tem preço.
Porém... Nesse quesito estarei sendo bem
cri-cri, porque gostei da animação de “Frozen”, mas... Admito que os design dos
personagens podiam ser mais originais. Eu sei que a padronização dos designs da
Disney é intencional, mas acaba ficando sem graça quando Anna parece uma
Rapunzel de cabelo curto e a coelha Hopps de “Zootopia” parece uma Anna peluda.
Não seria mais interessante usar as possibilidades criativas da animação
computadorizada para dar aos filmes designs e visuais diferentes, ao invés de iguais?
E
mesmo os cenários, que gostei tanto, têm seus problemas: Boa parte do filme se
passa de noite ou em cenários escuros, e na neve, então em metade das cenas a
paleta de cores se resume a basicamente diferentes tons de preto, cinza e
branco.
Pronto!
Consegui desagradar tanto a quem gostou quanto a quem não gostou de “Frozen”!
Então... Qual é a minha opinião pessoal?
Sim,
concordo que “Frozen” possui vários problemas, que fazem com que seu enorme
sucesso pareça quase injustificável. Mas ainda acho que merece pelo menos ser
visto. Como eu disse antes, não há tal coisa como um filme perfeito; o que há,
porém, são filmes cuja qualidade de seus bons elementos supera seus defeitos. E
boa parte dos defeitos de “Frozen” foram notados depois de bater todo tipo de recorde de bilheteria e vendas de
produtos, quando as pessoas começaram a perceber que filmes melhores surgiam e
não alcançavam metade desse sucesso. Eu mesmo, boa parte desses defeitos fui
notando agora, enquanto escrevia. Então, se o filme conseguiu me distrair assim
de seus problemas quando assisti, acho que ele merece minha...
Avaliação: Vale a pena. Apenas... Parem
de cantar “Let it go”. Sério.
Não vi e pela sua análise realmente não me interessei.
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