quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A Bruxa de Blair

Em julho de 1999 dois cinéfilos voltaram para casa perto de um cinema depois de assistir “A Bruxa de Blair”...

16 anos e meio depois a postagem em um blog narrando o diálogo desses dois idiotas que jamais existiram mas que seja, estamos fazendo aqui uma paródia, foi encontrada.

            - Isso... Foi... Incrível! Sério, esse é sem dúvida um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, você não acha?
            - Não.
            - Pera aí, o que?
            - Não.
            - Como, assim, “não”?! Não achou “A Bruxa de Blair” assustador?!
            - Não! Achei que foi uma bagunça total, com aquela câmera chacoalhante que me deu vontade de vomitar o filme inteiro!
            - Você não gostou? Achei que aquilo deu um visual tão autêntico para o filme!
            - Talvez até seja autêntico, mas aquele movimento todo toda vez que a mocinha, qual o nome mesmo dela?
            - Heather?
            - Isso! Essa autenticidade toda não me impediu de ficar enjoado toda vez que ela disparava pela floresta!
            - Ah, mas achei isso tão legal! Parecia aquelas filmagens de combate que se vê na TV!
            - E você sabe o quanto aquilo é enjoativo! Pelo menos na TV eles têm a misericórdia de só mostrar alguns segundos disso, enquanto você me fez assistir 80 minutos de um filme que parece que foi filmado dentro de um liquidificador!
            - Bom, o que posso fazer se os caras que fizeram esse filme não tinham dinheiro nem pra financiar um tripé?! Ao menos foi uma ideia inovadora! Imagine só, um filme de terror sem sangue, sem violência, que não mostra nem explica nada...
            - Exato! Não mostra nem explica nada! Metade do tempo a tela estava preta, e a outra metade tudo que aparecia era árvores e mais árvores! Chegou uma hora que comecei a achar que elas eram a tal bruxa do título!
            - Se bem que... Pensando agora... Essa seria uma ideia interessante.
            - Você andou fumando maconha?!
            - Não, estou falando sério! Imagine um filme de terror em que as vilãs são na verdade as árvores! Elas não fazem nada, só balançam com o vento, mas é revelado no meio do filme que são elas que estão causando tudo.
            - Essa é a ideia mais estúpida que já ouvi! Quem é que dirigiria um filme assim?!
            - Ah, não sei. Hum... Oh! Oh! Já viu o trailer desse novo filme que vai sair mês que vem, qual o nome mesmo? Esse novo do Bruce Willis com um molequinho...
            - “O Sexto Sentido”?
            - Isso, “O Sexto Sentido”! Parece legal esse filme, não? Tenho certeza que o diretor dele daria um jeito de fazer isso funcionar!
            - Mesmo que esse filme seja bom, o que concordo com você que parece ser, ainda assim, as árvores são as vilãs? Até mesmo um diretor iniciante que promete como ele não faria isso! Hum... Com no meio do filme ser revelado, você não quer dizer de fato no meio do filme, né?
            - Não, claro que não!
            - Ah, tá! Só perguntando. Está uma noite quieta, né?
            - Sim. Do que estávamos falando... Ah, sim, “A Bruxa de Blair”! Não...
            - E aí está outro problema do filme! Você não concorda que ele divaga um pouco de tempo demais?
            - Bem... É, ele é meio enrolado.
            - Meio não! Eu de bom grado cortaria fora metade do filme!
            - Ei, ei, ei, nem tanto assim, né?! Calma lá! Pode não acontecer muita coisa durante o filme, mas o que acontece assusta facilmente qualquer um! Imagino que até você entende isso, não?
            - A mim não assustou. Aliás, para mim o filme não significou nada! Eu mal consigo me lembrar da história tirando que era uns idiotas perdidos na floresta. Se o filme me significou alguma coisa, é que me serviu como prova de que as pessoas conseguem ser facilmente impressionadas com um filme que pela qualidade não parece ter sido feito por cineastas profissionais.
            - Exato! Não percebe isso?! Se “A Bruxa de Blair” significa algo, é que um filme não precisa ter uma qualidade profissional para ser inovador e original! Ouvi dizer até que os atores que fizeram os personagens principais tiveram que improvisar os diálogos deles.
            - Onde você viu isso?
            - Li em uma entrevista com os diretores.
            - Bom, se eles realmente improvisaram os diálogos, parabéns, porque estavam bons.
            - Ahá! Algo que você concorda que o filme teve de bom!
            - Mas ainda assim, isso é só um truque de direção. Aliás, o filme inteiro é um truque de direção! Essa coisa toda de ele parecer uma filmagem caseira encontrada por acaso...
            - Ah, vá, não precisa rejeitar o filme por isso! Está bem, é um truque. É uma jogada de marketing. Mas mesmo que seja uma jogada de marketing, ela não deixa de ser ousada e inteligente. Eu pessoalmente admiro o filme por isso, e acho que ele merece ser admirado por mais pessoas!
            - Exato! Falou tudo! A jogada de marketing dele merece ser admirada! Lembra-se quando todo mundo enlouqueceu porque aparecia em todo lugar na internet esses relatórios de polícia e entrevistas dizendo que os adolescentes do filme eram pessoas que realmente desapareceram, e o pessoal ficou um tempão discutindo se as filmagens que o filme ia mostrar eram reais ou não? Então, aquilo foi inteligente! Foi divertido. Mas nada mais que isso. O filme não é nada mais que isso!
            - Hum. Mas a campanha de marketing do filme foi brilhante, não foi?
            - Com certeza.
            - Esse plano todo de fazer parecer que os personagens eram reais e tinham morrido... Pensando agora, é um tanto diabólico, não?
            - Sim.
            - Então! Nesse sentido, o filme funcionou. Chamou-me a atenção para vê-lo, fui ver e me diverti com ele.
            - Bom, eu não. Desculpe-me, mas eu como um fã de filmes de terror me decepcionei. Achei difícil lidar com toda essa coisa do filme de tentar abordar a história de um jeito não convencional. Eu prefiro filmes de terror mais sanguinolentos, que me afetem, mas que também me façam sorrir um pouco. Lembra-se quando fomos assistir “Pânico”, que ficamos o filme inteiro nos cutucando e piscando um pro outro toda vez que o filme fazia uma referência a outros filmes de terror, e só não fomos expulsos do cinema porque todo mundo na sessão estava fazendo a mesma coisa?
            - É, pensando agora aquela vez nos divertimos muito. A coisa mais divertida hoje foi ver os adolescentes saindo da sessão e chamando pelas mamães com medo de um monte de árvores.
            - Falando assim, você está fazendo o filme parecer mais divertido do que realmente é.
            - Mas também, nem todo filme de terror precisa ser divertido.
            - Mas você falou agora a pouco que se divertiu vendo o filme!
            - Sim, mas me diverti mais no sentido de ficar perturbado com o filme. Não é isso que filmes de terror devem fazer acima de qualquer outra coisa? Perturbar o público? E “A Bruxa de Blair” fez isso com uma sutileza que me impressionou! É tão simples!
            - Exato! É simples. Simples até demais! A história é simples, a qualidade é simples, a própria ideia de jovens perdidos na floresta e encontrando uma criatura do mal é tão velha e simples quanto Chapeuzinho Vermelho ou João e Maria!
            - É, talvez você tenha razão. Talvez o filme como filme não valha tanto a pena assim... Mas de qualquer forma, admita que os diretores dele estavam dispostos a assumir alguns riscos. Não é qualquer um que faz um filme assim.
            - É...
            - Estou louco de expectativa pra ver qual vai ser o próximo projeto deles!
            - Eu não sei. Chame-me de pessimista, você vem me chamando assim desde que achei que “Vida de Inseto” iria acabar com a Pixar...
            - E foi ótimo.
- Está certo, mas o mais provável é que eles ajudem a criar a história para uma continuação, porque lembre que todo, absolutamente todo filme de terror tem que ter uma continuação, por pior que seja, e depois eles meio que desapareçam do mapa. Façam alguns filmes direto em vídeo, talvez daqui a uns dez anos quando o dinheiro que eles conseguirem com esse filme apertar façam algo maior, mas não acho que nenhum deles fará algo tão bom quando “A Bruxa de Blair”.
            - Então você está admitindo que “A Bruxa de Blair” é bom?
            - Eu não disse isso.
            - Certo, certo... Então você acha que eles não farão outros filmes bons com essa coisa de filmagem encontrada?
            - Não... Mas sabe quem faria um bom filme assim?
            - Quem?
            - O diretor desse tal de “O Sexto Sentido”.
            - Agora é você que andou fumou maconha!


Avaliação: Não vale a pena. O filme, não ler essa crítica até o final. Ou ambos. Sei lá.

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