Ok,
eu adoro como a versão brasileira resolveu mudar o subtítulo de “A Hora do
Pesadelo 5” de “The Dream Child” (algo como “O Filho dos Sonhos” em inglês)
para “O Maior Horror de Freddy”... Porém ainda assim manter o pôster original.
Tipo, você ouve “O Maior Horror de Freddy” e imagina uma cena grotesca, digna
dos seus piores pesadelos, mas quando vai ver o pôster você tem... Um carrinho
de bebê. A menos que isso seja “O Bebê de Rosemary”, eu não consigo imaginar um
carrinho de bebê como “o maior horror” de coisa alguma.
Então...
É. Freddy Krueger volta do inferno. De novo. Bom pra ele, mal pra gente. Aliás,
dessa vez mal pra gente mesmo. Isso porque esse é considerado o “ponto sem
retorno” da franquia, quando o público já estava mais que cansado dessa
história de “A Hora do Pesadelo”, o que se pôde notar pela sua bilheteria, que
caiu pela metade em relação a “O Mestre dos Sonhos”; e, como se não bastasse,
aparentemente os envolvidos na produção da franquia também já estavam mais que
cansados dela, pois “O Maior Horror de Freddy” é infinitamente pior que seus
antecessores: “Guerreiros” e “Mestre” podem ter sido bestas em diferentes
níveis, mas ao menos tinham alguma
inteligência... Inteligência a qual inexiste em “O Maior Horror”, que ao invés
disso é apenas mais uma de tantas continuações de terror ruins sem nenhuma
qualidade que as redima.
Ou
será que não? Bom, vamos analisar então se ao menos “O Maior Horror de Freddy”
vale ser assistido apenas pra ser zoado naqueles dias em que você reúne seus
amigos pra assistir um filme ruim... Não? Ninguém aí faz isso? Droga, vou ter
que assistir esse filme sozinho mesmo então.
De
um jeito ou de outro, Freddy está de volta... E assim que ele aparece em cena
percebe-se que nem mesmo o departamento de maquiagem e figurino se importa mais
com a franquia! Não só a maquiagem de Robert Englund deu uma notável piorada,
com Freddy Krueger parecendo ter envelhecido trinta anos entre filmes; como
também na cena de seu retorno ele aparece com uma óbvia prótese no braço
esquerdo que o deixa muito maior que o direito, por motivos de... Nenhum
motivo, sendo bem sincero! Está certo que a versão que assisti é a que foi
originalmente lançada nos cinemas, que teve vários cortes para diminuir a
violência a fim de conseguir uma censura R (algo como uma censura 16 anos nos
EUA) ao invés de X (tipo uma censura 18, geralmente associada a filmes pornôs,
mas se estendendo também àqueles com violência extrema); ainda assim, duvido
que qualquer corte feito explique porque raios Krueger aparece com um braço
mais longo que o outro.
Ah,
e adivinhem só: Esse braço esquerdo mais longo nunca mais aparece no resto do filme! A única explicação que
consigo imaginar para isso é que a prótese quebrou durante as filmagens e,
quando o diretor foi pedir por uma nova ao chefe do departamento de efeitos
especiais, este apenas disse, de saco cheio: “Meu caro... Os jovens que forem idiotas
o bastante para irem ao cinema assistir este filme não vão se importar com esses
detalhes. Você quer realmente nos dar esse trabalho extra?”.
Mas
enfim, como é que Freddy volta? Sinceramente... Eu não faço a menor ideia. Não,
sério, se você achava que Freddy ressuscitar através de um cachorro que o
desenterra e mija fogo em cima dele era confuso, dessa vez temos algo
envolvendo Alice engravidando de... Hum... Gostosão. Pode soar feio eu como
crítico esquecer o nome dos personagens, mas cá entre nós, após quatro
continuações você também não se lembrará de todo mundo que aparece e muito
menos se importará com isso.
De
qualquer forma, Alice engravida de Gostosão (aliás, o “momento em que ela
engravida” é literalmente a primeira cena do filme. Eu sei que filmes slasher gostam de apelar para o sexo
tanto quanto para o terror, mas isso é ridículo!). E aparentemente o plano de
Freddy é entrar nos sonhos do feto e alimentá-lo com as almas de suas vítimas,
para assim lentamente possuí-lo e, quando ele nascer, voltar ao mundo dos vivos
através dele. Ah, e tem algo no meio desse plano envolvendo a mãe de Freddy
Krueger. Se isso parece não ter nada a ver com tudo isso e parece ter sido
lembrado na última hora, é porque é exatamente esse o caso.
Sabem,
a essa altura estou cansado dessas explicações fajutas para Freddy voltar do
inferno. Por que ele não simplesmente volta com a única explicação sendo o fato
de ser uma continuação?!... Pensando bem, acho que devo tomar cuidado com o que
desejo, não?
De
qualquer forma, isso levanta tantas questões!
Em primeiro lugar, como é que Freddy é capaz de invadir os sonhos do feto, se
no momento em que a história se passa este está na sua primeira semana, a ponto de Alice inicialmente nem saber que está
grávida?! Eu não sou nenhum especialista no assunto, então me corrijam no que
eu estiver errado... Mas para qualquer criatura ser capaz de sonhar, seu
cérebro precisa estar desenvolvido a um nível minimamente avançado, nível ao
qual fetos não chegam antes do segundo trimestre de gravidez. E embora eu tenha
lido isso na internet, que está longe de ser uma fonte confiável e que não era
tão desenvolvida quando este filme foi lançado (1989, pra ser exato), havia na
época uma fonte bem mais confiável: A BIBLIOTECA! E está certo que demora mais
tempo para se descobrir coisas numa biblioteca do que na internet, e que a
produção deste filme foi bem apressada para que ele fosse lançado apenas um ano
após “O Mestre dos Sonhos”; mas tenho certeza que um ou até dois dias
pesquisando na biblioteca antes de escrever o roteiro não atrasariam a produção
tanto assim!
E
em segundo lugar, há a questão de o filme afirmar que fetos passam 70% do tempo
em um estado de sonho, porcentagem que aumenta à medida que a gravidez evolui.
E embora, pelo que pesquisei, esses dados estejam razoavelmente corretos (pelo
menos o suficiente em termos de Hollywood), há um grande problema nisso: Um
ponto importante do enredo é que, devido aos poderes de sonhos de Alice, e pelo
feto ser basicamente uma parte dela, ela por vezes ao longo do filme se vê de
repente no mundo dos sonhos, apesar de estar acordada. Até aí é uma ideia
interessante, se não fosse por um problema: Se o feto está sonhando 70% do
tempo, Alice não deveria passar esse mesmo tempo no mundo dos sonhos, ao invés
de ser jogada nele apenas de vez em quando?! Vamos lá, filme, se você for criar
uma lógica para seu enredo, ao menos faça o favor de se manter fiel a ela!
A
menos... Que de fato 70% do filme
seja na verdade apenas um sonho de Alice, e que “O Maior Horror” tenha decidido
voltar às rotas do “A Hora do Pesadelo” original e deixar ambíguo o que é sonho
e o que é real... Hum... Nah, quem estou querendo enganar? A essa altura
qualquer senso de sutileza nessa franquia está perdido, e é tarde demais para
se pensar em trazê-lo de volta.
Mas
além de um enredo pra lá de confuso e cheio de furos, o que mais “O Maior
Horror de Freddy” tem a oferecer? Sendo bem sincero... Nada de muito especial.
Embora, sendo também sincero, ninguém deve estar surpreso com isso.
Primeiro,
as sequências de sonhos, que geralmente são as melhores partes dos filmes de “A
Hora do Pesadelo”, aqui podem ser chamadas de tudo, menos de interessantes,
variando entre “sonhos dentro de sonhos” (insira aqui sua piada de “A Origem”)
que servem apenas para expor pontos importantes do enredo de forma incoerente;
sonhos tão estranhos que te deixam desorientado, como um em que Alice anda por um
hospital abandonado, e de repente é uma paciente a caminho da sala de parto, e
antes que você possa se perguntar o que está acontecendo ela é uma médica
observando o nascimento de Freddy Krueger (que por algum motivo já nasce
deformado), para logo em seguida sair pela porta da sala de parto e entrar na
igreja onde rolou o clímax de “O Mestre dos Sonhos” (já está tonto com tanta
informação? Eis como é assistir essa cena); outro sonho que implora por uma
piada envolvendo o clipe de “Take on me” (admitam, vocês sabem do que estou falando);
e um clímax no qual a igreja se transforma em um quadro de M.C. Escher, com
direito a todo tipo de ângulo de câmera estranho para te deixar ainda mais tonto (imagino que seja a
tática do “se o público tá tonto, ele não vai questionar as incoerências do
filme”), Freddy Krueger se escondendo dentro
de Alice e aos poucos saindo dela (acreditem, é ainda mais nojento do que
soa), e tudo isso enquanto uma das amigas de Alice procura pelos restos mortais
da mãe de Krueger.
Ok,
tenho que admitir: Esse é o clímax mais estranho da franquia até agora. E olha
que já tivemos Freddy Krueger em chamas estrangulando uma mulher enquanto ela
dorme e em seguida desaparecendo com ela dentro da cama; Freddy voltando ao
mundo real como um esqueleto e lutando contra um cara no meio de um ferro-velho
no melhor estilo “Jasão e os Argonautas”; e Freddy levando porrada em uma luta
mano-a-mano no meio de uma igreja, na qual ele perde para um espelho!
Como
se não bastassem as sequências de sonho, há ainda os personagens: “O Maior
Horror de Freddy” possui um elenco bem menor que o dos filmes anteriores, a
ponto de ter a menor contagem de mortes da franquia. Imagina-se então que, com
menos personagens, o filme dedicaria mais tempo para desenvolvê-los, certo?
Errado: Os personagens de “O Maior Horror” conseguem de alguma forma ser ainda menos complexos que os
estereótipos de “Guerreiros” e os personagens com um único traço de
personalidade de “Mestre”. De tão sem-graça que esses novos personagens são, já
se sabe tudo sobre eles cinco minutos após aparecerem pela primeira vez. Assim
como em “Mestre”, eles não passam de sacos de carne fresca para Freddy Krueger
ter algo que fazer no filme.
Além
disso, é simplesmente impossível gostar desses novos personagens pelo simples
motivo do quão estúpidos eles são: Apesar de anos terem se passado desde a
primeira aparição de Freddy no primeiro filme e desde então dezenas de jovens
terem sofrido mortes inexplicáveis, todas elas numa mesma cidadezinha, esses
novos personagens insistem em não acreditar em Freddy Krueger e ignorar
completamente essa epidemia de mortes! Como isso é possível?! Até mesmo em “Mestre
dos Sonhos” os jovens começaram a perceber o quanto a cidade deles era um
péssimo lugar para se crescer, e agora esses idiotas decidem não levar os
avisos de Alice sobre Freddy Krueger a sério e ao invés disso não fazerem nada
e tratarem tudo isso como normal?! E o filme ainda pede que eu me importe caso
eles morram?! (Embora, para o crédito do filme, as mortes são bastante
criativas, com bons efeitos especiais que fazem os personagens fundirem-se com
motos, incharem e até transformarem-se em papel)
E
então temos o nosso querido Freddy Krueger... E infelizmente, o desserviço que “O
Mestre dos Sonhos” fez a ele é completado em “O Maior Horror de Freddy”: A
maior parte do tempo, ele não parece nem se importar muito em matar suas
vítimas, estando apenas “por aí”, fazendo piadas e até dando uma cantada em
Alice (“Oi Alice! Quer fazer bebês?”)! Sem falar que a forma como ele leva suas
mortes na brincadeira soa quase como uma paródia da franquia, com Freddy
transformando-se em uma moto, fantasiando-se de cozinheiro e até andando de
skate! Como se isso não bastasse, a partir de certo ponto do filme parece que
ele mais apanha do que de fato faz qualquer coisa de útil... Lógico que ele
sempre se levanta depois de apanhar como se nada tivesse acontecido, mas ainda
assim, fica difícil considera-lo ameaçador.
Enfim,
resumo da ópera: Não, “O Maior Horror de Freddy” simplesmente não vale nem
mesmo a zoeira. O pouco do filme que poderia ser considerado interessante foi
feito de forma bem melhor nos filmes anteriores, mesmo os ruinzinhos, e os
momentos em que o filme cai na autoparódia, embora possam gerar algumas rizadas
eventuais, são intercalados com cenas que deixam o espectador confuso e tonto
demais para essa ser de fato uma experiência divertida.
Ah,
e antes de terminar, não vamos esquecer a trilha sonora deste filme, que é a
pior que a franquia teve até agora, a ponto de duas de suas canções serem indicadas ao Framboesa de Ouro de Pior
Canção Original: “Let’s Go”, de Kool Moe Dee, que toca durante os créditos
finais (provavelmente uma estratégia daqueles que estavam com vergonha de terem
se envolvido no filme, para que o público saísse o mais rápido possível da
sessão e assim não visse seus nomes); e “Bring Your Daughter... To The
Slaughter”, de Bruce Dickinson (não confundir com a versão cantada pelo Iron
Maiden, que até que é legal), que inclusive ganhou
o Framboesa de Ouro. Como se não bastasse, enquanto o clipe promocional
(sim, naquela época era comum artistas fazerem videoclipes promovendo algum
filme) de “Guerreiros dos Sonhos” apresenta a canção sensacional de Dokken, e o
clipe de “Mestre dos Sonhos” cantado pelos Fat Boys é razoavelmente medíocre, “O
Maior Horror de Freddy” possui um videoclipe inacreditavelmente ruim estrelando
o grupo de hip hop Whodini (porque afinal, quando você pensa em um estilo
musical que combina com “A Hora do Pesadelo”, hip hop é o primeiro que vem à
cabeça, né?). Ah, e para piorar a
trilha sonora do filme, eles ainda têm a pachorra de mexer na canção do Freddy!
Isso mesmo, a canção de pular corda que vinha sendo repetida em todos os filmes
anteriores sem alterações, uma das canções mais famosas da história dos filmes
de terror, por algum motivo aqui tem seu último verso mudado de “Never sleep
again” para “He’s back again”. E vocês ainda esperam que eu seja gentil com
este filme?!
Avaliação: Não vale a zoeira.