Sim,
não me confundi: Este é o nome brasileiro do filme. Suponho que quem quer que
tenha sido responsável por isso achou que como o nome de Stallone no pôster
possui o mesmo tamanho de fonte que o título, os dois deviam ser uma coisa só.
Embora, de certa forma, isso torna o filme mais engraçado: Imagine se o
protagonista é de fato Stallone, que
no seu tempo livre trabalha secretamente em uma divisão de elite do
departamento de polícia de Los Angeles sob a identidade de Marion Cobretti
(sim, esse é o nome do personagem dele)! Admitam, isso tornaria este filme
muito mais interessante!
Eu
sei que há aqueles que acham este filme divertido, mas sendo bem sincero... Eu
concordo com vocês! “Stallone Cobra” é a epítome do filme de ação dos anos 80: Quase
todo clichê que possa ser associado ao gênero está aqui, e nada mais. Mas
sejamos francos entre nós: Justamente por isso não dá pra levar este filme a
sério. Mesmo aqueles que falam que ele é bom são incapazes de dizer isso em voz
alta sem dar um sorrisinho irônico. Então não vamos ficar ofendidinhos por eu
já partir do princípio de que ele é ruim e só pode no máximo valer a zoeira,
ok?
Pra
começar, é quase impossível falar de “Stallone Cobra” sem trata-lo como um
produto de seu tempo. E não estou dizendo isso apenas por ele ter a frase “anos
80” estampada em praticamente toda cena: Cabelos grandes, cigarros, gangues em
jaquetas de couro, policiais estereotipados, paranoia conservadora americana,
um herói que anda por aí com sua arma à mostra sem problemas, trilha sonora pop
com efeitos eletrônicos... Só faltou cocaína pra fechar o bingo!
Mas
não basta o estilo de “Stallone Cobra” ser anos 80 até a medula: As ideias que
ele tenta passar também tem que estar perfeitamente inseridas dentro dos ideais
da era Reagan. Basicamente a mensagem do filme é que se a lei se importar e
agir sempre de acordo com regras que criminosos podem livremente ignorar, a
polícia estará sempre em desvantagem. É uma discussão que admito que é
interessante e que já rendeu sua dose de filmes polêmicos (“Tropa de Elite”
sendo provavelmente o maior representante aqui em terras tupiniquins), porém,
sendo um filme de ação dos anos 80 a solução que “Stallone Cobra” encontra é...
Bem, f#d@-se julgamentos e direitos civis, bora usar força letal mesmo quando
ela é desnecessária e matar todo mundo, porque afinal a lei é cheia de
besteiras e o mundo é cheio de canalhas!
Pode soar como uma
piada, mas fale isso em um tom mais sério e eis a moral da história de “Cobra”.
Sério! O filme até começa com uma narração de Stallone dando estatísticas de
crimes nos EUA em um tom seco e durão... Cujos números, se comparados com as
reais estatísticas de crimes da época, são um pouco exagerados (no mínimo, são
sempre arredondados pra cima), mas a ideia é clara: Criar um sentimento de
paranoia no público e fazer este pensar “se ao menos a polícia pudesse
apenas... livrar o mundo desses
criminosos, se você me entende...”.
Ok,
talvez eu esteja me metendo um pouco demais em discussão política aqui, o que
não é minha área, mas o grande problema em “Stallone Cobra” não é tanto a
mensagem que quer passar (isso fica a critério de cada um), e mais como que passa ela. Afinal, não vamos
esquecer que este é um filme de ação dos anos 80. Não estamos aqui pra ver
temas polêmicos sendo debatidos de forma inteligente; estamos aqui pra ver
Stallone metralhar onda após onda de criminosos. E com onda após onda, quero
dizer bem isso: A contagem de mortes de Marion Cobretti (meu, esse nome
realmente soa estúpido! Melhor chama-lo de Cobra mesmo) é de 41... E o filme
tem apenas 87 minutos! Aliás, pensando agora, ele mata sozinho pelo menos o
dobro de pessoas que o vilão do filme, interpretado por Brian Thompson.
Pera
aí, Brian Thompson... Onde é que eu o vi antes...
Ah,
é... Ele estava nesse filme...
Mas
tudo bem, o filme diz, não há problema em Cobra matar toda essa gente; afinal,
todo criminoso que ele encontra em seu caminho faz parte desse culto anarquista
que “mata os fracos para que os fortes sobrevivam”. É sério! Esse é o nível da “discussão política”
que “Stallone Cobra” tenta desenvolver ao longo de sua duração!
Aliás,
falemos um pouco sobre os vilões deste filme, porque a impressão que se tem é
de que absolutamente tudo em cima deles foi feito do jeito errado. Além de
serem um culto anarquista que mata qualquer um que considere fraco apenas para
justificar que Cobra os mate a todos sem qualquer problema, eles não são
exatamente dos mais inteligentes. Especialmente o líder: Após uma perseguição
de carro em que o carro de Cobra é destruído, ele simplesmente vai embora sem
checar se seu inimigo está morto; e no confronto final, ele diz que Cobra não
irá atirar nele pois assassinato vai contra a lei e portanto Cobra teria que
prendê-lo mesmo depois do mesmo matar
sozinho seu bando de motoqueiros quase inteiro! Digamos que ele é meio
lento, não?
“Stallone
Cobra” afirma ainda que o trunfo deste culto é o fato de seu modus operandi não deixar nenhum padrão
distinguível... Porém o filme também deixa claro que os ferimentos das vítimas
são consistentes entre si; e embora, segundo um noticiário de TV, suas vítimas
incluam qualquer um, desde empresários até imigrantes asiáticos e idosos,
durante os primeiros 25 minutos os vemos atacando quase exclusivamente mulheres
jovens indefesas. Desculpe-me, mas ambos não lhes soam como padrões um tanto
óbvios?! E se for pra tentar defender este filme é até possível dizer que um
caso com padrões assim ainda não foi resolvido porque o culto possui uma membra
infiltrada na polícia, mas honestamente... Não, isso não é desculpa. Aliás, se
tudo isso não faz o culto parecer idiota, o que dizer dos policiais (inclusive
o próprio Cobra e seu parceiro, Gonzales, interpretado por Reni Santoni, e que,
como todo ajudante de Stallone, acaba
se ferrando. Sério, qual é o problema de Stallone com seus parceiros?!), que,
entre outras burrices além de não perceberem tais padrões mesmo depois de 16
assassinatos: 1) Abandonam a sobrevivente de um ataque do culto (interpretada
por Brigitte Nielsen) sozinha no hospital sem qualquer segurança; 2) Não
percebem que o líder do culto está andando coberto de sangue e armado de uma faca
pelo hospital; 3) Deixam Cobra levar a sobrevivente para fora da cidade porque “se
ele acha que aqueles psicóticos irão segui-lo, deixe-o ir, pelo menos os temos
fora da cidade” e não usam isso para fazer absolutamente nada a respeito! Eu
sei que a intenção de “Stallone Cobra” é fazer os policiais parecerem
incompetentes em seu trabalho, mas isso beira ao ridículo!
Ok,
talvez vocês tenham um pouco de razão em julgar que estou levando este filme um
pouco a sério demais; afinal, há motivos para muita gente afirmar que “Cobra” é
para Sylvester Stallone o mesmo que “Comando Para Matar” é para Arnold
Schwarzenegger. Porém só estou levando este filme tão mais a sério do que
merece porque, para ser franco, ele mesmo se leva tão mais a sério do que
merece! E eis a ironia: Por ao final ser apenas a epítome do filme de ação
estúpido dos anos 80, quanto mais ele tenta levar si mesmo a sério, mais
ridículo e engraçado acaba ficando! Falem o que quiserem sobre “Comando Para
Matar” ser o um dos filmes mais estúpidos de Schwarzenegger, mas ao menos é apaixonadamente estúpido. “Stallone
Cobra”, porém, é igualmente estúpido, mas acha que é inteligente. Só que não é
possível levar a sério de verdade qualquer
discussão política vinda de um filme em que o protagonista dirige um Mercury
1950 de placa AWSOM 50 (o tapa na testa é livre) e troca diálogos tais como:
Motoqueiro anarquista: (após invadir um supermercado e
ameaçar Cobra com uma bomba) Irei explodir este lugar inteiro!
Cobra:
Vá em frente, não faço compras aqui.
Ou
Motoqueiro
anarquista: Sou
um herói do novo mundo!
Cobra:
Você é uma doença, e eu sou a cura.
Está
vendo o que quero dizer?! Depois de uma frase de efeito dessas qualquer
política torna-se uma piada!
E
ok, talvez vocês tenham um pouco de razão em julgar que estou sendo um pouco
cruel demais com este filme. Afinal, sim, é ruim, é besta e o diabo a quatro,
mas a verdade é que... Justamente por isso tudo é tão divertido! Dá pra não rir quando as más intenções dos vilões
são estabelecidas pelo ato profano de um maldito motoqueiro estacionar (oh meu
deus!) em uma vaga para deficientes?! Ou quando logo em seguida este mesmo
motoqueiro começar a atirar por um supermercado em qualquer coisa que apareça
na sua frente exceto as pessoas
(suponho que ele tenha um grande ódio por vegetais)?! Sem falar que a
gratuidade da violência, entre explosões e tiroteios que acontecem puramente
por acontecer, é tão hilária quanto a de um filme de Tarantino. Embora,
infelizmente, sem o mesmo senso artístico.
Mas não que “Stallone
Cobra” não tente: Afinal, como a maioria dos filmes dos anos 80, ele possui
esse estranho “senso artístico” que atualmente vemos o quão brega que realmente
é, mas justamente por isso não deixa de no fundo nos fascinar. O que é possível
sequer falar quando a cena seguinte à narração inicial de Stallone é um
motoqueiro correndo pelas ruas sob um filtro vermelho, intercalado por flashes
dos membros do culto batendo machados no que parece ser uma fábrica coberta de
lençóis rasgados. Dá pra ver que a intenção era que fosse artístico e intimidante,
mas trinta anos depois é impossível não comparar essa cena com um videoclipe brega.
Falando
em videoclipe, não vamos esquecer que, como todo bom blockbuster dos anos 80, “Stallone
Cobra” possui uma montagem musical. Aqui, ela ocorre quando Cobra está fazendo
suas investigações pelas sarjetas e zonas de Los Angeles ao som de “Angel of
the City”, intercalado por...
Robôs? Hum... Por que robôs? O que
robôs tem a ver com Cobra fazendo investigações? Aliás, o que eles tem a ver
com qualquer coisa do filme?! Por acaso há uma cena pós-créditos que perdi em
que estes robôs ganham vida e começam a atacar as pessoas? Será que robôs são
na verdade um simbolismo para... ALGUÉM ME EXPLICA POR QUE RAIOS HÁ ROBÔS NESTE
FILME?!
Eh,
acho que é a melhor explicação que terei.
Entendem
por que recomendo assistir este filme pela zoeira? “Stallone Cobra” é tão
recheado de clichês e estereótipos dos anos 80 que aparecem apenas porque sim, que
mesmo que na época tivesse a intenção de ser sério não dá para, agora que isso
tudo já passou, não rir dele. É como uma espécie de vinho muito estranho que,
embora de modo algum fique melhor com o tempo, ao menos gera um maior fascínio,
além de te deixar em um estado de embriaguez que te fará rir à toa de coisas
que, pensando de forma racional, nem são tão engraçadas assim.
Avaliação: Vale a zoeira.
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