Estou
escrevendo isso na quarta-feira, 03 de agosto, logo depois de ir à pré-estreia
de “Esquadrão Suicida”. Embora provavelmente vocês só leiam esta crítica
completa mais tarde, pois o semestre da faculdade começou e portanto meu tempo
pra me dedicar ao blog foi drasticamente reduzido.
Sinto
pena por ter que cortar o barato de muita gente que estava ansiosa para este
filme. Eu mesmo inicialmente estava empolgado: O trailer tinha seus momentos
engraçados (além de ter Queen como trilha sonora de fundo, o que deixa qualquer
coisa melhor), um elenco bastante promissor (especialmente Jared Leto, que todo
mundo estava curioso pra ver como retrataria o Coringa), e sem falar que possui
uma premissa bastante original ao ser um “anti-filme de super herói”,
estrelando não um time de heróis altruístas e dispostos a fazer o bem, mas o
exato contrário: Um grupo de vilões forçados a lutarem por uma boa causa contra
suas vontades. Admita, é uma ideia interessante, não?
Mas
o tempo para a estreia foi se aproximando e fiquei me perguntando: Será que
realmente vai ser tão grande coisa? Afinal, temos praticamente uma dúzia de
personagens principais. Como é que a DC iria lidar com tantos rostos a serem
apresentados? Falando nela, como é que ela cumpriria a promessa de que o filme
seria engraçado e com mais humor que “Homem de Aço” e “Batman v. Superman”? Mas
pensei comigo mesmo “Ah, tudo bem. Pode ser que o filme não seja tão bom quanto
todo mundo espera e pode ser que os críticos deem suas típicas marretadas, mas
vai haver um momento ou outro em que eu vou me surpreender com o quanto estou
me divertindo, não?”.
Eu
só não podia imaginar que o filme seria tão
ruim!
É
isso mesmo que vocês leram: “Esquadrão Suicida” é bem ruinzinho. Não que não
tenha suas coisas boas, mas onde erra... Meu, erra feio!
Ok,
primeiro o enredo: O filme começa com uma oficial do governo americano, Amanda
Waller (interpretada por Viola Davis, embora não irei citar todos os atores
principais do filme porque senão ficaremos aqui o dia inteiro), informando
outros oficiais dos planos que ela tem concebido após os eventos de “Batman v.
Superman”: Usar os principais vilões que eles tiverem à disposição (ou seja,
encarcerados) e obriga-los a executar missões de alto risco (de preferência,
envolvendo meta-humanos) como uma força tarefa ultrassecreta. Se eles forem bem
sucedidos, receberão uma redução de pena. Se não forem, morrem. E se fizerem
alguma gracinha ou tentarem escapar, serão imediatamente mortos e levarão toda
a culpa por tudo que aconteça.
A
força tarefa em si seria liderada pelo braço direito de Waller, Rick Flag, que
contaria com a ajuda de seu próprio braço direito, Katana, e teria como membros
Arlequina, Pistoleiro, Crocodilo, Capitão Bumerangue, El Diablo, Encantadora e
Amarra. Uma vez aprovado o plano, os vilões encarcerados têm nanobombas
implantadas no pescoço, que explodirão ao comando de Waller ou Flag caso eles
achem que alguém não está colaborando.
Ok,
até aí nada que não tenhamos visto já no trailer. Mas e então, quando é que a
ação de verdade começa? Bom, começa quando Encantadora (que é na verdade o espírito
de uma bruxa que possuiu a arqueóloga June Moone, e que não tem uma nanobomba
implantada) usa seus poderes para roubar a estatuazinha (que Waller tinha o
tempo todo) contendo o espírito de seu irmão (cujo nome nunca chegamos a ouvir
no filme, e como não acompanho os quadrinhos da DC não faço ideia de quem seja),
o faz possuir um cara qualquer, e juntos decidem destruir o mundo porque... Os
humanos antes nos reverenciavam como deuses, agora eles reverenciam máquinas,
então vamos destruir os humanos! Essa é toda a explicação que temos.
É,
acho que deu pra perceber que a história de “Esquadrão Suicida” é um tanto
confusa e cheia de furos. Por que Encantadora não recebeu uma nanobomba, como
os outros vilões? Hum... Porque ela só adquire seus poderes caso June invoque a
bruxa, aparentemente? E aliás, quando June fala de noite a palavra mágica que
invoca Encantadora, por que ela fez isso? Ela fez de propósito? Ela estava
sendo manipulada por Encantadora a fazer isso? Por acaso falou a palavra
durante um sonho? Nunca é explicado. Ainda falando nisso, por que ao mostrar
seus relatórios sobre o projeto Esquadrão Suicida, Waller nunca citou que
Encantadora aparentemente tinha um irmão, e que ela tinha guardado o espírito
dele este tempo todo?! E por que ela resolveu guarda-lo no banheiro (pelo menos
é o que parece) ao invés de na mesma maleta ultra segura em que ela guardava o
“coração” de Encantadora, sua única fraqueza?!
Meu
deus, estou falando de uma única sequência de apenas 10 minutos e minha cabeça
já dói de tantas perguntas sem respostas... E as coisas só pioram daqui em
diante.
Falando
em minha cabeça doer, tenho sérias reclamações quanto à direção do filme. O que
é uma pena, considerando que o diretor de “Esquadrão Suicida” (David Ayer) dirigiu
alguns filmes surpreendentemente bons no passado, como “Marcados Para Morrer”, “Corações
de Ferro” e... Ok, talvez só esses dois mesmo. Mas assim que o filme começa
percebe-se que ele não foi uma boa escolha para dirigir um filme de “super-heróis”.
Odeio usar esta palavra, pois pode soar pesada demais, mas... Se for pra
descrever a direção de Ayer em “Esquadrão Suicida” em uma única palavra, é irritante. Pegue, por exemplo, o começo
do filme, com Waller mostrando as fichas dos vilões que comporão seu esquadrão
e, à medida que os apresenta, o filme mostra flashbacks com as, digamos, “histórias
de origem” deles, e como eles foram parar em suas mãos. É uma cena que no papel
pareceria interessante, com os nomes e habilidades dos vilões aparecendo na
tela, algo como num filme de Tarantino. Porém na prática é quase impossível ler
o que está escrito, e estes flashbacks se prolongam tanto que, mesmo não ocupando
tanto tempo do total, quando estas apresentações terminam tem-se a impressão de
que quase metade do filme se passou só nisso!
Como
se não bastasse, a edição é irritante, com constantes usos de câmeras lentas e fast-forwards, 90% dos quais são
completamente desnecessários e ainda por cima dão ao filme um ar meio
contraditório: fast-forwards são
usados para tornar o filme mais frenético, porém aqui são usados em cenas em
que nada acontece que justifique essa “freneticidade”. Por outro lado, câmeras
lentas são usadas ora para nos dar uma melhor ideia do que está acontecendo
durante uma cena de ação, ora como uma pausa dramática, porém em “Esquadrão
Suicida” as câmeras lentas durante a ação são usadas em coreografias simples, e
a pausa dramática no clímax do filme é longa demais e acaba perdendo o timing.
Porém
o momento em que se percebe que Ayer não sabia muito bem como dirigir este
filme é quando a ação começa. Como falar dela? Em primeiro lugar, o pior de
todos os problemas: Quase todas as sequências de ação são filmadas no escuro. E
até aí, não seria tão problemático assim. Falem o que quiserem de “Batman v.
Superman”, mas pelo menos aquele filme mostrou que Zack Snyder sabe filmar uma
boa luta noturna. Este, porém, não é o caso aqui: Além de toda a ação do filme
ser de noite e com pouca iluminação ambiente (e, em certo ponto, na chuva ainda
por cima), quase todos os personagens usam roupas escuras, tudo isso resultando
em lutas nas quais é difícil ver o que está acontecendo, dando a impressão de
que os protagonistas estão enfrentando uma massa amorfa indistinguível (o que,
de certa forma, eles estão). O que é triste, porque algumas das coreografias
parecem ter sido bem elaboradas, especialmente no clímax contra a Encantadora
em pessoa, porém acaba não dando pra vê-las muito bem.
E
como se não bastasse, há o 3-D. Ai, ai... Dá pra dizer que Ayer levou o 3-D em
consideração ao filmar “Esquadrão Suicida”. O problema é que com isso quero
dizer que coisas são constantemente jogadas na nossa cara durante o filme. Ok,
ainda há algumas cenas em que o 3-D é usado para nos dar uma experiência “imersiva”,
separar os planos da cena e dar assim um maior realismo ao que vemos. Ou pelo
menos, esta era a intenção, pois muitas vezes a imagem acaba ficando meio
borrada no processo, o que me deu uma dor nos olhos... E quando a ação começa,
é magias, projeteis e pedaços de corpos sendo arremessados contra o público. Eu
diria que parece que Ayer queria bater no cameraman, se quase tudo que é jogado
contra nós não fosse computadorizado. E uma vez ou outra um filme 3-D jogar
algo na nossa cara pra nos acordar é até legalzinho, mas “Esquadrão Suicida”
faz isso o tempo todo! Tenho até pena
de quem assistirá este filme em 2-D ou na TV, e terá a mesma experiência daquele
seu colega que fica esticando e recolhendo os dedos na frente da sua cara só
pra te irritar.
Como
se não bastasse, até mesmo a trilha sonora é mal utilizada! Tá bom, Queen se
salva (embora, se você não sabe usar Queen apropriadamente em seu filme, você
precisa repensar algumas coisas), mas outras não têm a mesma sorte, soando
apenas como ruído de fundo independente da qualidade. E olha que Ayer até
tentou dar-lhes algum sentido dentro do contexto do filme, uma vez que se
analisa as letras, porém mais de uma vez o ritmo da música não combina com a
cena em que toca.
E quanto ao humor, o que a DC prometeu que seria o trunfo do filme? Bom... Mais
uma vez, uma ou outra piada de fato soa engraçada no papel (admita que você riu
pelo menos uma vez durante o trailer), porém sua execução acaba estragando-as. Isso porque por mais que o roteiro
tente ser bem-humorado e leve, “Esquadrão Suicida” ainda possui aquele tom
sombrio e deprê já estabelecido nesta franquia, o que faz o humor soar, como
posso dizer... embaraçoso. Mais ou
menos como aquela pessoa que tenta tornar o ambiente mais agradável durante um
enterro; você percebe que ela tem uma boa intenção, mas simplesmente não é a
ocasião certa pra isso (ok, essa foi uma comparação realmente pesada). Pegue, por exemplo, a cena do bar que aparece no
segundo ou terceiro trailer: Eles de fato fazem algumas piadas entre si, porém
o contexto da cena é tão deprimente e a ambientação é tão pesada que
simplesmente não dá pra rir!
Mas
no geral, “Esquadrão Suicida” possui um último grande problema, que, em certo
grau, é semelhante ao grande problema de “Batman v. Superman”: Os criadores do
filme não souberam como lidar com tudo o que queriam mostrar. Note os
flashbacks logo no começo: Os primeiros, mostrando as origens de Arlequina e
Pistoleiro, são super longos, porém depois deles os flashbacks vão ficando cada
vez mais curtos, como se alguém tivesse dito “eita, isso aqui está ocupando
tempo demais do filme, estamos ainda no primeiro ato!”. O resultado é que
personagens como Capitão Bumerangue e Encantadora acabam soando superficiais
demais, e mesmo quando somos contados que o marido de Katana foi assassinado,
esta exposição é tão apressada que não conseguimos nos importar. E é uma pena
os personagens terem um tratamento tão superficial, pois, se for pra dar um
elogio ao filme, é que o elenco está realmente investido, com todos querendo realmente
fazer o melhor que podem com o que o roteiro e a direção lhes dão. Mas isso
infelizmente acaba não sendo suficiente para nos importarmos com a maioria
deles. Amarra, por exemplo, acaba nem tendo sua história de origem, temos que
apenas aceitar que ele é um vilão e que foi capturado. Aliás, sei que isso é um
pequeno SPOILER, mas se o filme não se importa, por que irei me importar:
FIQUEI MUITO INDIGNADO COM O QUE FIZERAM COM O AMARRA! Ele aparece apenas cinco
minutos no filme inteiro, tem uma única fala, e então... Como assim?!
Se
ao menos isso fosse tudo que o filme quisesse mostrar, as duas horas de duração
até seriam o suficiente. Infelizmente, é preciso também mostrar um subenredo envolvendo
Coringa tentando resgatar Arlequina (que, caso vocês não saibam, é a namorada
louca dele). Seria um subenredo interessante, se não fosse o fato de o filme já
estar lidando com mais personagens do que aguenta, então o que se faz é que
eventualmente aqui e ali Jared Leto aparece, diz qualquer coisa que soa apenas
como “Oiiii, eu sou o Coringa e estou neste filme!” e então volta a
desaparecer. O que é uma pena, pois Leto é um Coringa realmente muito bom
(notem a cara dele quando finalmente lhe é contado onde Arlequina está), embora
o roteiro faz dele mais uma espécie de gângster louco do que de fato o “palhaço
psicopata anárquico e charmoso” que ele é. Ah, e Batman e Flash têm suas
pontas. Desculpe se isso pareceu meio do nada e adicionado na última hora, mas
assim também são eles.
Mas
se você quer uma prova do quanto o filme não sabia lidar consigo mesmo, é o
terceiro ato. Dá pra ver que a ideia era que ele fosse algo como o terceiro ato
de “Os Vingadores”, em que eles finalmente se unem e enfrentam o vilão, agora
com vontade. Porém isso acaba sendo tratado de forma tão superficial que soa
infantil. Sim, infantil é a palavra
que melhor descreve o terceiro ato, com o Esquadrão se unindo de vez por um
motivo quase tão do nada quanto “Martha!” (a internet nunca perdoará isso) e um
dos personagens chamando o resto do Esquadrão de “família”, apesar de eles só
se conhecerem a menos de 24 horas e não terem até então nenhum laço real que os
una. Sem falar no clímax, com dois momentos aparentemente dramáticos que
simplesmente não têm o efeito desejado: Um por não nos dar tempo de nos
investir emocionalmente, a ponto de após a sessão ficarmos nos perguntando “Pera
aí, isso aconteceu mesmo?!”, e o outro por ter uma conclusão ridícula demais
pra ser levada a sério.
Honestamente,
eu não sei o que a DC fará depois deste filme, pois “Esquadrão Suicida” mostra
o quanto ela precisa rever alguns dos conceitos que ela tem mantido em seus
filmes se quiser que esta franquia sobreviva tanto quanto o Universo
Cinematográfico da Marvel. Só espero que eles já tenham se tocado a tempo de
salvar “Mulher Maravilha” e “Liga da Justiça”.
Avaliação: Não vale a pena
Eu adoro a trilha sonora do filme, embora eu sinta que eles criticaram isso também e eu, pessoalmente, se eu gostar li que o diretor é David Ayer, é um diretor dos mais talentosos de Hollywood. O filme superou as minhas expectativas, realmente o recomendo.
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