segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Vale a Zoeira: Jornada nas Estrelas: O Filme


            Ok, mais uma vez eu juro que isso é só uma coincidência! Quero dizer, mais ou menos, eu sabia que iria ser lançado um novo filme de “Jornada nas Estrelas” este ano e pretendia então assistir a série original a tempo de escrever sobre “Jornada nas Estrelas: O Filme” antes deste novo ser lançado. Porém o aperto na faculdade atrasou meus planos e, portanto, só agora consegui terminar de assistir a série original. Mas ei, ao menos poderei tirar sarro deste filme enquanto ainda tem um “Jornada nas Estrelas” nos cinemas!

            É impossível falar da história do cinema e da TV sem topar com esta franquia. Foi sua série original que, nos anos 60, provou o quão inteligente podia ser a ficção científica, gênero até então considerado “B”. Mostrando as aventuras da nave Enterprise em sua missão para “explorar mundos novos e estranhos, procurar novas vidas e civilizações e ousadamente ir aonde nenhum homem jamais foi”, “Jornada nas Estrelas” usava da ficção científica como pano de fundo para abordar temas complexos e dilemas humanos profundos. Tanto que seu episódio piloto foi inicialmente recusado por ser considerado então “cerebral demais” (é sério!)! E mesmo quando não lidava com temas intelectuais, ainda conseguia ser de uma qualidade superior à maioria devido a seus roteiros bem escritos e personagens carismáticos, especialmente o trio principal: Capitão James T. Kirk (interpretado de forma hilariamente exagerada por William Shatner), segundo em comando Spock (Leonard Nimoy) e oficial médico “Bones” McCoy (DeForest Kelley), com personalidades distintas e complementares entre si.
            Após o cancelamento da série depois de apenas três temporadas, uma longa tentativa de revivê-la nos anos 70 começou. Não vou ficar contando aqui todos os detalhes porque enrolaria demais, mas recomendo pesquisarem para verem o quão enrolado o processo de produção de uma franquia pode ser (e quanta incompetência pode estar envolvida). Mas, de uma forma ou de outra, nove anos após o cancelamento de “Jornada nas Estrelas”, foi lançado “Jornada nas Estrelas: O Filme”... E meu, que decepção!

            Eu sei que há aqueles que legitimamente gostam deste filme, e odeio cortar o barato de vocês... Mas me desculpem, vocês são a minoria. A maioria, mesmo entre fãs de “Jornada nas Estrelas”, admite que este foi o início de uma “maldição” que seguiria os filmes da franquia por décadas, na qual os de número par seriam ótimos, mas os de número ímpar definitivamente não valeriam tanto a pena. E sendo “Jornada nas Estrelas: O Filme” de número 1... Mas, como vocês viram no título da postagem, vejamos aqui se é possível tirar algum proveito dele.
            O filme começa com três naves klingons aproximando-se de algum tipo de nuvem espacial misteriosa e...

            AAAAAAHHHHH!!!! O que raios aconteceu com os klingons?! Desde quando eles têm o que quer que esteja saindo da testa deles?! Até onde eu me lembro, na série original eles pareciam apenas humanos com uns pelos faciais estranhos e o rosto meio sujo de graxa!

            E antes que algum fã de mais longa data venha me encher o saco: eu sei que há uma explicação oficial para isso! E eu sei que com os anos este novo design com a testa estranha se tornou oficial para os klingons! Mas eis a questão: Quando o filme foi originalmente lançado, não havia explicação nenhuma, e o design oficial continuava sendo o dos rostos engraxados! Então a minha confusão aqui é provavelmente a mesma dos fãs que assistiram o filme quando ele estreou!
            Enfim, sendo klingons, ao verem a nuvem espacial misteriosa a reação imediata deles é atirar nela. A nuvem não recebe isso bem e vaporiza as naves.

            Cortamos então para a Terra, onde Kirk, agora promovido a almirante e não mais fazendo parte da tripulação da Enterprise, descobre que a nuvem está se dirigindo justamente a seu planeta, e a única nave da Frota Estelar próxima o suficiente para intercepta-la a tempo é, vocês adivinharam, a Enterprise, que está passando por reformas que ainda não foram testadas. O que Kirk então faz? Ignora que a Enterprise já possui um novo capitão com conhecimento das reformas (que, aliás, é interpretado por Stephen Collins. E me desculpe, mas por melhor que ele atue neste filme, uma vez que você pesquisa-lo na Wikipedia como eu fiz, perderá qualquer respeito por ele) e assume o comando da nave para si para liderar a missão. Por quê? Bom... Porque ele quer!
            Eis aonde “Jornada nas Estrelas: O Filme” começa a ficar realmente ruim. Como eu disse antes, uma das qualidades fundamentais da série eram seus personagens carismáticos. Afinal, sendo “Jornada nas Estrelas” uma série episódica, era necessário ela ter personagens bem concebidos e escritos para que quiséssemos ver as aventuras deles episódio após episódio. Em “Jornada nas Estrelas: O Filme”, porém, justamente nosso protagonista, Kirk, é extremamente irritante. Sim, na série ele era dinâmico e exageradamente confiante, porém dentro dos limites e com qualidades o suficiente para compensar seus defeitos. Aqui, porém, ele age ao longo do filme inteiro como um idiota insistente que acha que está correto em qualquer decisão apenas por ter experiência em uma nave que já não é mais a mesma!

            Eu diria que as atitudes dele quase levam a tripulação da Enterprise à morte, mas a verdade é que... Elas acabam levando sim! Apenas dois minutos após se autodeclarar capitão da Enterprise, ocorre um problema no transportador quando dois membros da tripulação tentam ser trazidos para dentro da nave. O que Kirk faz? Arranca os controles da mão da mulher treinada para isso e tenta transporta-los por conta própria, mesmo, como lhe é avisado, não conhecendo um décimo da nova Enterprise. E adivinha só? Os dois membros da tripulação morrem, não sem antes serem desfigurados a ponto de a frota estelar dizer que “o que eles receberam de volta não viveu muito. Felizmente”. Uau, duas casualidades antes mesmo de a nave sair da doca! Belo começo, Kirk!
            Aliás, podemos falar do quão perturbadora esta cena é?! Não basta termos dois personagens que mal conhecemos sendo desfigurados até a morte, mas é uma cena que, no total, é praticamente irrelevante para o enredo! Mal tínhamos visto esses personagens antes, e eles nunca mais são citados depois! Por que precisávamos assistir uma coisa desagradável dessas?!

            Mas não se preocupem, esta não será a única vez que Kirk fará tudo errado apenas para satisfazer seu ego. Não, não: Logo depois de saírem da doca, Kirk ordena os engenheiros da Enterprise a entrarem em dobra espacial (aka propulsão mais rápida que a velocidade da luz), e quando é avisado de que é necessário antes fazer uma simulação, ele simplesmente diz algo como “f#da-se simulação, quero dobra agora!”. O que acontece? A Enterprise entra num buraco de minhoca e quase colide com um asteroide! E ele ainda quase mata a tripulação de novo quando ordena atirarem os phasers, algo que nesta situação e com as novas reformas destruiria a Enterprise. E quando o capitão original (que, aliás, se chama Decker) faz a coisa certa ao cancelar a ordem de atirar e destruir o asteroide de outra forma, Kirk não fica nem um pouco feliz e arrasta Decker até seus aposentos exigindo uma explicação, e ainda fica irritado quando este aponta quando ele está obviamente errado.
            Desculpe-me, é de propósito que os criadores deste filme estão fazendo de tudo para que eu odeie Kirk?! Os personagens são uma das coisas que tornaram “Jornada nas Estrelas” uma série grandiosa, então um filme de “Jornada nas Estrelas” com personagens pelos quais não simpatizamos está começando do jeito errado!

            Mas tudo bem. Digamos que eu esteja sendo apenas cri-cri. Digamos que os personagens não sejam assim tão importantes dentro do contexto do filme, pois digamos que ele consegue ainda assim ser bom entretenimento inteligente. É este o caso?
            Bom, eis aí o segundo grande problema deste filme: Não é bom entretenimento. Por quê? Porque “Jornada nas Estrelas: O Filme” é lento quase ao ponto de paralisia! Cenas são arrastadas até esgotar a paciência do público e fazer este gritar para pular o que quer que esteja acontecendo. Ou, mais exatamente, o que não está acontecendo, é só o diretor mostrando do que o orçamento do filme é capaz. Ok, ok, mas mostre um pouco mais rápido, por favor, antes que eu durma!

                Pegue, por exemplo, a cena em que Kirk voa até a Enterprise em uma nave auxiliar. É só e apenas isso que acontece, nada mais. E a cena dura cinco. Longos. Minutos. 290 segundos (sim, eu contei) em que vemos apenas tomadas mostrando cada milímetro do exterior da Enterprise, até sermos capazes de contar suas janelas, alternadas com tomadas de Kirk reagindo. Nem um único espaço da nave é deixado misericordiosamente de fora. E só. Nem mesmo há diálogos, é só Kirk voando ao redor da Enterprise.
            Mas você acha que acabou? Porque adivinha só, quando a Enterprise sai da doca, temos mais DOIS minutos de nada acontecendo. Deus. Do. Céu! Parece pouco, mas é sentido como se fosse uma hora! E isso porque Kirk deixou claro o quão rápido eles precisam ir até a nuvem do mal! Desculpe, mas isso não é empolgante, é chato! Muito, muito chato!

            Mas se você ainda não dormiu com isso, não se preocupe, porque a verdadeira cura pra insônia começa quando eles enfim chegam à nuvem espacial do mal e entram nela... Muito... Muito... Muuuuuuito lentameeeeenteeeeee. E tudo o que se fala é um comentário de Spock (ou, como William Shatner fala ao longo do filme, “SpOck!”) sobre os padrões da nuvem serem irreconhecíveis. E dessa vez, é por DEZ agonizantes minutos que simplesmente vão indo por toda a eternidade sem que ninguém faça nada ou algo aconteça. Não há ação, não há empolgação, não há sequer humor, só longas e entediantes tomadas da nuvem e da máquina dentro dela com cada vez menos cortes. Chega uma hora que até os atores se cansam de fingir alguma reação, então o que se espera do público?! E essa lenta tortura só para (literalmente) quando a Enterprise se vê diante de uma parte da máquina que digamos que lembra uma parte bem... “Específica” do corpo (dica: Tente não ser imaturo(a) quando Spock diz que eles estão em frente do “orifício”). A quem isso estava apelando?! Olha que assisti e gostei de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, e mesmo assim não estava me aguentando quieto vendo isso!
            Aliás, eis algo a ser discutido: Por que afinal este filme não é “2001: Uma Odisseia no Espaço”? Afinal, está claramente tentando ser! Muitas das cenas são tão obviamente “inspiradas” (pra não dizer “imitadas”) no filme de Kubrick que é difícil não fazer essa comparação! Vejam por conta própria:

















            O filme até tem aqueles minutos de tela preta com música antes de aparecer o logo do estúdio! É uma imitação que já seria triste vinda de qualquer diretor, mas fica ainda mais triste sabendo que este filme foi dirigido pelo veterano Robert Wise, o mesmo de clássicos como “O Dia em que a Terra Parou”, “Amor, Sublime Amor”, “Desafio do Além” e “A Noviça Rebelde”. Pra que fazer isso?!
            Mas mesmo considerando esta imitação como uma mera “homenagem”, por que o que em “2001” foi considerado brilhante em “Jornada nas Estrelas” é considerado chato? Bom, por dois motivos bastante parecidos: Proposta e propósito.
A proposta de “2001” era fazer uma experiência audiovisual transcendental, algo como uma “poesia cinematográfica”. Essa, porém, nunca foi a proposta de “Jornada nas Estrelas”. A proposta da franquia sempre foi trazer personagens e ideias interessantes, por vezes até provocativas para sua época, mas sempre de forma racional, não transcendental. Em “Jornada das Estrelas: O Filme”, porém, os personagens são ou irritantes ou irrelevantes, e as ideias abordadas não são tão novas assim, mesmo para a época (muitos já comentaram o quão parecido o enredo do filme é com o do episódio “The Changeling” da segunda temporada da série original). Então o filme tentar se focar em ser uma “experiência cinematográfica” simplesmente soa confusa.
Mas mesmo se você aceita-lo como um filme em si, fora das propostas da franquia, há a questão do propósito. “2001” é um filme interessante justamente porque, apesar de sua extrema lentidão, é possível perceber que todo mínimo detalhe do filme tem seu significado, está querendo transmitir uma mensagem, por mais sutil que seja. Quando, porém, “Jornada nas Estrelas: O Filme” procura fazer as mesmas coisas sem o mesmo significado por trás, todo o interesse se esvai e sobra apenas a chatice. Quando “2001” deixa a tela preta por cinco minutos antes do logo do estúdio, é porque o filme narra a história da evolução da humanidade, e assim a falta de imagens simboliza que “no início havia o nada”. Quando “Jornada nas Estrelas” faz a mesma coisa, porém sem o mesmo propósito, a tela preta soa apenas como encheção de linguiça. Claro, fãs do filme podem argumentar que ao final o filme possui um tema razoavelmente parecido, porém ele é abordado tão na última hora e de forma tão superficial que não justifica todas as horas e horas de nada acontecendo.

            Mas ainda não respondi a pergunta: Vale a pena assistir “Jornada nas Estrelas: O Filme” nem que seja pra zoar? Bom, fora os figurinos ridículos (sim, os novos figurinos do filme conseguem ser ainda mais ridículos que os pijamas e minissaias da série original), não há muito o que legitimamente se divertir com este filme. A menos que sua ideia de diversão seja gritar “Corta logo!” e “Pula essa cena!” por duas horas...


Avaliação: Não vale a zoeira

Um comentário:

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