terça-feira, 5 de julho de 2016

Sexta-Feira 13 Parte IV - Capítulo Final

            Nossa, agora que reparei quantos filmes que eu deixei de criticar ultimamente. Quero dizer, foi “Invocação do Mal 2” sem “Invocação do Mal”, “Rocky Balboa” sem “Rocky V”, “Procurando Dory” sem “Procurando Nemo”... E agora “Sexta-Feira 13 Parte IV – Capítulo Final” sem “Sexta-Feira 13 – Parte II” e “Sexta-Feira 13 – Parte III”!

            Embora não sem certa justificativa, mesmo que um pouco aleatória: “Invocação do Mal 2” e “Procurando Dory” estrearam antes que eu pudesse falar sobre seus antecessores, e “Rocky V” é tão decepcionante que nem dá pra avaliar como “não vale a pena”. Quanto aos filmes de “Sexta-Feira 13”, como há um monte deles e honestamente o que vi não me animou muito, irei falar aqui apenas dos que tem um mínimo de chance de valerem a pena... Embora com mínimo eu não quero dizer que necessariamente eles valerão.
Por que então digo que “Parte IV” tem essa chance? Porque, ao contrário dos dois filmes que o antecederam, esse parece pelo menos com um filme profissional. Um filme profissional fraco e não tão bem dirigido assim, mas ainda assim um filme profissional. Talvez devido ao fato de que dessa vez o diretor, Joseph Zito, havia já dirigido pelo menos um filme relevante antes de se envolver em “Sexta-Feira 13”. Está certo que esse filme é “Quem Matou Rosemary?”, mas ao menos ele demonstra alguns sinais de competência.
Mesmo que você não tenha assistido as partes II e II, não se preocupe: Há um prólogo de cinco minutos na parte IV que explica tudo o que você precisa saber: Jason estava vivo este tempo todo, tendo crescido como um velho retardado (não, sério, é assim que eles o chamam na parte II) que, após ver sua mãe sendo morta no fim do primeiro filme, acha que pode ressuscita-la matando adolescentes com os quais não nos importamos, como ela fazia. E assim ele faz, matando adolescentes com os quais não nos importamos na parte II e de novo matando adolescentes com os quais não nos importamos na parte III. Ah, e eventualmente passando a usar uma máscara de hóquei. Seguindo em frente...
“Parte IV” começa exatamente aonde o terceiro filme terminou... Que, por sua vez, também começa exatamente onde o segundo filme terminou... Ou seja, este filme que se chama “Sexta-Feira 13” nem sequer começa numa sexta-feira 13, mas sim numa noite de domingo 15. E a maior parte do filme se passa nos dois dias seguintes, segunda 16 e terça 17.
            Já ouvi falar de um filme não fazer jus ao nome, mas isso é ridículo!

            Falando em não fazer jus ao título, há a questão de este filme se chamar “Capítulo Final”. Está certo que de fato a Paramount queria terminar a franquia por aqui. Mais especificamente, quem queria terminar com ela era o próprio produtor, Frank Mancuso, Jr., cujo único outro trabalho havia sido em “Sexta-Feira 13 - Parte III”, e portanto não se sentia respeitado pelos outros produtores da Paramount. Logo, unindo sua vontade de produzir outros trabalhos com o fato de a Paramount estar ciente de que em 1984 as pessoas já não estavam mais se interessando tanto por filmes slashers, decidiu-se acabar logo com estes filmes.
            Porém, no final daquele mesmo ano, a New Line Cinema lançou “A Hora do Pesadelo”, que provou que a suposição da perda de interesse por slashers não era de todo verdadeira. E o resto...
Bom, o resto já sabemos.
Mas voltando a “Parte IV”. Vemos o corpo presumidamente morto de Jason sendo levado ao necrotério de um hospital, com direito a um médico tarado e a uma enfermeira que decide transar com ele... No necrotério... Exatamente ao lado do corpo de Jason... Urgh.
            Como já foi estabelecido, o barulho de sexo incomoda tanto Jason que é capaz de despertá-lo até mesmo do ferimento mais mortal, fazendo com que ele mova o braço e assustando o casal, o que nos leva a possivelmente dois dos diálogos mais engraçadas do filme: “Santa m***a do natal saltitante!”, quando o médico se assusta, seguido por “Aonde você vai?” “Eu digo aonde eu vou: Eu vou ficar louca!”.
            Ah, clássicos diálogos escritos por um roteirista que o diretor contratou clandestinamente porque não queria ter o trabalho duplo de dirigir e escrever, mas queria ainda assim receber o dobro do salário... Não, sério, essa história é real, pesquisem!

            Lógico que esse casal não importa de verdade e é imediatamente morto, e então somos introduzidos aos verdadeiros protagonistas do filme, uma tal de família Jarvis, constituída pela mãe, interpretada por Joan Freeman; a filha mais velha Trish, interpretada por Kimberly Beck; e o filho mais novo Tommy, interpretado por...

                Corey Feldman? Tipo, o mesmo Corey Feldman de “Gremlins”, “Os Goonies” e “Conta Comigo”? O que você está fazendo aqui?!
            E aliás, o filme nem tenta botar uma maquiagem ou qualquer coisa assim pra esconder o fato de que Joan Freeman é jovem demais para interpretar o papel de mãe da família. Quero dizer, ela é apenas catorze anos mais velha que Kimberly Beck! Quando as duas estão correndo juntas, você jura que elas são irmãs!
            De qualquer forma, os Jarvis estão na casa de veraneio deles, e descobrem que o chalé ao lado foi alugado. E adivinhem onde ambos ficam? Isso mesmo, em Crystal Lake! Sabem, eu não sou nenhum perito criminal, mas depois que em um único fim de semana mais de vinte pessoas são assassinadas no mesmo local, ele não devia estar, sei lá, isolado pela polícia? Pelo menos com uma faixa amarela em volta e alguns policiais e repórteres andando por aí? Não? Simplesmente, vida normal, ignorando o massacre apenas um dia depois de ele acontecer? Está bem então.

            Onde é que eu estava mesmo? Ah, sim, o chalé ao lado foi alugado. E adivinhem quem que o alugou? Isso mesmo, mais um bando de adolescentes com os quais não nos importamos!
            Ok, talvez eu esteja sendo um pouco injusto. Temos, deixa eu ver, temos um, temos outro, mais um, alguém, não me pergunte o nome e...

            Crispin Glover?! Mas o que está acontecendo?! Desde quando Sexta-Feira 13 é esse revelador de talentos?! Primeiro Kevin Bacon no primeiro filme, e agora Corey Feldman e Crispin Glover! Não faz sentido isso!
            Enfim, o bando de jovens vai pra Crystal pra ter uma festa entre eles, conhecem duas irmãs gêmeas que aos 17 anos continuam se vestindo exatamente iguais independente da roupa (elas trocam de roupa de uma cena para outra, mas é sempre combinando), o que realmente dificulta eu ter ideia (e me importar) de qual é qual... E Jason mata eles um por um! Simples assim! O que foi, achava que haveria algum grande drama que faria o público se sentir emocionalmente investido por eles? Não! Simplesmente... Eles vão morrendo! É isso!

            Ok, talvez eu esteja sendo um pouco cruel demais com o filme, ainda mais considerando que eu afirmei anteriormente que este é um dos filmes de “Sexta-Feira 13” que valem minimamente a pena. E que mínimo seria este?
            Em primeiro lugar, por mais que os adolescentes ocupem uma grande parte do filme, os personagens principais são de fato os Jarvis. Essa é a primeira vez que vemos Jason atacando uma família, e é satisfatório ver que os responsáveis por este filme estavam ao menos tentando colocar como protagonistas personagens que não iríamos querer ver mortos, o que deixa o confronto final entre os Jarvis e Jason um tanto interessante de se ver.
            Maaaaaaas... Não que isso esteja livre de problemas. Isso porque embora sejam os protagonistas, não vemos os Jarvis durante uma boa parte do filme. Há até um momento na marca dos 35 minutos do filme em que eles simplesmente desaparecem e só voltam a aparecer quase vinte minutos depois! No total, eles não aparecem por algo em torno de um quarto do filme, senão mais!
            Quanto aos adolescentes, talvez eles não sejam tão esquecíveis assim. O drama pessoal do personagem de Crispin Glover é razoavelmente interessante de se acompanhar, com ele tentando superar que uma garota o rejeitou por considera-lo um “f**a morta”, como seu amigo (interpretado por Lawrence Monoson) o chama. Aliás, o amigo dele pode até ser um tanto propositalmente chato, mas pelo menos é “lembrável” (“memorável” talvez seja uma palavra solene demais), principalmente por constantemente dar conselhos amorosos a Glover, mas ser rejeitado por todas as garotas do filme, acabando por ficar sozinho com um cigarro de maconha e um rolo de filmes mudos pornôs (ok, isso soa ainda mais estranho escrito do que assistido). E mesmo entre as garotas, há o drama de uma que tenta criar coragem para perder a virgindade. É o tipo de personagens que seria possível encontrar em um filme de John Hughes. Há até um pouco de humor legítimo, o ponto alto sendo uma cena em que Crispin Glover dança de uma forma que só pode ser descrita como... O que se esperaria de Crispin Glover dançando. Segundo boatos, originalmente estava tocando “Back in Black” no set de filmagem, mas o diretor resolveu trocar a música durante a edição para “Love is a Lie”, pra ficar ainda mais estranha a dança.

            Maaaaaas... Infelizmente Joseph Zito não é nenhum John Hughes. O humor na maior parte do tempo não é lá grande coisa (o amigo de Crispin Glover chamando-o de f**a morta rapidamente perde a graça), e a maioria dos personagens continuam sendo apenas rostos com nomes, cujos dramas são abordados de forma tão superficial que é preciso muito esforço pra se importar. E fora Glover (desculpe, mas é que ele é de fato uma das poucas coisas verdadeiramente boas deste filme), os outros atores pouco parecem sequer se esforçar. Apenas notem os gritos deles quando morrem. Já vi gritos mais convincentes em filmes trash universitários (alô, galera de comunicação!). Há até um personagem que ainda não abordei (talvez porque ele seja meio inútil, no final das contas) que quando é atacado começa a gritar “Aaaaahhh, ele está me matando!” antes mesmo que Jason de fato o acerte com uma chave inglesa. Quem é que deixou isso passar?!
            Falando nas mortes... Elas não são necessariamente mais ou menos brutais que as dos filmes anteriores. Há uma ou outra que de fato me fez encolher exclamando “Uuuhh!”, como uma que ocorre no lago e outra envolvendo um chuveiro, porém por outro lado há duas que mal chegamos a ver. Mas mesmo que talvez sejam mais brutais, infelizmente é preciso admitir que elas não são muito inovadoras, mesmo dentro do filme. Querem ver? Apenas contem quantas vezes Jason quebra janelas. Eu sei que por algum motivo ele odeia vidro, mas aqui ele deve ter batido algum recorde!

            Mas pelo menos é preciso dar o devido crédito aos efeitos especiais e à maquiagem do filme, que estão bem convincentes. Mas, quando um gênio como o maquiador Tom Savini está envolvido, não há do que reclamar. Aliás, para os fãs de seu trabalho, há um momento do filme em que diversos artigos da coleção pessoal de Savini aparecem em cena.
            Ao final, “Sexta-Feira 13 Parte IV” pode ser considerado divertido para fãs de filmes de terror? Bom, talvez, mas isso não o impede de ser uma porcaria. Me desculpe, não importa o quão brutal este filme seja, não dá pra não se incomodar com o quanto, apesar de algumas ideias interessantes, este filme é genérico. Jason mata mais alguns adolescentes, e daí? Fora eventuais aparições de Corey Feldman e Crispin Glover, não há muita coisa nova para se ver aqui. Ainda assim, comparado com o que veio tanto antes quanto depois, admito que “Parte IV” não parece apenas mais uma continuação estúpida feita apenas pelo dinheiro, nem mergulha de cabeça no besteirol como outros filmes da franquia. Há de fato algumas coisas que são feitas do jeito como deveriam ser, o que faz com que este esteja longe de ser o ponto baixo da série. Mas ainda assim...


Avaliação: Não vale a pena.

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