Faz um bom tempo que não posto um “Vale
a Zoeira”! Curioso, considerando que este bloco foi uma ideia que eu queria pôr
em prática desde antes de criar meu blog... Apesar de estas postagens raramente
serem boas.
Afinal,
o que é que me fascina tanto em filmes ruins? Está certo que há aqueles filmes
que são simplesmente chatos e sem graça, e portanto não há qualquer motivo para
assisti-los; mas há também aqueles filmes tão bizarros, tão incompetentes, que
não dá pra não rir ao assisti-los! É o que muitos chamam de “tão ruim que é bom”,
e essa não é uma definição errônea: Ao final a ruindade do que você está vendo
é tão óbvia, tão escrachada, que você acaba se divertindo, incrédulo enquanto
se pergunta como é que ninguém durante a produção virou-se e disse “Sabem,
talvez isso seja uma má ideia”.
Com
isso dito, vamos a “Dungeons & Dragons – A Aventura Começa Agora”.

Sim,
mais cedo ou mais tarde eu precisava trazer este filme à mesa. E o motivo é bem
simples: Este é um daqueles belos exemplos de um filme que fez absolutamente tudo errado. Em 107
minutos de duração, não é possível encontrar uma única qualidade que o
redima... E mesmo assim, o que “Dungeons & Dragons” faz de errado, ele faz gloriosamente errado! É como se todo mundo
envolvido tivesse simplesmente chutado o balde e dito “Quer saber?! F#d@-se! Esse
filme já não vai ser bom, vamos então dar ao público algo que eles jamais
esquecerão!”
Antes
de falar sobre o filme em si, é preciso dizer algumas palavras sobre o RPG de
tabuleiro no qual ele é baseado. Embora nunca tenha de fato o jogado, tenho
pelo menos um mínimo de noção sobre o jogo, então, para aqueles que não sabem
do que estou falando, eis um resumo: Dungeons & Dragons é um dos jogos mais
populares e influentes de todos os tempos. Basicamente, há um mundo de fantasia
com algumas regras e conceitos pré-estabelecidos, e a partir disso um grupo de
jogadores joga uma campanha, o que basicamente quer dizer que cada um cria um
personagem e eles inventam juntos uma aventura, com possibilidades quase
ilimitadas, e quase sempre dependendo da colaboração entre os jogadores para
que eles sejam bem-sucedidos. Porém, como eu disse, nunca de fato joguei o jogo,
então tentarei não me meter aonde não fui chamado e manter as comparações
dentro do mínimo ao longo desta crítica.
O
filme consegue o feito de já começar ruim com uma narração explicando que a
história se passa no império de Izmir, onde os magos formam a elite governante,
e todos aqueles que não sabem usar magia são pouco mais que escravos.
Escrevendo assim, não parece haver muito problema... Até você perceber que
todas as informações dadas nessa narração inicial poderiam facilmente ser
deduzidas ao longo do filme por um espectador minimamente inteligente. Ela até
chega a explicar que magos são usuários de magia, como se isso não fosse óbvio!
Além disso, considerando que o filme é “diretamente baseado” (com aspas bem
grandes) no jogo, está querendo mesmo me dizer que alguém começaria uma
campanha como “pouco mais que escravo”?
Mas
que seja, uma vez terminada esta narração, chegamos ao ponto máximo do filme,
aquilo que uma vez visto jamais será esquecido... Senhoras e senhores, eu lhes
apresento... Jeremy Irons, interpretando o vilão Profion!!!!
Simplesmente
não há palavras que descrevam sua atuação neste filme. Mas como este blog se
baseia inteiramente em palavras, terei que ser criativo... Hum... Sabe aquela
festa em que você sabe que vai perder a dignidade, mas vai mesmo assim
simplesmente porque quer perde-la? Essa
é a atuação de Jeremy Irons neste filme! É como se ao oferecerem o papel pra
ele, ele tivesse simplesmente dito pra si mesmo “Quer saber? Eu mereço umas
férias! Não preciso fazer filmes bons o tempo todo, preciso? Já ganhei meu
Oscar, não ficarei desempregado por isso. Mas já que vou fazer um filme
m&rd@, vou garantir que eu me divirta nele!”.
Se
quiserem saber minha sincera opinião, vale a pena assistir “Dungeons &
Dragons” apenas pela atuação absolutamente enlouquecida de Irons. É um dos
espetáculos mais bizarros já vistos em um filme, e dá até pra ver os outros
atores que contracenam com ele fazendo biquinho pra controlar o riso em alguns
momentos! Há tantas cenas que eu gostaria de lhes mostrar como exemplo, e é até
possível encontrar por aí uma coletânea de melhores momentos de Jeremy Irons em
“Dungeons & Dragons” se pesquisarem, mas para dar uma amostra do que
esperar, eis o link para uma cena no YouTube:
Agora
imaginem ele atuando desse mesmo jeito durante
o filme inteiro, ao mesmo tempo em que faz expressões como
E
E minha favorita

Ah,
aliás, estão vendo este cara careca ao lado de Irons (ou, melhor dizendo,
Profion) na última imagem? Bom, este é outro ponto alto do filme: Damodar, o
braço direito de Profion, interpretado por Bruce Payne. E não, vocês não estão
ficando daltônicos: Ele de fato passa o filme inteiro com batom azul na boca.
Eu...
Realmente não entendo o motivo pra isso. Até onde eu sei, o jogo de Dungeons
& Dragons não tem nenhuma raça que seja igual aos humanos exceto pelos
lábios azuis, e se ao menos ele tivesse algo mais que chamasse a atenção talvez
não ficássemos tão distraídos por isso. Mas não: Ele é apenas um cara normal
que comeu tortas de smurfs demais.

Mas batom azul à parte, Bruce Payne
é outro além de Jeremy Irons que parece ter perfeita noção do filme ridículo em
que se meteu. Em determinado momento de “Dungeons & Dragons”, Damodar falha
em uma missão e Profion, para ensinar-lhe uma lição, coloca dois vermes mágicos
em sua cabeça, que se mexem dentro dela causando-lhe muita dor... Porém apenas
imaginem a expressão de “dor” que Payne faz durante essa cena sem os vermes
computadorizados adicionados na pós-produção e tentem, apenas tentem não rir. Aliás, qualquer cena
envolvendo estes vermes fica um tanto engraçada se tirar os efeitos
computadorizados, mesmo uma envolvendo uma tortura!
Quanto
ao enredo, Profion, com a ajuda de Damodar, deseja destronar a jovem imperatriz
de Izmir (aparentemente porque ela quer fazer certas reformas sociais que tiram
os privilégios dos magos, mas honestamente, quem se importa?). Para isso, ele
quer um cetro capaz de controlar dragões.
E
como os dragões do filme se parecem?
Com
designs extremamente genéricos e feitos com algumas das piores imagens
computadorizadas que já vi. Ok, está certo, “Dungeons & Dragons” foi
lançado em 2000, não dá pra esperar a mesma qualidade gráfica que deu vida a
Rocket Raccoon; mas isso só quer dizer que o filme, que foi distribuído pela
New Line Cinema, foi lançado apenas um ano antes da mesma companhia lançar “O
Senhor dos Aneis”. Então não há desculpa para efeitos especiais tão ruins!
Ah, e o sangue dos dragões
aparentemente faz a água pegar fogo. Apenas aceitem, dói menos...
Enfim,
Profion quer mais especificamente um cetro capaz de controlar dragões
vermelhos. Este cetro secreto está escondido em uma masmorra secreta, que por
sua vez só pode ser aberta com um rubi secreto, cuja função só é revelada caso
se decifre um pergaminho secreto (aja segredos!)... E no meio disso tudo somos apresentados através
de uma série de acasos aos heróis do filme... Ou como você queira chama-los,
porque a maior parte do tempo eles são completamente inúteis. Vamos começar
pelo que é de longe o mais irritante deles: O ladrão Snails, interpretado por
Marlon Wayans.
Quem?
Apenas... Quem que teve a ideia de contratar Marlon Wayans em um filme de “Dungeons & Dragons”?! Quer
contratar um dos Wayans? Tudo bem! Contrate Damon então, ele seria uma escolha
mais apropriada, possivelmente! Mas Marlon... A pura presença dele neste filme
soa errada. Apenas veja-o em “Dungeons & Dragons” e tente não se lembrar de
Jar Jar Binks em “A Ameaça Fantasma”. Sim, é nesse nível de errada sua presença! E, como se não bastasse, ela é
completamente desnecessária. As únicas coisas que ele faz são
despreocupadamente dar em cima de uma elfa enquanto seus companheiros estão presos
dentro do pergaminho secreto (grande amigo...); ficar preso em um tapete
movediço (sim, aparentemente o filme tem isso); e se sacrificar (ops, spoilers!
Embora honestamente, quem se importa?) para devolver a seus companheiros aquele
mesmo pergaminho, sacrifício que, parando pra pensar, é totalmente inútil, pois
neste ponto do filme eles já o decifraram!
Uma
vez falado sobre ele, falemos sobre outro personagem: O anão, interpretado por
Lee Arenberg.
Chamo-o
apenas de anão porque é assim que o chamam durante o filme inteiro, apesar de
os créditos especificarem seu nome. A única coisa que ele faz de útil é começar
uma briga de bar, ou, melhor dizendo, de taberna (porque afinal este filme tem que ter uma taberna). E para um
anão, ele nem é particularmente baixo.
Depois
do anão, temos a maga Marina, interpretada por Zoe McLellan.

Eh,
nada que valha a pena ser destacado. Próximo!
Ah,
sim, o próximo... Profion e Damodar podem ser ridículos, e Snails pode ser
irritante, mas este personagem é o que por mim merece o prêmio de escolha mais
estúpida feita em “Dungeons & Dragons”: O protagonista do filme, Ridley,
ladrão e melhor amigo de Snails, interpretado por Justin Whalin.
Por
que digo que ele é uma escolha estúpida? Porque os criadores do filme devem ter
feito muita, mas muita musculação pra conseguirem forçar o protagonismo de
Ridley do jeito que forçam! O filme inteiro este personagem é colocado como o
herói escolhido salvador do mundo, porém ao mesmo tempo não nos é dada nenhuma
explicação ou motivo para isso! Simplesmente... Ele é! Como é que um ladrão que
nunca aprendeu magia decifra em segundos um pergaminho que magos vem tentando
decifrar a anos? Ah, magos são tão idiotas! Por que ninguém ajuda a ele e
Snails quando eles invadem um castelo pra pegar o pergaminho de volta? Ah, essa
missão eles devem completar sozinhos! Ridley entra em uma masmorra e de repente
uma parede mágica impede seus companheiros de entrarem juntos? Ah, apenas ele
deve passar! Como que ele deve quebrar o feitiço do cetro que controla dragões
vermelhos? Ah, isso ele que tem que descobrir por conta própria! ALGUÉM ME
EXPLICA POR QUE DEVO ACHAR ESTE PERSONAGEM TÃO ESPECIAL?!?!?!?!
Mas
sabem o que é pior neste tratamento especial que o filme dá a Ridley? É que ele
vai totalmente contra os princípios do jogo. Mesmo conhecendo-o apenas pelo que
me contaram a respeito, uma coisa pude notar: Dungeons & Dragons é um jogo
que só é bem jogado quando todos os jogadores se ajudam entre si, cada um exercendo
um papel essencial para o progresso da campanha. É por isso que ele continua imensamente
popular até hoje, formando inúmeros laços de amizade e companheirismo. E o que
o filme de “Dungeons & Dragons” faz? Bota um único personagem para ser o
salvador da pátria, tornando todos os outros heróis praticamente inúteis e
rebaixados durante a maior parte do tempo apenas à função de apoio moral! Não é
a toa que fãs do jogo mesmo tantos anos depois continuam odiando este filme, é
como se este estivesse propositalmente tentando enfurece-los!

Mas
afinal, mesmo que você não tenha a mínima noção da existência do jogo, vale a
pena assistir um filme ruim assim? Bom... Totalmente! “Dungeons & Dragons”
é um legítimo exercício sobre como NÃO
fazer um filme de fantasia e, no geral, como não fazer um filme, ponto. Alguns
de seus problemas beiram à legítima incompetência, como uma cena em que Marina
tenta pegar o pergaminho do chão e Damodar a impede pisando ao lado do pergaminho (por acaso a
bateria da câmera acabou pra não poderem refilmar a cena de forma a Damodar
pisar em cima?!). E isso sem falar em
todos os inúmeros problemas que podem ser encontrados minuto por minuto no roteiro,
cheio de clichês pelo simples motivo de que alguém achou que eles deviam ser
incluídos no filme, não importa se não há explicação para a presença deles, ou
se o contexto lhes tira qualquer sentido: Em um dado momento, Damodar faz os
companheiros de Ridley de reféns, propondo poupá-los em troca do cetro, porém
logo após a troca ser feita os heróis facilmente se libertam por conta própria.
Alguém me explica por que não fizeram isso antes?!
Ainda
assim, esses detalhes que poderiam facilmente irritar quem os assiste acabam
aqui se tornando surpreendentemente hilários pelo quanto que o filme não tenta
fazer segredo deles. Pelo contrário, mostra seus erros e problemas em toda a
sua glória! Se duvidarem, assistam o trailer, está tudo lá: Péssimos efeitos
especiais, péssimas atuações, péssimos figurinos, péssima comédia, péssimos
diálogos... O trailer até mostra com certo orgulho Jeremy Irons gritando por
aí, como se dissesse “Sim, é isso que
temos a oferecer! Vai encarar?!”. O filme tem noção do quão ruim que é, e por
isso decide fazer seu trabalho malfeito da forma mais exagerada possível,
chegando por vezes a parecer um desenho animado ruim de tanto que se nega a
usar qualquer coisa que possa parecer inteligente. Tudo, do enredo às atuações,
possui um tom tão ridículo e estúpido que não dá pra não dar umas boas
gargalhadas. Se você e seus amigos são fãs de assistirem e rirem juntos de um
bom besteirol, de filmes “tão ruins que são bons”, este é um que
definitivamente irá diverti-los.
Avaliação: Vale a zoeira
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