sexta-feira, 4 de março de 2016

Vale a Zoeira? Mortal Kombat - A Aniquilação

            Em primeiro lugar: Eu não me arrependo de nada que escrevi em minha crítica de “Mortal Kombat”.
            Em segundo lugar: Mesmo assim, admito que, comparado com sua continuação, “Mortal Kombat: A Aniquilação”, “Mortal Kombat” é uma obra-prima.

            Esse filme é... Errado. Apenas... Errado. Não há nada nele que tenha sido feito corretamente. Tanto que nem sei direito por onde começar a falar dele! Vejamos...
            Para os que assistiram o primeiro filme, lembram-se que o final dele praticamente exigia uma continuação? É de se imaginar então que o elenco voltaria então para o segundo filme, certo?

            Errado. Do elenco inteiro de “Mortal Kombat”, apenas dois atores reprisam seus papeis: Robin Shou como Liu Kang e Talisa Soto como Kitana (ah, ótimo, justamente a cara de peixe morto...). Todos os outros personagens foram substituídos por novos atores. Imagino que ao verem o quão ruim esse filme seria todos começaram a queimar seus contratos. Mas ei, o elenco do primeiro filme já não foi dos melhores, uma mudança só poderia ser para melhor, certo?
            Errado. De alguma forma, os novos atores conseguem ser piores que os originais! O pior caso sendo o de Raiden, que ao invés de ser interpretado por Christopher Lambert é interpretado aqui por James Remar. Em ambos os filmes, o papel de Raiden é basicamente explicar o que raios está acontecendo (como se isso fosse possível) e mandar os personagens para lugares para fazerem coisas (como se nos importássemos). Lambert, porém, por mais que “pareça” estar bêbado enquanto recita suas falas no primeiro filme, ainda assim transmite um mínimo que seja de confiança nelas; algo que Remar se mostra incapaz, parecendo confuso demais com o que ele próprio está explicando. Nada muito bom para um personagem que é supostamente um deus.

            Como se não bastasse, no meio do filme seu personagem torna-se mortal, o que por algum motivo muda sua aparência. Bom, ao menos eles vão muda-la para ele se tornar mais parecido com como ele era no jogo, considerando que no primeiro filme Raiden não se parecia em nada com o personagem original, certo?
            Errado. Eis como Raiden se parece no jogo:

            Eis como ele se parece no primeiro filme:

            E eis como ele se parece após virar mortal em “A Aniquilação”:

            Ah, ótimo! Ele não está nem remotamente parecido com Raiden. E, sendo mortal, nem sequer tem mais seus poderes de raios! Não dá nem mais para chama-lo de Raiden!
            Mas chega de falar de Raiden, vamos falar dos outros personagens. Ou, melhor dizendo, dos 17318488927912 personagens do jogo que aparecem nesse filme. É, eis outro problema de “A Aniquilação”: Há um claro excesso de personagens. Oficialmente, a história do filme é baseada na do jogo “Mortal Kombat 3”, que possui 17 personagens com os quais se pode jogar. E o filme parece sentir a necessidade de mostrar todos eles e ainda mais alguns. O problema? A maioria aparece sem qualquer explicação, mostra a cara por só dois minutos e então ou morre ou desaparece de novo sem qualquer explicação. O que, considerando o quão vasta é a mitologia de “Mortal Kombat” e o quão longas as histórias de origens de alguns dos personagens conseguem ser, é no mínimo um desperdício.
Mas os personagens do primeiro filme que reaparecem aqui, pelo menos eles se salvam, certo?
Errado. Como se não bastasse tirarem qualquer traço de Raiden em Raiden, outro personagem principal do primeiro filme que é destruído (um tanto literalmente) é Johnny Cage (aqui interpretado por Chris Conrad ao invés de Linden Ashby), que é morto nos primeiros seis minutos de filme. Seis minutos! Não que eu pessoalmente tenha saudades dele (pra falar a verdade, o achei um tanto irritante no primeiro filme), mas muita gente gosta do Cage de Ashby, e há os que o consideram o melhor personagem do primeiro filme, então é, belo jeito de irritar os fãs, “A Aniquilação”!
Outros dois personagens do primeiro filme que reaparecem aqui são Sub-Zero e Scorpion... Por apenas cinco minutos e sem nenhuma explicação que seja, ainda mais considerando que ambos foram mortos em “Mortal Kombat”. Pelo menos para Sub-Zero eles dão uma desculpa de que esse não é o mesmo Sub-Zero, mas sim seu irmão mais novo (que por algum motivo também se chama Sub-Zero), mas quanto a Scorpion nem isso eles dão! Sendo familiarizado com a mitologia dos jogos, eu sei que Scorpion é um espectro e portanto não pode de fato morrer, mas isso nunca é explicado, então além de deixar o filme impossível de ser entendido por quem não é já fã dos jogos, sua reaparição aqui não tem motivo algum além de faze-lo lutar contra Sub-Zero, provavelmente por exigência dos fãs que ficaram bravos que tal luta não aconteceu no primeiro filme; sequestrar Kitana enquanto grita “Suckers!”, o que soa absolutamente ridículo vindo dele; e então desaparecer para nunca mais ser visto no resto do filme. Sub-Zero sofre o mesmo destino.
Sabem, se vocês querem usar personagens populares de seu filme anterior, tudo bem, podem usar, mas ao menos deem um motivo para eles estarem no filme além de uma luta aleatória!
Outro personagem que reaparece aqui... Por algum motivo... É Jax. É, lembra-se que ele estava no primeiro filme por dois minutos, interpretado por Gregory McKinney? Bem, ele está de volta aqui (interpretado agora por Lynn “Red” Williams), sem ninguém ter pedido por isso!
Mas ei, pelo menos agora ele possui os braços mecânicos que ele tinha no primeiro filme! O que seria algo bom, se não viesse junto com o fato de o roteiro de “A Aniquilação” ter tornado o personagem extremamente estereotipado, com ele fazendo o papel do “típico parceiro negro engraçado”, e apenas isso.
Quanto aos novos personagens, alguns deles não têm sequer seus nomes citados, um caso sendo Ermac, que Sonya Blade (nesse filme sendo interpretada por Sandra Hess ao invés de Bridgette Wilson) chama apenas de “sobra”, o que, pensando bem, é basicamente seu papel no filme.
Sabem, na época em que o primeiro filme de “Mortal Kombat” foi lançado muita gente disse que pelo menos ele foi melhor que o filme de “Street Fighter”, que teve vários problemas, mas um dos principais era o excesso de personagens do jogo que eram portanto desperdiçados. Por que então a continuação de “Mortal Kombat” está fazendo esse mesmo erro que tantos elogiaram o primeiro filme por ter evitado?!
Outra que sofre destino tão ruim quanto é Mileena. Nos jogos de “Mortal Kombat”, Mileena é um clone do mal de Kitana. E, de fato, quando Sonya Blade a vê sua reação inicial é confundi-la com Kitana. Porém mesmo algo tão simples quanto isso é destruído no filme, por dois motivos: 1) O fato de Mileena ser um clone de Kitana não é citado; pra falar a verdade, nem o nome dela é citado, só sabemos que a mulher que aparece é Mileena porque a roupa é a mesma; e 2) Ela não é nem mesmo interpretada pela mesma atriz que Kitana (sendo ao invés disso interpretada por uma tal de Dana Hee, segundo os créditos), então Sonya Blade confundir as duas não faz o menor sentido.
Qual era o grande problema em convencer Talisa Soto a vestir uma roupa de ninja cor-de-rosa e lutar na lama? É, porque tem isso também: A luta entre Sonya Blade e Mileena é feita totalmente na lama, com ambas se agarrando enquanto suas roupas ficam grudadas em seus corpos. E se você acha que isso é apenas uma coincidência, que não é o fetiche de um diretor tarado, após a luta (que, como tudo nesse filme, começa e termina sem explicação ou contexto) Jax comenta com Sonya que ela “fica boa coberta de lama”.

            Mas ei, o quão mais tarado esse filme pode ser?

                Eu me arrependo de ter perguntado.
            E para o caso de você estar se perguntando, essa mulher é supostamente Jade (interpretada por Irina Pantaeva). Não me pergunte porque o filme exige que ela vista quase nada no meio da neve, ainda mais considerando que o resto do filme ela usa uma roupa razoavelmente parecida com a que ela usa nos jogos. Aliás, todo o papel de Jade no filme não tem muito sentido: Uma hora ela ajuda os heróis, aí descobre-se que ela é uma espiã e estava o tempo todo levando-os para uma armadilha, mas então os heróis precisavam ir lá de qualquer forma, e ela sabia disso, então não faria mais sentido leva-los para longe, e por que estou pensando tanto nisso?

            Vejamos, já falei aqui dos personagens principais, dos personagens que retornam do primeiro filme, dos personagens novos, o que mais falta? Ah, sim, o vilão! Sendo uma continuação direta de “Mortal Kombat”, e parando exatamente no ponto onde o primeiro filme acaba, o vilão de “A Aniquilação” é Shao Kahn, o imperador do mundo paralelo de Outworld apresentado na última cena do primeiro filme, e aqui interpretado por Brian Thompson. E o que dizer de Shao Kahn nesse filme, além do fato de que tudo o que for possível para tornar um vilão menos imponente foi feito com ele? Para se ter uma ideia, eis como Shao Kahn se parece nos jogos:

                Eis como ele se parece na cena final de “Mortal Kombat”:
             E eis enfim como ele se parece em “A Aniquilação”:

            Como se uma máscara e uma falta de músculos dessas não tirassem o suficiente de sua imponência, o filme ainda insiste que ele apareça sem máscara durante metade de sua duração:

                E como se essa cara e o fato de o ator manter essa mesma expressão durante o filme inteiro não tirassem o suficiente de sua imponência, o roteiro ainda insiste em trazer todo um drama familiar envolvendo Shao Khan tentando impressionar seu pai (interpretado por Reiner Schöne), que os créditos colocam como sendo Shinnok, apesar de na história dos jogos Shinnok e Shao Kahn não possuírem nenhum parentesco (e o Shinnok desse filme não se parecer em absolutamente nada com o original). A necessidade de Shao Kahn impressionar seu “pai” (e o público) é tão grande que em uma cena, ao invés de andar o um degrau que separa seu trono de um corredor, ele vai de um lugar ao outro com um salto mortal absolutamente desnecessário. Como se não bastasse, Raiden também é envolvido nesse drama familiar, apesar de nunca antes ou depois ter possuído qualquer parentesco com nenhum dos dois outros personagens.
            Parabéns, criadores de “A Aniquilação”. Além de mostrarem que vocês não estão nem aí para os jogos baseados nos quais estão fazendo um filme, ainda deram um jeito de arruinar completamente um dos vilões mais famosos e imponentes do mundo dos vídeo games.

                Vejamos, o que mais falta falar sobre o filme... Ah, sim, a história!.. Ou o que quer que o filme tenha no lugar dela. Basicamente o enredo inteiro do filme pode ser resumido em duas frases: “Shao Kahn invade a Terra. Lutas acontecem”. Ponto. 90% de “A Aniquilação” constitui de uma sequência aleatória de lutas seguidas por Raiden tentando explicar o porque de tudo isso estar acontecendo. Coloco 90% porque os créditos ocupam 10% do filme. Metade das cenas não têm sequer uma razão plausível para estarem no filme. Há também alguma coisa envolvendo a mãe de Kitana, Sindel (que por algum motivo é aqui interpretada por Musetta Vander, uma atriz apenas quatro anos mais velha que Talisa Soto), mas mesmo tendo assistido esse filme já duas vezes eu ainda não entendo qual é a importância dela.
            Quanto aos efeitos especiais de “A Aniquilação”, algo quase impossível de não se notar... Bem, eu poderia escrever ainda uma redação inteira sobre como os efeitos computadorizados desse filme parecem ter sido feitos na década de 80 (sendo que ele foi lançado em 1997), mas para economizar sua leitura, acho que uma imagem vale mais que mil palavras:

            E isso porque não sei fazer GIF, senão lhes mostraria como as criaturas computadorizadas desse filme são tão mal animadas que parecem feitas em stop-motion.
            Mas ainda não respondi a grande pergunta do título: “Mortal Kombat: A Aniquilação”, apesar, ou, melhor dizendo, por causa de todos esses problemas, vale a penas ser assistido pela zoeira? Sendo bem sincero... Sim! Sabe em filmes de comédia ou animações, aquela cena em que o personagem está assistindo algum filme de ação que não existe de verdade, e é tão ridículo e mal feito que você se repete que seria impossível um filme assim ser feito na vida real? “Mortal Kombat: A Aniquilação” é esse filme dentro do filme. É um filme que quando você assiste alguma cena isolada, como, digamos, no trailer, você jura para si mesmo que esse não é um filme de verdade, que é apenas uma piada feita por fãs ou um desses trailers falsos que aparecem por aí, mas então você assiste a coisa toda e percebe que o filme inteiro é assim: Apenas lutas e mais lutas aleatórias, praticamente sem história, e tão malfeitas e com valores de produção tão pobres que não dá pra acreditar que alguém de fato resolver investir nisso.
Se você acompanhou a campanha de marketing de “Trovão Tropical”, em que um monte de trailers falsos de filmes super ruins foram lançados na internet, e ficou com vontade de assistir um deles apenas para rir da cara de algo tão estúpido, assista “Mortal Kombat: A Aniquilação”. Você não vai se arrepender.


Avaliação: Vale a zoeira

3 comentários:

  1. kkkkkk
    Bela avaliação. O Shao Khan ficou ainda mais imponente depois desse filme resolveu virar professor de filosofia e hoje dá aulas no Brasil.
    http://gshow.globo.com/Rede-Bahia/Aprovado/noticia/2016/04/leandro-karnal-fala-sobre-educacao-e-felicidade-nas-redes.html

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  2. Nightwolf também só aparece um pouco no filme depois some,assim como Scorpion que no primeiro,foi morto por Johnny,e ele aparece no segundo por um tempo,e o Sub-Zero também desaparece,que seria o irmão mais novo do Classic Sub-Zero,o de Mascara que foi morto por Liu Kang,no Jogo Mortal Kombat 3,ele não usa Mascara,mas no Filme a Primeira aparição dele é com Mascara,vai entender,A Aniquilação não foi bem feito!

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