Após uma das semanas mais infernais
desta minha vida de estudante universitário, finalmente posso falar sobre
“Invocação do Mal 2”!
Tive a chance de
assistir este filme no fim de semana de estreia e pretendia escrever sobre ele
logo em seguida para minha opinião ser ainda relevante. Porém, com o aperto nos
estudos e entregas de trabalhos, isso não foi possível, e agora todos que
poderiam se interessar neste filme já o assistiram e têm suas próprias opiniões
formadas.
Porém escreverei mesmo
assim. Como eu disse em minha crítica de “O Menino e o Mundo”, “Não ligo.
Assisti o filme, e quero falar sobre ele. Isso é tudo o que importa”.
Antes, porém, um breve
comentário sobre os outros filmes desta franquia.
Lançado em 2013,
“Invocação do Mal” tem como protagonistas um casal que não entendo como não
teve seu próprio filme antes: Ed e Lorraine Warren, dois dos investigadores
paranormais mais famosos do mundo, e os únicos cujo trabalho é reconhecido pela
Igreja Católica. Independente de se você acredita ou não em fenômenos
paranormais, não dá pra negar que a vida deles está cheia de material para
filmes de terror. E, de fato, seus casos já inspiraram uma infinidade de livros
e filmes, como “Terror em Amytivile”. Mas por algum motivo ninguém até então
quis fazer um filme sobre eles, a
relação deles e como eles resolviam seus casos.
“Invocação do Mal”
trata de um destes casos, o da família Perron, que em 1971 teve sua casa em
Rhode Island assombrada por uma bruxa que lá viveu no século 19. E o filme é
sensacional! Eu até gostaria de fazer uma crítica só sobre ele, mas
resumidamente, ele possui personagens extremamente carismáticos, que fogem de
estereótipos e tomam atitudes realistas; excelentes atuações de Patrick Wilson
e Vera Farmiga como os Warren; uma direção surpreendentemente madura e até
artística de James Wan; e, o mais importante, valoriza mais uma boa história e
uma atmosfera assustadora do que sustos desnecessários ou sanguinolência. Mesmo
se você não for um fã de filmes de terror, é possível apreciá-lo como um filme
em si... O que acreditem quando digo que é raro no gênero!
Mas então veio
“Annabelle” em 2014.
“Annabelle”
não é uma continuação de “Invocação do Mal”, mas sim um spin-off baseado em
outro caso dos Warren, de uma boneca encontrada por duas mulheres na casa em
que elas moravam e que aparecia em diferentes lugares sem ninguém ter mexido
nela.
O
caso foi brevemente apresentado em “Invocação do Mal”, e daí veio a ideia de um
spin-off. Porém “Annabelle”, sendo sincero, é bem ruinzinho. Sim, há alguns
sustos que funcionam, porém o enredo é fraco, valorizando mais os sustos que a
tensão e fugindo do caso real, no lugar inventando uma história clichê à la “O
Bebê de Rosemary”, com personagens estúpidos (e mal atuados) que após se livrarem
da boneca mais feia do mundo (diferente da Annabelle de verdade) antes de se
mudarem, não veem nada de errado quando esta aparece em sua nova casa e ainda a
botam de volta em uma estante! Ah, e James Wan foi aqui substituído por John R.
Leonetti, que dirigiu também “Mortal Kombat: A Aniquilação”. E vocês já sabem o
que acho daquele filme!
Após
a decepção de “Annabelle”, fiquei apreensivo com “Invocação do Mal 2”. Ainda
mais que a chance de uma continuação de filme de terror ser boa é de em torno
de uma em um milhão: Geralmente elas sofrem de diversos fatores que diminuem
drasticamente sua qualidade, como uma hiper-valorização dos efeitos especiais
sobre o enredo (ou o contrário, um corte de orçamento que compromete sua qualidade
técnica), substituições de elenco e produção por pessoas mais baratas e menos
competentes, ou, o mais comum, um puro e simples esgotamento da premissa,
tornando a continuação repetitiva.
Mas
resolvi dar a “Invocação do Mal 2” uma chance, não apenas porque James Wan
voltou à cadeira de direção neste filme, como também, ao contrário de
“Annabelle”, ele foca-se de volta nos Warren em outro de seus casos famosos,
embora por motivos infames: O da família londrina Hodgson, que em 1977 alegou
que estava sendo assombrada por um poltergeist, que não apenas movia
violentamente objetos pela casa, como também supostamente possuiu uma das
meninas da família, Janet, levitando-a e falando através dela em uma voz grossa
demais para uma garota de 11 anos.

Digo
que o caso é infame porque até mesmo investigadores paranormais acreditam que
os Hodgson estavam inventando tudo, o que afetou a credibilidade dos Warrens...
E aumentou de volta minhas preocupações: Será que o filme iria simplesmente não
citar esta controvérsia? Os trailers não pareciam citar, e eles até mostravam o
fantasma, deixando claro o posicionamento do filme de que tudo era verdade! (O
que, pensando bem, era inevitável. Seria muito decepcionante se ao final fosse
revelado que tudo era uma pegadinha, não?)
Mas eis que, para minha
surpresa, o filme não recua da polêmica! Pelo contrário! Os Warrens só são
chamados pela Igreja Católica para investigar porque, devido à grande repercussão
midiática do caso, ela quer antes confirmar se está havendo de fato uma
assombração para evitar manchar sua reputação. E, uma vez na casa dos Hodgson,
tudo faz os Warrens duvidarem da existência de um fantasma entre eles, embora
nós, o público, tenhamos já o visto em ação, então sabemos que a família não
está mentindo. (oportunidade de suspense desperdiçada...)
Mas independente de
polêmicas, analisando “Invocação do Mal 2” como filme e como continuação, é
possível dizer que derrubou minhas expectativas negativas?
Sim! Pois possui tudo que
o primeiro “Invocação do Mal” tinha de bom, mas com elementos novos o
suficiente para não ficar repetitivo.

Começando com os
personagens: Assim como no primeiro filme, “Invocação do Mal 2” possui
personagens com os quais você realmente se importa! Não são estereótipos, ou
personagens irritantes que você apenas quer que morram (exceto um cara esnobe
que ofende os Warren em um programa de TV, mas ele só aparece por um minuto).
Não! Você não quer que nada de ruim aconteça a eles! Os Hodgson são
apresentados como uma família que passa por todo tipo de dificuldade: A mãe tem
que sustentar quatro filhos sozinha já que o marido a deixou e não paga a
pensão, e as crianças sofrem bullying na escola, especialmente o menino mais
novo, que é gago (e louco por biscoitos).
Porém, apesar de todas
estas dificuldades, eles ainda tentam se manter unidos. Lógico que, como toda
família, por vezes eles se estressam e gritam uns com os outros, mas sempre
tentam se ajudar da forma que for possível. Uma das cenas mais fofas do filme é
quando este mesmo menino mais novo, ao ver sua mãe à beira de um ataque de
nervos devido às assombrações, oferece-lhe um prato de biscoitos.
Como posso desejar algum mal a eles
depois disso?!
Os Hodgsons também possuem
algo que poucos personagens de filmes de terror possuem: Inteligência. Quando a
mãe enfim vê um objeto se movendo sozinho como suas filhas diziam que estava
acontecendo, nem vemos ela falando nada: O filme imediatamente corta para os
Hodgson saindo correndo da casa, refugiando-se com os vizinhos e a mãe chamando
a polícia (o que não adianta, pois Janet já está possuída, mas daí fica só ela
e a mãe na casa, os outros filhos ficam morando com os vizinhos). Nada de “Ai,
mas não podemos deixar esta casa!” ou “Ai, é só uma brincadeira, vou tocar pra
mostrar que nada de ruim vai acontecer!”.
E quando a polícia
chega, ao invés do típico clichê de filme de terror em que o fantasma finge não
existir e todos acham que a família é louca, ele continua na boa e mexe uma
cadeira na frente dos policiais (que têm uma reação simples mas hilária).
Afinal, ele não tem nada a temer por parte de meros policiais! Apenas quando os
Warren entram em cena, com real poder de expulsá-lo da casa, que ele passa a
agir de forma mais ambígua, botando à prova a veracidade dos relatos dos
Hodgson.
Falando nos Warren, o que
falar deste casal além de... Eles são incríveis! Independente de como eles eram
na vida real, em “Invocação do Mal 2” eles mais uma vez aparecem como este
casal que se ama mais do que tudo (talvez um pouco exageradamente), mas não é
para menos: A relação deles como casal é aqui mais explorada. Somos contados sobre
porque eles se casaram, a fé que eles têm um no outro, e como eles se preocupam
um com o outro. Especialmente Lorraine, que é o foco de um subenredo envolvendo
uma premonição macabra dela e seu medo de que, se eles continuarem se envolvendo
tão a fundo nos casos, esta premonição se realize.
Mas o principal ponto
positivo dos Warren é que, assim como no primeiro filme, eles fazem o que for
necessário para ajudar a família, independente de se há ou não um fantasma os
assombrando. Como Ed ressalta em uma cena, os demônios ficam mais fortes quando
as pessoas estão emocionalmente fracas e desesperançosas. Assim eles passam a
fazer tudo para animar os Hodgson e tornar a vida deles melhor, seja ouvindo
seus desabafos, cantando Elvis para alegrar o natal (a segunda cena mais fofa
do filme), ou até concertando o encanamento da casa! Este lado “humanitário”
dos Warren já fora explorado no primeiro filme, mas aqui o impacto é maior pois,
ao contrário dos Perron, que eram felizes até as assombrações começarem, os
Hodgson são uma família pobre e desamparada, que realmente precisa de alguém
que os faça sorrir outra vez.
Então vêm as atuações.
Patrick Wilson e Vera Farmiga retornam como os Warren, e eles continuam
espetaculares: Quando eles olham um para o outro, não há qualquer dúvida de que
eles se amam. Farmiga o filme todo mantém essa expressão de alguém que já viu
coisas que enlouqueceriam a qualquer um (Lorraine é uma médium renomada), e
após tudo isso está nos limites de suas forças mentais, tendo apenas seu marido
em quem se apoiar. E Wilson, por sua vez, mais uma vez dá a impressão de ser o
cara mais legal do mundo, alguém verdadeiramente “cristão” (por que usei este
termo? Sou judeu!), no sentido de que ele procura sempre amar e ajudar o
próximo, não importa quem seja, e está sempre sorrindo e tentando manter uma energia
positiva. Não conheço Patrick Wilson pessoalmente, mas se ele for como é nos
filmes de “Invocação do Mal” ele deve ser o cara que todo mundo quer convidar
nas festas de família.
Mas a verdadeira revelação,
que ninguém esperava que fosse tão boa, é Madison Wolfe como Janet Hodgson. Imagino
que muita gente, quando viu que o foco do filme seria uma menina de 11 anos,
soltou um grande “Oh-oh”, considerando a dificuldade que é extrair boas
atuações de atores mirins. Está certo que Wolfe já tem 14 anos, mas ainda assim
continua não sendo uma idade fácil. Mas ela mostra um talento que me pegou de
surpresa, lidando bem tanto com as cenas em que ela é apenas uma menininha
assustada que toda noite passa pelos piores sofrimentos e apenas quer que isso
pare, quanto com as em que ela está possuída e faz uma expressão maligna que
daria inveja à menina de “O Exorcista”. James Wan já havia se mostrado competente
com crianças em “Invocação do Mal”, mas ele realmente soube tirar o melhor de
Wolfe. O filme inteiro tentei achar alguma falha em sua atuação, e não encontrei
nada que me incomodasse.
Falando em James Wan, temos
a direção dele. É, eis o ponto fraco do filme. Não me entendam mal, a direção
dele no geral continua boa: Não só ele sabe muito bem como segurar uma câmera
para tornar o filme desconfortável nos momentos certos, como também sabe
exatamente o que mostrar diante dela.
Dizem que o que não vemos é mais assustador do que o que vemos, mas James Wan
notou que o que achamos que vemos ou
que vemos apenas por um instante pode
ser tão assustador quanto ou até mais. Constantemente, nas cenas mais tensas do
filme, ou a imagem está propositalmente desfocada, ou então vemos algo que não
gostaríamos de ver no cantinho da tela. Em uma cena, uma das crianças está
andando pela casa para voltar ao seu quarto de noite e, na escuridão da sala,
no cantinho direito, vemos a figura de um velho sentado na poltrona. Dura menos
de um segundo, mas quando se nota, é difícil não se encolher ou tapar a boca de
tensão, pois se sabe que algo ruim vai acontecer,
só não se sabe o que ou quando. E acreditem, eu passei metade do filme com as
mãos tapando a boca de nervoso (quem estava do meu lado sabe bem disso). O
próprio pôster do filme no começo da postagem faz uso deste recurso, olhando-o
com atenção.
Porém, por mais que por
este lado a direção seja boa, há alguns problemas sérios que o primeiro filme
não tinha. O principal? Os monstros. Sim, isso mesmo: Enquanto o primeiro filme
tinha apenas uma velha feia, em “Invocação do Mal 2” o fantasma aparece na
forma de monstros, como uma freira demoníaca e o “Homem Torto”. E esses
monstros não são convincentes o suficiente para assustar tanto assim. A freira,
como já bem disseram, parece o Marilyn Manson fantasiado de madre superiora, e
o Homem Torto tem a infelicidade de ser computadorizado... De uma forma que não
apenas parece extremamente falsa, mas que ainda é propositalmente semelhante à
stop-motion! Parecia que a qualquer momento ele sairia cantando “Oh somewhere
deep, inside of these bones...” (50 pontos pra quem entendeu).
E outro grande problema
é que, por mais que eu ame o fato de o filme evitar dar sustos o tempo todo e
ao invés criar uma atmosfera tensa, algumas dessas tentativas de tensão são um
tanto ridículas. Umas delas em especial constitui-se de, não estou brincando,
Janet e o fantasma tendo uma briga pela programação na TV. Sério! Janet está
assistindo um programa de comédia, e então a TV muda sozinha para um discurso
da Margareth Thatcher. Janet muda de volta para a comédia, e a TV volta para o
discurso. E segue assim! Imagino que James Wan quis se antecipar à inevitável
paródia que todo filme de terror sofre.
Mas por mais que estes
detalhes possam incomodar, eu ainda recomendo assistirem o filme, não apenas
porque dá um baita medo (recomendo assistir no cinema, pra dar ainda mais medo), mas porque esses
problemas não são grandes problemas,
apenas... Tropeços. No geral, o filme é bem-sucedido na grande proposta de
“Invocação do Mal”: Fugir dos clichês e contar uma BOA história de terror,
focando-se em BONS personagens e numa BOA atmosfera. E realmente que o próximo
filme inevitável mantenha-se nestes moldes. Afinal, os Warren alegadamente
investigaram cerca de 10 mil casos, deve haver mais um ou dois que rendem uma
boa história e...
Ahpeloamordedeus!
Avaliação: Vale a pena.
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