segunda-feira, 20 de junho de 2016

Invocação do Mal 2


Após uma das semanas mais infernais desta minha vida de estudante universitário, finalmente posso falar sobre “Invocação do Mal  2”!
Tive a chance de assistir este filme no fim de semana de estreia e pretendia escrever sobre ele logo em seguida para minha opinião ser ainda relevante. Porém, com o aperto nos estudos e entregas de trabalhos, isso não foi possível, e agora todos que poderiam se interessar neste filme já o assistiram e têm suas próprias opiniões formadas.
Porém escreverei mesmo assim. Como eu disse em minha crítica de “O Menino e o Mundo”, “Não ligo. Assisti o filme, e quero falar sobre ele. Isso é tudo o que importa”.
Antes, porém, um breve comentário sobre os outros filmes desta franquia.

Lançado em 2013, “Invocação do Mal” tem como protagonistas um casal que não entendo como não teve seu próprio filme antes: Ed e Lorraine Warren, dois dos investigadores paranormais mais famosos do mundo, e os únicos cujo trabalho é reconhecido pela Igreja Católica. Independente de se você acredita ou não em fenômenos paranormais, não dá pra negar que a vida deles está cheia de material para filmes de terror. E, de fato, seus casos já inspiraram uma infinidade de livros e filmes, como “Terror em Amytivile”. Mas por algum motivo ninguém até então quis fazer um filme sobre eles, a relação deles e como eles resolviam seus casos.
“Invocação do Mal” trata de um destes casos, o da família Perron, que em 1971 teve sua casa em Rhode Island assombrada por uma bruxa que lá viveu no século 19. E o filme é sensacional! Eu até gostaria de fazer uma crítica só sobre ele, mas resumidamente, ele possui personagens extremamente carismáticos, que fogem de estereótipos e tomam atitudes realistas; excelentes atuações de Patrick Wilson e Vera Farmiga como os Warren; uma direção surpreendentemente madura e até artística de James Wan; e, o mais importante, valoriza mais uma boa história e uma atmosfera assustadora do que sustos desnecessários ou sanguinolência. Mesmo se você não for um fã de filmes de terror, é possível apreciá-lo como um filme em si... O que acreditem quando digo que é raro no gênero!
Mas então veio “Annabelle” em 2014.

“Annabelle” não é uma continuação de “Invocação do Mal”, mas sim um spin-off baseado em outro caso dos Warren, de uma boneca encontrada por duas mulheres na casa em que elas moravam e que aparecia em diferentes lugares sem ninguém ter mexido nela.
O caso foi brevemente apresentado em “Invocação do Mal”, e daí veio a ideia de um spin-off. Porém “Annabelle”, sendo sincero, é bem ruinzinho. Sim, há alguns sustos que funcionam, porém o enredo é fraco, valorizando mais os sustos que a tensão e fugindo do caso real, no lugar inventando uma história clichê à la “O Bebê de Rosemary”, com personagens estúpidos (e mal atuados) que após se livrarem da boneca mais feia do mundo (diferente da Annabelle de verdade) antes de se mudarem, não veem nada de errado quando esta aparece em sua nova casa e ainda a botam de volta em uma estante! Ah, e James Wan foi aqui substituído por John R. Leonetti, que dirigiu também “Mortal Kombat: A Aniquilação”. E vocês já sabem o que acho daquele filme!
Após a decepção de “Annabelle”, fiquei apreensivo com “Invocação do Mal 2”. Ainda mais que a chance de uma continuação de filme de terror ser boa é de em torno de uma em um milhão: Geralmente elas sofrem de diversos fatores que diminuem drasticamente sua qualidade, como uma hiper-valorização dos efeitos especiais sobre o enredo (ou o contrário, um corte de orçamento que compromete sua qualidade técnica), substituições de elenco e produção por pessoas mais baratas e menos competentes, ou, o mais comum, um puro e simples esgotamento da premissa, tornando a continuação repetitiva.
Mas resolvi dar a “Invocação do Mal 2” uma chance, não apenas porque James Wan voltou à cadeira de direção neste filme, como também, ao contrário de “Annabelle”, ele foca-se de volta nos Warren em outro de seus casos famosos, embora por motivos infames: O da família londrina Hodgson, que em 1977 alegou que estava sendo assombrada por um poltergeist, que não apenas movia violentamente objetos pela casa, como também supostamente possuiu uma das meninas da família, Janet, levitando-a e falando através dela em uma voz grossa demais para uma garota de 11 anos.
Digo que o caso é infame porque até mesmo investigadores paranormais acreditam que os Hodgson estavam inventando tudo, o que afetou a credibilidade dos Warrens... E aumentou de volta minhas preocupações: Será que o filme iria simplesmente não citar esta controvérsia? Os trailers não pareciam citar, e eles até mostravam o fantasma, deixando claro o posicionamento do filme de que tudo era verdade! (O que, pensando bem, era inevitável. Seria muito decepcionante se ao final fosse revelado que tudo era uma pegadinha, não?)
Mas eis que, para minha surpresa, o filme não recua da polêmica! Pelo contrário! Os Warrens só são chamados pela Igreja Católica para investigar porque, devido à grande repercussão midiática do caso, ela quer antes confirmar se está havendo de fato uma assombração para evitar manchar sua reputação. E, uma vez na casa dos Hodgson, tudo faz os Warrens duvidarem da existência de um fantasma entre eles, embora nós, o público, tenhamos já o visto em ação, então sabemos que a família não está mentindo. (oportunidade de suspense desperdiçada...)

Mas independente de polêmicas, analisando “Invocação do Mal 2” como filme e como continuação, é possível dizer que derrubou minhas expectativas negativas?
Sim! Pois possui tudo que o primeiro “Invocação do Mal” tinha de bom, mas com elementos novos o suficiente para não ficar repetitivo.

Começando com os personagens: Assim como no primeiro filme, “Invocação do Mal 2” possui personagens com os quais você realmente se importa! Não são estereótipos, ou personagens irritantes que você apenas quer que morram (exceto um cara esnobe que ofende os Warren em um programa de TV, mas ele só aparece por um minuto). Não! Você não quer que nada de ruim aconteça a eles! Os Hodgson são apresentados como uma família que passa por todo tipo de dificuldade: A mãe tem que sustentar quatro filhos sozinha já que o marido a deixou e não paga a pensão, e as crianças sofrem bullying na escola, especialmente o menino mais novo, que é gago (e louco por biscoitos).
Porém, apesar de todas estas dificuldades, eles ainda tentam se manter unidos. Lógico que, como toda família, por vezes eles se estressam e gritam uns com os outros, mas sempre tentam se ajudar da forma que for possível. Uma das cenas mais fofas do filme é quando este mesmo menino mais novo, ao ver sua mãe à beira de um ataque de nervos devido às assombrações, oferece-lhe um prato de biscoitos.
Como posso desejar algum mal a eles depois disso?!
Os Hodgsons também possuem algo que poucos personagens de filmes de terror possuem: Inteligência. Quando a mãe enfim vê um objeto se movendo sozinho como suas filhas diziam que estava acontecendo, nem vemos ela falando nada: O filme imediatamente corta para os Hodgson saindo correndo da casa, refugiando-se com os vizinhos e a mãe chamando a polícia (o que não adianta, pois Janet já está possuída, mas daí fica só ela e a mãe na casa, os outros filhos ficam morando com os vizinhos). Nada de “Ai, mas não podemos deixar esta casa!” ou “Ai, é só uma brincadeira, vou tocar pra mostrar que nada de ruim vai acontecer!”.
E quando a polícia chega, ao invés do típico clichê de filme de terror em que o fantasma finge não existir e todos acham que a família é louca, ele continua na boa e mexe uma cadeira na frente dos policiais (que têm uma reação simples mas hilária). Afinal, ele não tem nada a temer por parte de meros policiais! Apenas quando os Warren entram em cena, com real poder de expulsá-lo da casa, que ele passa a agir de forma mais ambígua, botando à prova a veracidade dos relatos dos Hodgson.
Falando nos Warren, o que falar deste casal além de... Eles são incríveis! Independente de como eles eram na vida real, em “Invocação do Mal 2” eles mais uma vez aparecem como este casal que se ama mais do que tudo (talvez um pouco exageradamente), mas não é para menos: A relação deles como casal é aqui mais explorada. Somos contados sobre porque eles se casaram, a fé que eles têm um no outro, e como eles se preocupam um com o outro. Especialmente Lorraine, que é o foco de um subenredo envolvendo uma premonição macabra dela e seu medo de que, se eles continuarem se envolvendo tão a fundo nos casos, esta premonição se realize.
Mas o principal ponto positivo dos Warren é que, assim como no primeiro filme, eles fazem o que for necessário para ajudar a família, independente de se há ou não um fantasma os assombrando. Como Ed ressalta em uma cena, os demônios ficam mais fortes quando as pessoas estão emocionalmente fracas e desesperançosas. Assim eles passam a fazer tudo para animar os Hodgson e tornar a vida deles melhor, seja ouvindo seus desabafos, cantando Elvis para alegrar o natal (a segunda cena mais fofa do filme), ou até concertando o encanamento da casa! Este lado “humanitário” dos Warren já fora explorado no primeiro filme, mas aqui o impacto é maior pois, ao contrário dos Perron, que eram felizes até as assombrações começarem, os Hodgson são uma família pobre e desamparada, que realmente precisa de alguém que os faça sorrir outra vez.

Então vêm as atuações. Patrick Wilson e Vera Farmiga retornam como os Warren, e eles continuam espetaculares: Quando eles olham um para o outro, não há qualquer dúvida de que eles se amam. Farmiga o filme todo mantém essa expressão de alguém que já viu coisas que enlouqueceriam a qualquer um (Lorraine é uma médium renomada), e após tudo isso está nos limites de suas forças mentais, tendo apenas seu marido em quem se apoiar. E Wilson, por sua vez, mais uma vez dá a impressão de ser o cara mais legal do mundo, alguém verdadeiramente “cristão” (por que usei este termo? Sou judeu!), no sentido de que ele procura sempre amar e ajudar o próximo, não importa quem seja, e está sempre sorrindo e tentando manter uma energia positiva. Não conheço Patrick Wilson pessoalmente, mas se ele for como é nos filmes de “Invocação do Mal” ele deve ser o cara que todo mundo quer convidar nas festas de família.
Mas a verdadeira revelação, que ninguém esperava que fosse tão boa, é Madison Wolfe como Janet Hodgson. Imagino que muita gente, quando viu que o foco do filme seria uma menina de 11 anos, soltou um grande “Oh-oh”, considerando a dificuldade que é extrair boas atuações de atores mirins. Está certo que Wolfe já tem 14 anos, mas ainda assim continua não sendo uma idade fácil. Mas ela mostra um talento que me pegou de surpresa, lidando bem tanto com as cenas em que ela é apenas uma menininha assustada que toda noite passa pelos piores sofrimentos e apenas quer que isso pare, quanto com as em que ela está possuída e faz uma expressão maligna que daria inveja à menina de “O Exorcista”. James Wan já havia se mostrado competente com crianças em “Invocação do Mal”, mas ele realmente soube tirar o melhor de Wolfe. O filme inteiro tentei achar alguma falha em sua atuação, e não encontrei nada que me incomodasse.

Falando em James Wan, temos a direção dele. É, eis o ponto fraco do filme. Não me entendam mal, a direção dele no geral continua boa: Não só ele sabe muito bem como segurar uma câmera para tornar o filme desconfortável nos momentos certos, como também sabe exatamente o que mostrar diante dela. Dizem que o que não vemos é mais assustador do que o que vemos, mas James Wan notou que o que achamos que vemos ou que vemos apenas por um instante pode ser tão assustador quanto ou até mais. Constantemente, nas cenas mais tensas do filme, ou a imagem está propositalmente desfocada, ou então vemos algo que não gostaríamos de ver no cantinho da tela. Em uma cena, uma das crianças está andando pela casa para voltar ao seu quarto de noite e, na escuridão da sala, no cantinho direito, vemos a figura de um velho sentado na poltrona. Dura menos de um segundo, mas quando se nota, é difícil não se encolher ou tapar a boca de tensão, pois se sabe que algo ruim vai acontecer, só não se sabe o que ou quando. E acreditem, eu passei metade do filme com as mãos tapando a boca de nervoso (quem estava do meu lado sabe bem disso). O próprio pôster do filme no começo da postagem faz uso deste recurso, olhando-o com atenção.
Porém, por mais que por este lado a direção seja boa, há alguns problemas sérios que o primeiro filme não tinha. O principal? Os monstros. Sim, isso mesmo: Enquanto o primeiro filme tinha apenas uma velha feia, em “Invocação do Mal 2” o fantasma aparece na forma de monstros, como uma freira demoníaca e o “Homem Torto”. E esses monstros não são convincentes o suficiente para assustar tanto assim. A freira, como já bem disseram, parece o Marilyn Manson fantasiado de madre superiora, e o Homem Torto tem a infelicidade de ser computadorizado... De uma forma que não apenas parece extremamente falsa, mas que ainda é propositalmente semelhante à stop-motion! Parecia que a qualquer momento ele sairia cantando “Oh somewhere deep, inside of these bones...” (50 pontos pra quem entendeu).

E outro grande problema é que, por mais que eu ame o fato de o filme evitar dar sustos o tempo todo e ao invés criar uma atmosfera tensa, algumas dessas tentativas de tensão são um tanto ridículas. Umas delas em especial constitui-se de, não estou brincando, Janet e o fantasma tendo uma briga pela programação na TV. Sério! Janet está assistindo um programa de comédia, e então a TV muda sozinha para um discurso da Margareth Thatcher. Janet muda de volta para a comédia, e a TV volta para o discurso. E segue assim! Imagino que James Wan quis se antecipar à inevitável paródia que todo filme de terror sofre.
Mas por mais que estes detalhes possam incomodar, eu ainda recomendo assistirem o filme, não apenas porque dá um baita medo (recomendo assistir no cinema, pra dar ainda mais medo), mas porque esses problemas não são grandes problemas, apenas... Tropeços. No geral, o filme é bem-sucedido na grande proposta de “Invocação do Mal”: Fugir dos clichês e contar uma BOA história de terror, focando-se em BONS personagens e numa BOA atmosfera. E realmente que o próximo filme inevitável mantenha-se nestes moldes. Afinal, os Warren alegadamente investigaram cerca de 10 mil casos, deve haver mais um ou dois que rendem uma boa história e...
Ahpeloamordedeus!


Avaliação: Vale a pena.

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