Caso você esteja se perguntando, sim,
esse filme é real. Mas antes que você possa dizer “Mas não faz sentido fazer
uma continuação de ‘A Bruxa de Blair’!”, eu lhe direi “Senta aqui, que esta
está longe de ser a única coisa nesse filme que não faz nenhum sentido”.

Desde
que foi lançado em 2000, “A Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras” tornou-se
notório como uma das continuações mais desnecessárias e mais sem sentido que um
filme de terror já teve. E acreditem quando digo que a concorrência é pesada! Mas,
como o título dessa postagem sugere... Será que esse filme é tão sem sentido
que chega a ser engraçado? Vale a pena assisti-lo mesmo sabendo o quão ruim ele
é?
Em
primeiro lugar, a falta de sentido já começa no seu título. Não, sério! Antes
mesmo de começar esse filme já deixa qualquer lógica de lado! Por quê? Porque
ele se chama “A Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras”. Não faz sentido ele se
chamar “A Bruxa de Blair 2” porque, falando a verdade, nem é realmente uma
continuação de “A Bruxa de Blair”. Há referências aqui e ali ao filme original,
principalmente no começo, mas se você tirar essas referências e mudar alguns
nomes, é perfeitamente possível exibi-lo como um filme solo. Ele nem usa o
mesmo estilo de “filmagem encontrada” que “A Bruxa de Blair” inaugurou! No
começo aparece escrito que é tudo “re-encenação de eventos reais” (sim, claro,
vamos fingir que acreditamos), mas se não fosse por isso seria um filme como
qualquer outro! A impressão que dá é que o roteiro foi originalmente escrito
exatamente como um filme solo, mas assim que os produtores receberam seu
primeiro rascunho eles obrigaram os roteiristas a inserir algumas referências a
“A Bruxa de Blair” para tentar arrecadar mais dinheiro em cima dele. Mas isso
não é tudo: Não faz sentido ele se chamar também “O Livro das Sombras”
porque... Bem... Não há “Livro das Sombras” algum nele! Há breves referências a
um livro que dois dos personagens estão escrevendo, mas nada disso chega a
justificar o nome “Livro das Sombras”!
Esse
filme vai doer, não vai?
Mas,
se o título já não te avisou do quão ruim esse filme seria, quanto tempo demora
para o festival de horrores realmente começar?
A
resposta: Cinco minutos. Não, sério, logo na marca dos cinco minutos, com os
créditos iniciais ainda rodando, já é possível notar um dos grandes problemas
de “A Bruxa de Blair 2”: Sua edição.

O
filme começa com um intertítulo dizendo “Verão, 1999”, época em que “A Bruxa de
Blair” foi lançado. E, de fato, mostra lá toda a coqueluche que o filme original
causou, com turistas visitando a cidade de Burkittsville, onde o filme dizia
que se passava (embora, ironicamente, ele não foi filmado lá, e esse também não).
Então
“A Bruxa de Blair 2” se passa no verão de 1999, certo? Não! Logo depois aparece
outro intertítulo dizendo “Um ano antes” e vê-se um dos habitantes de
Burkittsville, Jeff (todos os atores do filme têm os mesmos nomes de seus
personagens, então nem me incomodarei dizendo quem os interpreta), em um
manicômio.
Então
“A Bruxa de Blair 2” se passa no verão de 1998, certo? Não! Logo depois aparece
mais um intertítulo dizendo “Outono, 1999”. Peraí, então ele começa na época do
lançamento de “A Bruxa de Blair”, pula para um ano antes, e aí pula para uma
estação depois, é isso?
Bom,
ao menos para por aí, certo? Não! Em seguida vê-se esse mesmo Jeff sendo
interrogado pela polícia, com uma legenda dizendo “Segunda-feira, 15 de
novembro, 1999”. Ok, então começa no verão de 1999, vai pra verão de 1998,
depois pra outono de 1999, e então para uma data específica nessa mesma estação
do ano. Por que tenho a impressão que alguém da produção assistiu “Amnésia”
enquanto o filme era editado?
Bom,
acabou, certo? Não! Em seguida Jeff aparece guiando uma excursão, com a legenda
“Sexta-feira, 12 de novembro, 1999”! Então começa em verão de 1999, vai pra um
ano antes, então para outono de 1999 e CHEGA!!!!!! Qual é o problema em pegar
uma data na qual seu filme vai se passar e permanecer nela?! Não precisa ficar
saltando pra frente e pra trás nas datas como um pula-pula em uma máquina do
tempo! E o pior é que, embora já não apareçam mais datas (graças a Deus!), o
filme continua pulando desse jeito! Você tem a história principal, que é a dessa
excursão, e então de tanto em tanto tempo o filme se teletransporta sem
qualquer motivo de volta para o interrogatório três dias depois!
Bom,
pelo menos a edição confusa acaba por aí, certo? Ah, vocês já sabem a resposta!
De tanto em tanto tempo, há também alguns cortes completamente aleatórios de
pessoas sendo assassinadas em algum tipo de sacrifício. E quando digo “cortes
aleatórios”, é porque é basicamente isso: Essas cenas duram geralmente apenas
um segundo, e aparecem em momentos que não fazem nenhum sentido! Eles estão
dirigindo pela estrada, e então surpresa, aparece alguém tendo a cabeça
esmagada com uma pedra! Alguém está no hospital, e então surpresa, vê-se do
nada uma pessoa com uma faca nas costas! Imagino que a ideia por trás dos
produtores (digo produtores porque o diretor já admitiu que a versão final é
completamente diferente do que o que ele fez, e que o estúdio impôs várias
reedições e refilmagens) era criar um suspense que só se resolveria no final,
mas essa ideia falhou miseravelmente porque 1) Na metade do filme já sabemos
quem são essas pessoas sacrificadas, então não há suspense nenhum de quem elas
são, quem as matou e em que situação; e 2) É irritante demais! Não há nenhum
motivo aqui para mostrar cenas que só fazem sentido no final do filme ao longo do filme! O que vocês achariam
se, digamos, durante toda a duração de “O Despertar da Força” o filme cortasse
de cinco em cinco minutos para a luta final entre Rey e Kylo Ren, apenas por
alguns segundos? Seria irritante e desnecessário, não? Agora você sabe como são
esses cortes em “A Bruxa de Blair 2”!
Mas
enfim, após mais de cinco minutos de enrolação, a história finalmente começa,
enquanto acompanhamos essa excursão formada por Jeff, o guia; Stephen e
Tristen, um casal que está escrevendo um livro sobre histeria coletiva, ou algo
assim; Erica, uma Wiccan; e Kim, uma gótica. Kim por algum motivo tem poderes
psíquicos. Por que ela tem poderes psíquicos? Hum... Por que ela é gótica?

O único motivo que
consigo imaginar para ela ter poderes psíquicos é para os criadores do filme
terem uma desculpa barata para a história seguir em frente: Tristen está
grávida de apenas seis semanas, mas não quer o bebê? Kim diz isso na cara dela
sem essa dizer nada. Eles estão fazendo uma festa na floresta regada a álcool e
maconha (na qual esses idiotas não falam ou fazem nada de importante e até
deixam a grávida participar, porque afinal, como todos sabem, álcool não é nada
prejudicial para fetos, certo?) e topam com outra excursão? Kim diz que eles
não voltarão (puxa, me pergunto quem são as pessoas que vemos sendo
sacrificadas aqui e ali!). Após a festa, eles acordam com o equipamento todo
destruído junto com todos os papeis do livro de Stephen e Tristen (que, por
algum motivo, literalmente caem do céu como neve, embora ninguém parece notar
isso. Eu já disse que eles são idiotas?), sem nenhuma lembrança do que
aconteceu (puxa, me pergunto o que eles fizeram! Percebem como essas cenas de
sacrifício estragam o suspense?) e as fitas das câmeras que levavam desaparecidas?
Kim diz onde as fitas estão. E toda vez que alguém pergunta como ela sabe
disso, ela apenas responde “Eu não sei”. Imagino que seja o jeito dela de dizer
“Eu já li o roteiro inteiro, ao contrário de vocês!”.
É mais ou menos por aí
que o filme diz “Ah, sim, sou um filme de terror, já ia esquecendo!”. Imagina-se
então que veremos alguma cena assustadora certo? Bom, parece que o que os
criadores desse filme acham que assustador é um pesadelo de Tristen no qual ela
afoga seu bebê. Não, sério! Não só é uma cena desnecessariamente desagradável,
mas também não é nem um pouco assustadora. Pensando agora, acho que essa frase
define o filme inteiro.

Como
é de se imaginar, pouco depois, quando todos acordam e veem o acampamento todo
destruído (e com papel picado chovendo do céu. Sério, ninguém acha isso
estranho! Stephen e Tristen ficam bravos que o livro deles foi destruído, mas
nem se importam com ele estar chovendo em cima deles!), Tristen tem um aborto
natural. Embora não antes de termos provavelmente uma das cenas mais mal
atuadas que já vi, com todos gritando exageradamente “Essa é nossa pesquisa!”, “Essas
são minhas fitas!”, “O que aconteceu?!”, e por aí vai.
Ao
verem o sangue em suas calças, o grupo leva Tristen para um hospital. Lá, ela
tem uma visão de uma garota (em naaaaada parecida com a garota de “O Exorcista”)
andando para trás e desaparecendo. Quem é essa garota? Por que ela aparece para
Tristen? O que ela quer? Nada disso é explicado! A garota aparece apenas mais
uma vez no filme inteiro para dizer “Vocês trouxeram aquilo de volta com vocês!”.
Nunca ficamos sabendo o que ela quis dizer com isso. Em outras palavras, as
aparições dela não têm motivo algum para estarem no filme.
Bom,
depois de uma das integrantes ter um aborto natural, imagina-se que a excursão
acabou e todos voltam pra casa, certo? Não! Eles vão então pra casa de Jeff pra
ver o que as fitas gravaram. Pessoalmente, acho que a casa de Jeff é até um
cenário interessante para um filme de terror: Uma fábrica abandonada da época
da Guerra da Secessão, acessível apenas por uma ponte, com um alarme que emite
sons de latidos toda vez que alguém abre a porta, que deve ter umas sete
trancas diferentes, além de um monte de câmeras vigiando todos os espaços... É
óbvio que em algum momento a ponte vai cair, os latidos do alarme se tornarão
latidos de cachorros de verdade e as câmeras mostrarão algo diferente do que os
personagens viram, mas que seja.
E
caso você esteja se perguntando “Mas e Tristen? Não é extremamente
irresponsável com a condição dela leva-la para um lugar caindo aos pedaços e
cheio de pessoas desconhecidas, longe de casa e de qualquer atenção médica ou
psicológica?”, a verdade é que... Bem... Ninguém parece se importar muito com
isso. Tão não se importam com isso que assim que chegam lá vemos Stephen e
Erica (a wiccan, caso não se lembrem) se pegando. Lógico que logo depois
descobre-se que isso é algum tipo de alucinação coletiva dos dois, mas dá pra
ver que tal pensamento lhes passou pela cabeça. Aliás, essa é a primeira de uma
longa série de alucinações, coletivas ou não, que os personagens começam a ter
enquanto estão na casa de Jeff, mas que nenhum dos personagens se incomoda de
contar aos outros e que não fazem nenhum sentido nem tem um motivo essencial
para estarem no filme.

Mas,
mesmo descrevendo e comentando a primeira metade do filme, a pergunta ainda
permanece: Vale a pena assistir o filme mesmo assim ou não?
Por
mais que, como um fã de assistir filmes apenas pela zoeira, soe tentadora a ideia
de assistir um filme constituído principalmente de coisas que acontecem e
deixam de acontecer sem motivo ou sentido algum, minha resposta final é... Não.
E o motivo é exatamente o meu primeiro alvo de críticas (depois do título, é
claro): A edição é tão aleatória quanto o próprio filme, e o resultado é que um
filme que poderia ser minimamente interessante (pois decente não acredito muito
que seria) acaba se tornando extremamente irritante. Nem dá pra dizer que sua
aleatoriedade e sua falta de sentido ou explicação são “vanguardistas” ou que
são um “ataque à forma como nos acostumamos a assistir filmes”, como já foi
dito do “A Bruxa de Blair” original, pois essa não era a ideia do filme! Falem
o que quiser sobre o primeiro filme (eu próprio já falei bastante), mas que ele
de fato queria ser e de fato foi um desestabilizador de convenções
cinematográficas, é inegável. “A Bruxa de Blair 2”, porém, desde o princípio
tinha a intenção de ser um filme de terror tradicional, com apelo comercial fácil,
o que o estúdio queria garantir com as reedições da versão final... E falhou
miseravelmente! É irritante demais para ter qualquer apelo, entre pulos para lá
e para cá no tempo, cenas aleatórias inseridas no meio do filme e uma constante
sensação de “Eu não faço ideia do que está acontecendo!”. E tenho a leve
impressão de que nem as pessoas envolvidas no filme sabiam muito bem o que
estava acontecendo! É por isso que, infelizmente, dou ao filme uma...
Avaliação: Não vale nem a zoeira.
Obrigado, não irei ver.
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