segunda-feira, 11 de abril de 2016

Rocky III - O Desafio supremo

            “It’s the eye of the tiiiiiger, it’s the thrill of the fight, riiiiising up to the challenge of our riiiiivaaaal....”
            Ah, sim, “Eye of the Tiger”, uma das grandes músicas de academia dos anos 80, junto com “You’re the Best” e “Maniac”. E tenho que admitir que merece esse status todo, pois é uma canção muito boa! Tão boa que até hoje ela logo entra no imaginário popular quando se pensa em exercício, superação, esportes e, claro, Rocky. Essa canção se tornou tão famosa e é tão indissociável da figura de Rocky Balboa que quando comecei a assistir essa franquia, achava que tocaria logo no primeiro filme. Mas é claro que não tocou. Uma canção tão anos 80 quanto “Eye of the Tiger” não tocaria em um filme de 1976. Não, esse crédito ficou para “Rocky 3 – O Desafio Supremo”, lançado em 1982.

            Porém, por mais que “Eye of the Tiger” tenha se tornado uma das canções mais famosas da história do cinema, chegando a ser indicada ao Oscar de Melhor Canção Original, e por mais que o filme tenha sido um sucesso comercial ainda maior que os dois filmes anteriores da franquia, cinéfilos adoram atacar “Rocky 3”, especialmente após o lançamento das outras continuações, alegando que foi aí que a série começou a escorregar para o fundo do poço, do qual só sairia muitos anos depois. Mas afinal, eles têm razão em alegar isso?
            Bem... Sim. Não é que o filme seja tão ruim assim, é só que sua qualidade está bem abaixo da dos dois filmes anteriores. Bem, bem abaixo.

                O filme começa com o amigo e cunhado de Rocky, Paulie, tendo um surto em mais uma de suas crises de bebedeira ao ver uma máquina de pinball de Rocky em um fliperama. Porque afinal esse é um filme dos anos 80, e quase todo filme dos anos 80 precisa ter uma cena que se passa ou em um fliperama ou em uma loja de música. E honestamente, eu só consigo imaginar esse como sendo o motivo para esta cena, pois ela poderia ser totalmente dispensada do filme: Já foi estabelecido no primeiro filme que Paulie tem inveja de Rocky, e essa inveja nunca mais é citada em “Rocky 3”: Cinco minutos depois, Rocky tira ele da prisão, eles discutem um pouco, e então acabou, eles são melhores amigos de volta. Seria de se imaginar que a primeira cena do filme estabeleceria algum ponto importante, não?
            Mas não se preocupem: Essa é apenas a primeira de 1793709127 cenas nesse filme que poderiam ter sido cortadas sem nada de importante ser perdido.

            Mas esse começo também ajuda a estabelecer que após os eventos do segundo filme, Rocky se tornou podre de rico, andando de limusine nova, usando roupas caras (com direito a luva e tudo) e vive na mãe de todas as mansões de Philadelphia. Não, sério, a casa dele é absurdamente gigantesca! Ah, e ele também finalmente aprendeu a atuar em comerciais. Hum... Yay? E ele também vive feliz com Adrian e seu filho. Talvez, digamos, um pouco feliz demais: Em uma sequência, vê-se Rocky e Adrian se beijando enquanto andam pela estrada em cima de uma moto, e logo depois ficam rolando um em cima do outro em um gramado ensolarado. A mão da breguice chega a tremer. E alguém me explica como é que o filho de Rocky parece ter oito anos quando o filme deixa claro que se passaram apenas três desde a revanche contra Creed?
            Também é estabelecido nessa sequência inicial que Rocky nesse tempo defendeu com sucesso seu titulo mundial nada menos que dez vezes. Mas mal sabe Rocky que ele está sendo observado de perto. E com isso quero dizer bem de perto mesmo: O cara aparece no público em quase todas as lutas de Rocky, mesmo quando ele vai defender seu título na Europa! E isso sendo que o filme mostra que ele mora em um buraco não muito diferente daquele no qual Rocky morava no primeiro filme! Isso sim é obsessão!

            O cara em questão atende pelo nome de Clubber Lang (e sim, é assim que ele é chamado durante o filme inteiro. Na Wikipedia diz que seu nome é na verdade James Lang, mas eu prefiro rir com o pensamento de que sua mãe decidiu lhe dar o nome de Clubber), interpretado por ninguém menos que o lutador de luta-livre Mr. T (nesse caso, felizmente esse não é seu nome de nascença) em sua primeira aparição no cinema. Clubber (Pffhahahahaha!) é o típico vira-lata que Rocky era no começo do primeiro filme, tendo que treinar com pesos e barras enferrujados, mas ainda assim sendo bastante talentoso, nocauteando seus adversários com enorme facilidade e brutalidade e, justamente por isso, subindo lentamente no ranking até chegar bem perto de Rocky. Perto até demais para Mickey, que guarda um segredo quanto à sua posição como gerente de Rocky... Segredo que, quando você para pra pensar por um minuto, faz Mickey, a figura paterna na vida de Rocky, parecer um tanto quanto um cretino, não?
            Ok, Clubber (não, eu nunca deixarei de rir desse nome) tem dois problemas principais. O primeiro deles é o próprio Mr. T como ator. Não me entendam mal, em termos de atuação facial, de expressar emoções, ele é muito melhor do que seria de se esperar! Toda vez que a câmera foca em seu rosto durante as lutas de Rocky, é possível ver tudo que o campeão significa para ele, toda a raiva que ele tem, toda a vontade que ele tem de ele próprio ser campeão mundial (o “olho do tigre”, se me permitem dizer). Mas, infelizmente, ele fala. E quando ele fala... Dá pra ver que ele decorou bem suas falas. Tão bem que elefalaassimcorrendosempararprarespirarouprafalarcomemoçãojuntandoaspalavrasumasnasnoutrascomoseestivessecommuitapressaprairpracasaporqueafinaleleestásempremuitobravoequandoseestábravofalaseassimnão?

            E o segundo grande problema de Clubber (pfff, ok, vou tentar me controlar) é que... Bem... Ele é uma grande chance de fazer algo tão bom quanto os dois primeiros filmes, mas que é completamente desperdiçada. Quero dizer, veja o cenário: Temos um novato, um vira-lata, uma zebra, que começa em “Rocky 3” igual a como Rocky começou no primeiro filme. E ele quer muito lutar contra Rocky. Rocky aceita o desafio, mas eis que Clubber (não, desculpe, não dá, haha!) se mostra mais popular do que seria esperado. Rocky então percebe que está na mesma situação que Apollo Creed estava durante o confronto entre os dois, e tem que lidar com o fato de ser representado pela mídia como o “vilão”. Assim, através de seu confronto com Lang (assim fica melhor), ele acaba aprendendo mais sobre o que é ser um lutador, e cria uma grande simpatia por esse jovem promissor, deixando o público na dúvida até o último round se ele vai lutar pra valer e possivelmente destruir a carreira de Lang ou deixar-se derrotar para abrir espaço para esse futuro companheiro, à custa de seu título e de seu status. É o terceiro filme que Rocky merecia e que segue com sua saga de forma dramática e coerente com os filmes anteriores, não?
            Pena que não é nada disso que é feito. Não, ao invés disso Lang é um completo cretino, um pirralho gigante que provoca a todos e parece não saber o que são regras, gerando a antipatia de absolutamente todo mundo, a ponto de o vaiarem quando ele entra no ringue. Ele não liga para nada e para ninguém, dizendo algumas coisas um tanto maldosas para Adrian na frente de Rocky e xingando Apollo Creed quando este vem cumprimenta-lo. É um bruto animalesco, tão bruto e tão animalesco que não só seus gritos soam como rugidos dinossáuricos durante as câmeras lentas que Stallone parece gostar tanto, como também ao vencer a luta contra Rocky e lhe tomar o cinturão, ele começa a fazer caretas e gritar “Blergh! Blergh!” como um vilão de desenho animado. Caramba, esse cara é irritante! Sei que Apollo Creed também era bastante arrogante nos filmes anteriores, mas ao menos dava pra ver que ele era inteligente e que sua arrogância se devia apenas ao seu orgulho de campeão. Lang é apenas um idiota, alguém que existe somente para que possamos uma vez mais torcer por Rocky Balboa pelo simples fato de querermos ver a cara desse sujeito quebrada até o último dente.

            Mas enfim, como eu ia dizendo, Lang consegue nocautear Rocky e vencer a luta em apenas dois rounds, tornando-se campeão mundial e sendo a primeira derrota de Rocky em mais de três anos. Como se isso sozinho já não deixasse nosso herói psicologicamente abalado, durante a luta Mickey tem um ataque cardíaco e morre. Toda a vontade de lutar de Rocky se esvai de uma só vez, mas ainda assim ele quer uma revanche contra Lang.
            Mas espere um pouco. Se Mickey está morto, quem então vai treinar Rocky?

            Isso mesmo, Apollo Creed decide assumir o papel de treinador de Rocky até que ele tenha o “olho do tigre” (conte quantas vezes Creed repete isso) para que Lang leve a surra que merece. E assim os dois viajam para Los Angeles para que Rocky possa treinar no mesmo lugar em que Creed começou, em uma academia com a estrutura de uma toca de rato no meio de um bairro não muito agradável. Desculpe, escadaria do Museu de Philadephia, você acaba de ser substituída por uma praia qualquer de Los Angeles e pelo incrível fetiche que Stallone tem por coxas saradas e suadas (ah, sim, tem um monte disso nessa sequência de treinamento!).
            O treinamento de Rocky com Creed é, ao mesmo tempo, muito bom e muito ruim. Muito bom porque a ideia de Creed, o primeiro e maior rival que Rocky já teve, assumindo a missão de melhorar a forma física de Rocky por simples respeito e companheirismo, que ao longo do treinamento se transforma em legítima amizade, é o grande marco desse filme, aquilo que faz com que ele não pareça uma mera continuação desnecessária: É o auge da relação entre Rocky e Creed que os dois filmes anteriores construíram aos poucos. Porém, é ao mesmo tempo muito ruim porque, quando você percebe, a única coisa que muda no treinamento aqui é os métodos de Creed que diferem dos de Mickey, embora sejam tão não-ortodoxos quanto. Quando se para pra pensar, a estrutura dessa meia hora é praticamente igual à do treinamento de Rocky em “Rocky 2”: O treinador chama Rocky para se tornar mais forte e mais rápido, mas Rocky está com a cabeça em outro lugar e portanto não faz nenhum esforço, o que deixa o treinador muito irritado, fazendo-o dar uma de Capitão Nascimento (“Pede pra sair! Pede pra sair!”), mas então após uma breve conversa com Adrian esta lhe dá o apoio moral necessário e o convence de que ele precisa vencer a qualquer custo, e então pronto, cinco minutos depois Rocky já está correndo ao som de “Gonna Fly Now”. Exatamente a mesma coisa que já vimos no filme anterior.

            Mas sabem o que mais irrita em “Rocky 3”? Isso é, além de Lang (meu deus, como odeio esse personagem!)? É o quão besta ele é. Mas não é nem aquele besta enlouquecido, que fica na memória de tão bizarras que foram as escolhas feitas. Está certo, tem alguns momentos que fazem o filme parecer um desenho animado, mas no geral o filme é apenas... Esquecível. Tanto que quando a revanche de Rocky e Lang finalmente acontece, fica-se perguntando “Espera aí, mas já?”. Porque passou mais de uma hora e tudo o que você consegue se lembrar são de algumas cenas esporádicas. Metade do filme são cenas que ou não têm nenhuma importância que seja para o enredo ou o desenvolvimento dos personagens, ou que são estendidas até ficarem enroladas demais, como os seis minutos de lição de moral que Adrian dá em Rocky. Não, sério, seis minutos! E eu mal me lembro de metade do que ela fala! Stallone realmente queria que esse filme tivesse 100 minutos, não?
            Mas não é tudo em “Rocky 3” que é ruim. Rocky Balboa continua sendo um dos melhores personagens da história do cinema, e Stallone, não importa o que se diga, É Rocky, uma combinação de ouro entre personagem e ator. Se você tem alguma dúvida de que ele realmente se empenha pra encarnar a figura de Rocky, apenas pesquise a rotina de treinamento pela qual ele passou pra poder ganhar os músculos que Balboa ganha durante o filme! E, mesmo que algumas escolhas feitas sejam bobas e inúteis, algumas destas são até engraçadas de tão ridículas que são. O ponto máximo disso? Uma luta beneficente entre Rocky e um lutador de luta-livre, interpretado por ninguém menos que o lutador de luta-livre de verdade Hulk Hogan, que, assim como Mr. T, teve aqui sua primeira aparição no cinema.

            E oh, que visão gloriosamente ridícula é essa luta! Ela não se encaixa de forma alguma dentro do enredo geral e poderia ser cortada sem nada de importante se perder (Hulk Hogan nunca mais aparece no resto do filme). O único motivo para sua existência é que luta-livre nos anos 80 estava se tornando muito mais popular que boxe e Stallone achou uma boa ideia investir nessa popularidade. Mas acreditem em mim, vale a pena assistir o começo de “Rocky 3” apenas por essa cena! Toda a cafonice da luta-livre está aí, em toda a sua glória! Imaginem a cena: Hogan, um gigante de mais de dois metros e 150 quilos, entrando no ringue rodeado de coelhinhas da Playboy, sua mera sombra engolindo Stallone. A música assume um tom exageradamente dramático, como se o próprio Lorde das Trevas estivesse entrando apenas de sunguinha. O anunciador da luta o chama de “O maior objeto de desejo, a montanha de luxúria ardente”. Durante a luta, Hogan destrói Rocky com todo tipo de golpe de luta-livre (inclusive o movimento de assinatura do próprio Hogan) e até mesmo o arremessa para fora do ringue. Sacos de pipoca e latinhas são jogadas em Hogan pelo público, que entra em um frenesi e começa a descer porrada no juiz, nos seguranças, até no próprio público. Até as coelhinhas da Playboy começam a brigar por motivo nenhum. E então Rocky entra de volta no ringue, tira as luvas e começa a lutar luta-livre com Hulk Hogan.
São apenas sete minutos, mas é uma visão tão absurda que não dá pra não rir em algum momento, especialmente no final, que sem revelar muito, mas faz-me desejar que esse fosse o antagonista do filme. Não faria o menor sentido e daria ao filme um tom completamente oposto ao até então estabelecido pela franquia, mas quem se importa, ao menos nos daria algo mais engraçado do que um vilão chamado Clubber Lang (hahaha, ok, só mais essa!). Falando nisso, qual o nome do personagem de Hulk Hogan? Porque não daria muito certo ele aparecer como ele mesmo e...
Thunderlips

            Oh... Meu... Deus...


Avaliação: Não vale a penHAHAHAHAHAHAH, PRIMEIRO CLUBBER LANG E AGORA THUNDERLIPS?! APENAS QUAL FOI A IDEIA DE STALLONE AO CRIAR ESSES NOMES?!?!

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