“It’s
the eye of the tiiiiiger, it’s the thrill of the fight, riiiiising up to the
challenge of our riiiiivaaaal....”
Ah,
sim, “Eye of the Tiger”, uma das grandes músicas de academia dos anos 80, junto
com “You’re the Best” e “Maniac”. E tenho que admitir que merece esse status
todo, pois é uma canção muito boa! Tão boa que até hoje ela logo entra no
imaginário popular quando se pensa em exercício, superação, esportes e, claro,
Rocky. Essa canção se tornou tão famosa e é tão indissociável da figura de Rocky
Balboa que quando comecei a assistir essa franquia, achava que tocaria logo no
primeiro filme. Mas é claro que não tocou. Uma canção tão anos 80 quanto “Eye
of the Tiger” não tocaria em um filme de 1976. Não, esse crédito ficou para
“Rocky 3 – O Desafio Supremo”, lançado em 1982.

Porém,
por mais que “Eye of the Tiger” tenha se tornado uma das canções mais famosas
da história do cinema, chegando a ser indicada ao Oscar de Melhor Canção
Original, e por mais que o filme tenha sido um sucesso comercial ainda maior
que os dois filmes anteriores da franquia, cinéfilos adoram atacar “Rocky 3”,
especialmente após o lançamento das outras continuações, alegando que foi aí
que a série começou a escorregar para o fundo do poço, do qual só sairia muitos
anos depois. Mas afinal, eles têm razão em alegar isso?
Bem...
Sim. Não é que o filme seja tão ruim assim, é só que sua qualidade está bem
abaixo da dos dois filmes anteriores. Bem, bem abaixo.

O
filme começa com o amigo e cunhado de Rocky, Paulie, tendo um surto em mais uma
de suas crises de bebedeira ao ver uma máquina de pinball de Rocky em um
fliperama. Porque afinal esse é um filme dos anos 80, e quase todo filme dos
anos 80 precisa ter uma cena que se passa ou em um fliperama ou em uma loja de
música. E honestamente, eu só consigo imaginar esse como sendo o motivo para
esta cena, pois ela poderia ser totalmente dispensada do filme: Já foi
estabelecido no primeiro filme que Paulie tem inveja de Rocky, e essa inveja
nunca mais é citada em “Rocky 3”: Cinco minutos depois, Rocky tira ele da
prisão, eles discutem um pouco, e então acabou, eles são melhores amigos de
volta. Seria de se imaginar que a primeira cena do filme estabeleceria algum
ponto importante, não?
Mas
não se preocupem: Essa é apenas a primeira de 1793709127 cenas nesse filme que
poderiam ter sido cortadas sem nada de importante ser perdido.
Mas
esse começo também ajuda a estabelecer que após os eventos do segundo filme,
Rocky se tornou podre de rico, andando de limusine nova, usando roupas caras (com
direito a luva e tudo) e vive na mãe de todas as mansões de Philadelphia. Não,
sério, a casa dele é absurdamente gigantesca! Ah, e ele também finalmente aprendeu
a atuar em comerciais. Hum... Yay? E ele também vive feliz com Adrian e seu
filho. Talvez, digamos, um pouco feliz demais: Em uma sequência, vê-se Rocky e
Adrian se beijando enquanto andam pela estrada em cima de uma moto, e logo
depois ficam rolando um em cima do outro em um gramado ensolarado. A mão da
breguice chega a tremer. E alguém me explica como é que o filho de Rocky parece
ter oito anos quando o filme deixa claro que se passaram apenas três desde a
revanche contra Creed?
Também
é estabelecido nessa sequência inicial que Rocky nesse tempo defendeu com
sucesso seu titulo mundial nada menos que dez vezes. Mas mal sabe Rocky que ele
está sendo observado de perto. E com isso quero dizer bem de perto mesmo: O cara
aparece no público em quase todas as lutas de Rocky, mesmo quando ele vai
defender seu título na Europa! E isso sendo que o filme mostra que ele mora em
um buraco não muito diferente daquele no qual Rocky morava no primeiro filme!
Isso sim é obsessão!

O
cara em questão atende pelo nome de Clubber Lang (e sim, é assim que ele é
chamado durante o filme inteiro. Na Wikipedia diz que seu nome é na verdade
James Lang, mas eu prefiro rir com o pensamento de que sua mãe decidiu lhe dar
o nome de Clubber), interpretado por ninguém menos que o lutador de luta-livre
Mr. T (nesse caso, felizmente esse não é seu nome de nascença) em sua primeira
aparição no cinema. Clubber (Pffhahahahaha!) é o típico vira-lata que Rocky era
no começo do primeiro filme, tendo que treinar com pesos e barras enferrujados,
mas ainda assim sendo bastante talentoso, nocauteando seus adversários com
enorme facilidade e brutalidade e, justamente por isso, subindo lentamente no
ranking até chegar bem perto de Rocky. Perto até demais para Mickey, que guarda
um segredo quanto à sua posição como gerente de Rocky... Segredo que, quando
você para pra pensar por um minuto, faz Mickey, a figura paterna na vida de
Rocky, parecer um tanto quanto um cretino, não?
Ok,
Clubber (não, eu nunca deixarei de rir desse nome) tem dois problemas
principais. O primeiro deles é o próprio Mr. T como ator. Não me entendam mal,
em termos de atuação facial, de expressar emoções, ele é muito melhor do que
seria de se esperar! Toda vez que a câmera foca em seu rosto durante as lutas
de Rocky, é possível ver tudo que o campeão significa para ele, toda a raiva
que ele tem, toda a vontade que ele tem de ele próprio ser campeão mundial (o
“olho do tigre”, se me permitem dizer). Mas, infelizmente, ele fala. E quando
ele fala... Dá pra ver que ele decorou bem suas falas. Tão bem que
elefalaassimcorrendosempararprarespirarouprafalarcomemoçãojuntandoaspalavrasumasnasnoutrascomoseestivessecommuitapressaprairpracasaporqueafinaleleestásempremuitobravoequandoseestábravofalaseassimnão?
E
o segundo grande problema de Clubber (pfff, ok, vou tentar me controlar) é
que... Bem... Ele é uma grande chance de fazer algo tão bom quanto os dois
primeiros filmes, mas que é completamente desperdiçada. Quero dizer, veja o
cenário: Temos um novato, um vira-lata, uma zebra, que começa em “Rocky 3”
igual a como Rocky começou no primeiro filme. E ele quer muito lutar contra
Rocky. Rocky aceita o desafio, mas eis que Clubber (não, desculpe, não dá, haha!)
se mostra mais popular do que seria esperado. Rocky então percebe que está na
mesma situação que Apollo Creed estava durante o confronto entre os dois, e tem
que lidar com o fato de ser representado pela mídia como o “vilão”. Assim,
através de seu confronto com Lang (assim fica melhor), ele acaba aprendendo
mais sobre o que é ser um lutador, e cria uma grande simpatia por esse jovem
promissor, deixando o público na dúvida até o último round se ele vai lutar pra valer e possivelmente destruir a
carreira de Lang ou deixar-se derrotar para abrir espaço para esse futuro
companheiro, à custa de seu título e de seu status. É o terceiro filme que
Rocky merecia e que segue com sua saga de forma dramática e coerente com os
filmes anteriores, não?
Pena
que não é nada disso que é feito. Não, ao invés disso Lang é um completo
cretino, um pirralho gigante que provoca a todos e parece não saber o que são
regras, gerando a antipatia de absolutamente todo mundo, a ponto de o vaiarem
quando ele entra no ringue. Ele não liga para nada e para ninguém, dizendo
algumas coisas um tanto maldosas para Adrian na frente de Rocky e xingando
Apollo Creed quando este vem cumprimenta-lo. É um bruto animalesco, tão bruto e
tão animalesco que não só seus gritos soam como rugidos dinossáuricos durante
as câmeras lentas que Stallone parece gostar tanto, como também ao vencer a
luta contra Rocky e lhe tomar o cinturão, ele começa a fazer caretas e gritar
“Blergh! Blergh!” como um vilão de desenho animado. Caramba, esse cara é irritante!
Sei que Apollo Creed também era bastante arrogante nos filmes anteriores, mas
ao menos dava pra ver que ele era inteligente e que sua arrogância se devia
apenas ao seu orgulho de campeão. Lang é apenas um idiota, alguém que existe
somente para que possamos uma vez mais torcer por Rocky Balboa pelo simples
fato de querermos ver a cara desse sujeito quebrada até o último dente.
Mas
enfim, como eu ia dizendo, Lang consegue nocautear Rocky e vencer a luta em
apenas dois rounds, tornando-se
campeão mundial e sendo a primeira derrota de Rocky em mais de três anos. Como
se isso sozinho já não deixasse nosso herói psicologicamente abalado, durante a
luta Mickey tem um ataque cardíaco e morre. Toda a vontade de lutar de Rocky se
esvai de uma só vez, mas ainda assim ele quer uma revanche contra Lang.
Mas
espere um pouco. Se Mickey está morto, quem então vai treinar Rocky?
Isso
mesmo, Apollo Creed decide assumir o papel de treinador de Rocky até que ele
tenha o “olho do tigre” (conte quantas vezes Creed repete isso) para que Lang
leve a surra que merece. E assim os dois viajam para Los Angeles para que Rocky
possa treinar no mesmo lugar em que Creed começou, em uma academia com a
estrutura de uma toca de rato no meio de um bairro não muito agradável.
Desculpe, escadaria do Museu de Philadephia, você acaba de ser substituída por
uma praia qualquer de Los Angeles e pelo incrível fetiche que Stallone tem por
coxas saradas e suadas (ah, sim, tem um monte disso nessa sequência de
treinamento!).
O
treinamento de Rocky com Creed é, ao mesmo tempo, muito bom e muito ruim. Muito
bom porque a ideia de Creed, o primeiro e maior rival que Rocky já teve,
assumindo a missão de melhorar a forma física de Rocky por simples respeito e
companheirismo, que ao longo do treinamento se transforma em legítima amizade,
é o grande marco desse filme, aquilo que faz com que ele não pareça uma mera
continuação desnecessária: É o auge da relação entre Rocky e Creed que os dois
filmes anteriores construíram aos poucos. Porém, é ao mesmo tempo muito ruim
porque, quando você percebe, a única coisa que muda no treinamento aqui é os
métodos de Creed que diferem dos de Mickey, embora sejam tão não-ortodoxos
quanto. Quando se para pra pensar, a estrutura dessa meia hora é praticamente
igual à do treinamento de Rocky em “Rocky 2”: O treinador chama Rocky para se
tornar mais forte e mais rápido, mas Rocky está com a cabeça em outro lugar e
portanto não faz nenhum esforço, o que deixa o treinador muito irritado,
fazendo-o dar uma de Capitão Nascimento (“Pede pra sair! Pede pra sair!”), mas
então após uma breve conversa com Adrian esta lhe dá o apoio moral necessário e
o convence de que ele precisa vencer a qualquer custo, e então pronto, cinco
minutos depois Rocky já está correndo ao som de “Gonna Fly Now”. Exatamente a
mesma coisa que já vimos no filme anterior.
Mas
sabem o que mais irrita em “Rocky 3”? Isso é, além de Lang (meu deus, como
odeio esse personagem!)? É o quão besta ele é. Mas não é nem aquele besta
enlouquecido, que fica na memória de tão bizarras que foram as escolhas feitas.
Está certo, tem alguns momentos que fazem o filme parecer um desenho animado,
mas no geral o filme é apenas... Esquecível. Tanto que quando a revanche de
Rocky e Lang finalmente acontece, fica-se perguntando “Espera aí, mas já?”.
Porque passou mais de uma hora e tudo o que você consegue se lembrar são de
algumas cenas esporádicas. Metade do filme são cenas que ou não têm nenhuma
importância que seja para o enredo ou o desenvolvimento dos personagens, ou que
são estendidas até ficarem enroladas demais, como os seis minutos de lição de
moral que Adrian dá em Rocky. Não, sério, seis minutos! E eu mal me lembro de
metade do que ela fala! Stallone realmente queria que esse filme tivesse 100
minutos, não?
Mas
não é tudo em “Rocky 3” que é ruim. Rocky Balboa continua sendo um dos melhores
personagens da história do cinema, e Stallone, não importa o que se diga, É Rocky, uma combinação de ouro entre personagem
e ator. Se você tem alguma dúvida de que ele realmente se empenha pra encarnar
a figura de Rocky, apenas pesquise a rotina de treinamento pela qual ele passou
pra poder ganhar os músculos que Balboa ganha durante o filme! E, mesmo que
algumas escolhas feitas sejam bobas e inúteis, algumas destas são até
engraçadas de tão ridículas que são. O ponto máximo disso? Uma luta beneficente
entre Rocky e um lutador de luta-livre, interpretado por ninguém menos que o
lutador de luta-livre de verdade Hulk Hogan, que, assim como Mr. T, teve aqui
sua primeira aparição no cinema.
E
oh, que visão gloriosamente ridícula é essa luta! Ela não se encaixa de forma
alguma dentro do enredo geral e poderia ser cortada sem nada de importante se
perder (Hulk Hogan nunca mais aparece no resto do filme). O único motivo para
sua existência é que luta-livre nos anos 80 estava se tornando muito mais
popular que boxe e Stallone achou uma boa ideia investir nessa popularidade.
Mas acreditem em mim, vale a pena assistir o começo de “Rocky 3” apenas por
essa cena! Toda a cafonice da luta-livre está aí, em toda a sua glória! Imaginem
a cena: Hogan, um gigante de mais de dois metros e 150 quilos, entrando no
ringue rodeado de coelhinhas da Playboy, sua mera sombra engolindo Stallone. A
música assume um tom exageradamente dramático, como se o próprio Lorde das
Trevas estivesse entrando apenas de sunguinha. O anunciador da luta o chama de “O
maior objeto de desejo, a montanha de luxúria ardente”. Durante a luta, Hogan
destrói Rocky com todo tipo de golpe de luta-livre (inclusive o movimento de
assinatura do próprio Hogan) e até mesmo o arremessa para fora do ringue. Sacos
de pipoca e latinhas são jogadas em Hogan pelo público, que entra em um frenesi
e começa a descer porrada no juiz, nos seguranças, até no próprio público. Até
as coelhinhas da Playboy começam a brigar por motivo nenhum. E então Rocky
entra de volta no ringue, tira as luvas e começa a lutar luta-livre com Hulk
Hogan.
São apenas sete
minutos, mas é uma visão tão absurda que não dá pra não rir em algum momento,
especialmente no final, que sem revelar muito, mas faz-me desejar que esse fosse o antagonista do filme. Não
faria o menor sentido e daria ao filme um tom completamente oposto ao até então
estabelecido pela franquia, mas quem se importa, ao menos nos daria algo mais
engraçado do que um vilão chamado Clubber Lang (hahaha, ok, só mais essa!).
Falando nisso, qual o nome do personagem de Hulk Hogan? Porque não daria muito
certo ele aparecer como ele mesmo e...
Thunderlips
Oh...
Meu... Deus...
Avaliação: Não vale a penHAHAHAHAHAHAH,
PRIMEIRO CLUBBER LANG E AGORA THUNDERLIPS?! APENAS QUAL FOI A IDEIA DE STALLONE
AO CRIAR ESSES NOMES?!?!
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