domingo, 27 de dezembro de 2015

Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis

            É hora de falar mais uma vez de Scooby-Doo, porque meu objetivo está chegando perto e tem muita coisa mais sobre a qual quero escrever.
            Após postar minha crítica de “Scooby-Doo! em Uma Noite das Arábias”, fiquei me perguntando se não havia levado o filme a sério demais. Afinal, é só um filme do Scooby-Doo! Essa franquia sempre foi conhecida por sua animação que não é lá grande coisa, seus enredos que não fazem muito sentido e sem falar em um personagem baixinho em específico cuja simples menção do nome já faz meu cérebro gritar em agonia. Claro que houve alguns bons momentos, mas ainda assim, o que é que eu esperava?
            Aí assisti “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”. E então percebi que era isso que eu esperava.

            Lançado direto em vídeo em 1998, época em que a Hanna-Barbera estava sendo incorporada pela Warner Bros., “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis” tinha a proposta de fazer algo completamente diferente de tudo que a franquia havia feito antes. Tanto que, na época, a campanha publicitária do filme repetia que “dessa vez, os monstros são reais!”. Não que isso não tivesse sido feito antes (mais de uma vez, aliás), mas ei, o que mais esse filme tem a oferecer?
            Assim como em “Uma Noite das Arábias”, a primeira coisa que se nota em “Ilha dos Zumbis” é sua animação. Mas enquanto em “Uma Noite das Arábias” a animação era surpreendentemente ruim, em “Ilha dos Zumbis” ela é... A melhor animação que a franquia havia tido até então.

            Os contornos são menos estilizados e mais tridimensionais, as aparências dos personagens são mais realistas, a pintura é cheia de sombras e tons escuros... Em certos momentos, chega a parecer um anime. E o motivo é porque, de certa forma, É um anime: Esse foi o primeiro filme do Scooby-Doo para o qual a Warner Bros. contratou a ajuda do estúdio de animação japonês Mook Animation. E seja abençoado quem teve essa ideia! Sem falar que pela primeira vez desde que comecei esse meu projeto de assistir tudo relacionado a Scooby-Doo pude assistir um desenho sem que “falta de dinheiro” me passasse pela cabeça: Claramente a Warner Bros. estava decidida a não economizar para ter os melhores cenários e animações de personagens possíveis.

            Mas, vale lembrar que de nada adianta a melhor animação do mundo se o seu enredo é um lixo. E como o enredo de “Ilha dos Zumbis” se sai?
            O filme começa com Daphne, agora uma repórter famosa (e com isso, quero dizer que desde 1983 ela era oficialmente “agora uma repórter famosa”), contando para o que parece ser uma paródia da Oprah Winfrey que a turma se desfez de decepção, pois todo fantasma que eles investigavam se revelava na verdade apenas mais um ladrão ou contrabandista ou grileiro em uma fantasia (ué, mas não teve uma temporada inteira em que ela e o Salsicha caçavam fantasmas de verdade? Não? Está bem, então).
Ela revela também que, embora seu programa esteja fazendo sucesso, ela sente falta dos velhos tempos de resolver mistérios com seus amigos. Assim, Fred, agora seu produtor e cameraman, resolve fazer-lhe uma surpresa e chamar de volta Velma, que agora possui uma livraria (ué, mas ela não trabalhava na NASA? Não? Está bem, então), e Salsicha e Scooby, que, como sempre, vivem de bicos dos quais eles são eventualmente demitidos. Com a turma toda reunida, eles decidem ir atrás de algo que ainda não tinham encontrado juntos: Um fantasma de verdade.

            A busca deles os leva a Louisiana, onde, após alguns fracassos, eles encontram por acaso Lena Dupree, uma mulher que afirma que a casa de sua patroa, em uma ilha no meio de um pântano, é assombrada. E, de fato, assim que chegam lá coisas estranhas começam a acontecer: Frases os mandando irem embora da ilha aparecem nas paredes, fantasmas começam a serem vistos, e até mesmo Velma é levitada no ar (com Daphne comentando que “esse caso está ficando cada vez melhor” e Velma segurando a saia e respondendo “talvez do seu ponto de vista”. Porque afinal a animação não é a única coisa em que esse filme se baseou em animes!).
Os problemas de verdade, porém, começam quando Salsicha e Scooby veem um esqueleto ser trazido de volta à vida, criar carne e se transformar em um zumbi pirata, com a espada manchada de sangue.

           
            Hum... Antes de iniciar a discussão um tanto necessária quanto a se isso é de borrar as calças ou não (porque acreditem, quando eu começar a falar disso não serei capaz de falar de mais nada), vamos falar sobre os outros aspectos do filme.
            Em primeiro lugar, seu ritmo. Quando se fala de Scooby-Doo (aliás, quando se fala de qualquer desenho da Hanna-Barbera), espera-se que o desenho seja rápido, e agitado, e sem nenhum momento para respirar. Fiquei surpreso com “Ilha dos Zumbis” possuir um ritmo bastante gostoso de assistir. Parece até que os animadores não tinham pressa de acabar o filme, então iam prolongando algumas cenas à vontade, sem medo de serem felizes. Mais ou menos como um filme do Miyazaki, só que... Bem... Scooby-Doo. Isso dá certa leveza para o filme, não necessariamente no sentido de ele ser alegre e colorido (santa inocência!), mas no sentido de não cansar o público, ao mesmo tempo em que não o faz pegar no sono. É mais ou menos como um pão: Ele precisa crescer e ter um tanto de ar dentro para ficar macio, pois um pão solado e duro é quase incomível.
Sem bem que, se for pra falar um ponto negativo do filme, é que por vezes ele se deixa respirar demais. Quero dizer, o filme tem 77 minutos, com créditos e tudo, e se chama “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”. Mesmo assim, os personagens só chegam à ilha em si após vinte minutos, e o primeiro zumbi só aparece após 35! Qual é! Nem “Skyfall” demorou tanto para revelar seu vilão!

Ok, demorou mais de uma hora, mas mesmo assim! Quase metade do filme e nenhum zumbi?! Eu quero ver zumbis!
            ...Acho que pedi demais, não?
            Mas, pensando agora... Os filmes de monstros da Universal não eram também assim? Não tinham também um ritmo mais lento? E Scooby-Doo não é desde seu início inspirado nos filmes de monstros da Universal? Fica a reflexão.
            Outro problema do filme: Muitos personagens e “subenredos”. Muitos deles praticamente não aparecem e não levam a lugar nenhum além de algumas piadas. Eu sei que isso sempre foi um recurso comum em Scooby-Doo para criar pistas falsas, mas esse filme abusa um pouco da fórmula. Um em especial envolve um pescador rabugento que tem um javali de estimação e quer pescar um peixe-gato gigante (aliás, querem um motivo para assistirem esse filme em inglês? O pescador é dublado por Mark Hamill. Sim, o próprio Luke Skywalker. Porque eu nunca ficarei livre de Star Wars!).
Aliás, esse é um ângulo um tanto... Não muito amigável para se desenhar, não?
É, como se pode perceber, “Ilha dos Zumbis” não está nem aí para fazer algo leve (no sentido comum) e engraçadinho, como Scooby-Doo sempre foi. Os criadores desse filme realmente queriam fazer algo completamente diferente, e a palavra-chave foi “sombrio”: tudo no filme é feito de forma que o público sinta uma tensão no ar. Mesmo uma cena em que a turma está apenas dirigindo a van deles em plena luz do dia possui uma trilha sonora de terror. Mas é quando os zumbis aparecem que o “sombrio” do filme se transforma no que posso apenas descrever como “terror para crianças”, com cenas maravilhosamente assustadoras como:

E:

E:

E:

            E não vamos esquecer da fonte dos pesadelos do seu primo mais novo:

            Um filme para toda a família!
            Se bem que, para o crédito do filme, ele faz uma homenagem bastante boa aos filmes de zumbis, com direito a todas as cenas típicas do gênero: O carro que demora pra funcionar, as luzes que se apagam sem muita explicação, barulhinhos que causam histeria em massa, e, é claro, zumbis que aparecem do nada apenas para assustar o público. São coisas que já se tornaram clichês nos filmes de zumbis, mas em uma animação do Scooby-Doo, são pequenos toques que fiquei surpreso em ver.
É, acho que é nessa hora que eu me pergunto se esse pode ser considerado um filme infantil ou não. Claro que ele continua tendo o Scooby-Doo fazendo o que o Scooby-Doo sempre faz, mas entre zumbis, voodoo, Fred arrancando a cabeça de um zumbi com as próprias mãos e Daphne partindo outro ao meio com um galho e as pernas dele continuam a andar sozinhas (sim, essas cenas estão no filme), fica questionável se uma criança pode ou não assistir “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”. Se formos pela classificação indicativa, não há dúvida que podem, o filme possui censura livre (eu sei, até eu estou surpreso! Imagino que qualquer coisa que tenha o Scooby-Doo no meio seja livre então). Mas ainda assim, com certeza algumas crianças vão se assustar com o filme. Caramba, não seria esse justamente o objetivo dele? Assustar?
            Mas pensando agora... Quantos filmes infantis não têm sua cota de cenas assustadoras? “Branca de Neve e os Sete Anões” não tem a cena da transformação da Rainha Má, que a tantas crianças deu pesadelos?

                “Fantasia”, uma das animações mais consagradas da Disney, não tem a cena da “Noite na Montanha Calva”, que fez gerações e gerações de crianças terem medo da música de Mussorgsky?

            A cena dos burros de “Pinóquio”?

            Os filmes de Don Bluth?

            Qualquer cena de “Coraline”?

            É, lembrando agora, filmes infantis não são sempre bonitinhos e inocentes. Há muita coisa bem traumatizante em vários filmes. Aliás, não só filmes: Quantos contos de fadas que nossos pais nos contavam antes de dormir têm alguns detalhes um tanto controversos? E pessoalmente... Eu acho isso saudável. Sim, nem toda criança vai aguentar (algumas dessas cenas me assustam ainda agora!), mas enquanto seu filho, irmão ou primo mais novo aguentar, eu pessoalmente acho bom expor as crianças a um pouco do que o mundo tem a oferecer de perturbador. Passar por emoções fortes faz parte do que nos torna humanos, faz parte do processo de crescimento, e o medo é uma emoção bastante forte e que, eventualmente, todos nós vamos sentir. O que esses filmes infantis fazem é ensinar as crianças não apenas a superar o medo, ou pelo menos conviver com ele, mas, através de seus personagens, a como reagir diante do medo. Personagens como Coraline ensinam as crianças a enfrentar o medo de uma forma inteligente, e mesmo cenas como a “Noite na Montanha Calva” mostram que o medo é apenas temporário, que se você souber passar por ele tudo ficará bem. A cena após a “Noite na Montanha Calva” é uma das mais bonitas de “Fantasia”! Bem que Don Bluth dizia que não importa o quão sombria a história seja, se tem um final feliz, as crianças serão capazes de aguentar (qualquer um que assistiu “A Ratinha Valente” ou “Em Busca do Vale Encantado” sabe que ele leva essa filosofia bem a sério).
            A mesma coisa acontece em “Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis”: Ao final, tudo se resolve, e o final é bastante bonito, sendo sincero. Lógico, nem toda criança vai aguentar ver Fred decepando um zumbi, mas também nem toda criança irá borrar as calças. Isso é algo que depende de caso para caso. Já vi crianças de sete anos empolgadas com filmes e jogos que outras de doze cobriam os olhos (a de doze podendo ou não ser eu)!  É um filme assustador? Sim. É mais adequado para adultos em busca de um pouco de nostalgia do que para crianças? Possivelmente. Mas isso não faz do filme ruim. Pelo contrário, em minha opinião isso faz do filme bom! É uma experiência única, especialmente em se tratando de Scooby-Doo, que certamente deixará fãs contentes e pessoas que nunca ouviram falar da franquia (alguém aí?) curiosas para saber o que mais ela possui.


Avaliação: Vale a pena... Embora autorização dos pais talvez seja necessária

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