Ok, chega! Sei que foram feitos mais
filmes de “A Hora do Pesadelo” após este, e talvez eventualmente algum dia eu
fale deles, mas por enquanto estou tão cansado dessa franquia quanto
aparentemente a New Lines Cinema estava nos anos 90. Sendo assim, tratarei “A
Hora do Pesadelo 6 – Pesadelo Final – A Morte de Freddy” exatamente como foi
tratado na época de seu lançamento: Como o último filme estrelando o nosso tão
querido Sr. Cara-de-Pizza, Freddy Krueger.
E
não se deixem enganar pela propaganda de que “eles guardaram o melhor para o
final”: “A Hora do Pesadelo 6” é tão ruim quanto se esperaria de uma
continuação de filme slasher feita nos anos 90 (fãs de “Sexta-Feira 13” e
“Halloween” sabem o quão pesado que é esse argumento). Aliás, posso dizer com convicção que esta é a
pior continuação de “A Hora do Pesadelo”. Sim, pior até mesmo que o quinto filme
e o segundo (sobre o qual continuarei me recusando a falar). Então vamos ver
apenas se é possível se divertir com alguma
coisa que seja deste filme.
Em
primeiro lugar, lembram-se que na minha crítica de “O Maior Horror de Freddy”
eu disse que estava cansado de explicações fajutas para Freddy voltar do
inferno, e me perguntei por que ele não simplesmente voltava com a única
explicação sendo o fato de ser uma continuação? Bem, eu realmente devia tomar cuidado com o que desejo, pois é exatamente isso que “Pesadelo Final”
faz: Um simples letreiro logo no começo do filme nos explica que dez anos após
os eventos de “O Maior Horror”, Freddy matou (quase) todas as crianças e
adolescentes da cidade de Springwood (não me lembro se alguma vez disse isso,
mas este é o nome da cidade onde os filmes da franquia se passam), levando os
adultos sobreviventes a um estado de psicose em massa. Como é que ele voltou do
inferno? Como é que ele conseguiu matar todas as crianças ao longo de dez anos
sem que nada o impedisse? Como é que o desparecimento de milhares de crianças e
o enlouquecimento dos adultos em uma mesma e única cidade não chamou a atenção
dos noticiários? Por que não resolveram fazer um filme sobre isso, que apesar
de macabro soa bem mais interessante? Bem, quem se importa com essas
perguntas?! Dez minutos depois de dada essa informação, Freddy Krueger aparece
fazendo uma referência a “O Mágico de Oz”, por que afinal, se há uma coisa que
lhes vêm à mente quando digo “A Hora do Pesadelo”, é Freddy fantasiado de Bruxa
do Oeste, não?!
Esses
primeiros minutos já nos trazem tantos problemas
presentes ao longo do filme que não sei nem por onde começar! Vejamos... Em
primeiro lugar, ao matar todas as crianças de Springwood, “Pesadelo Final”
acaba matando também qualquer conexão que o filme possa ter com a continuidade
da franquia. Isso porque Alice e seu filho Jacob, os sobreviventes do filme
anterior que poderiam manter essa continuidade, jamais são sequer mencionados
aqui! Absolutamente nada do filme anterior faz qualquer diferença neste filme. Não
ficamos nem sabendo se eles morreram ou se conseguiram fugir de Springwood e
escapar de Freddy; “Pesadelo Final” apenas nos olha confuso e diz “Alice e
Jacob? Quem que são esses Alice e Jacob que você está falando?”.
Em
segundo lugar, se o protagonista do filme não é nem Alice nem Jacob, quem que
é? Bem, a resposta é um tal de John (interpretado por Shon Greenblatt), o
último adolescente vivo de Springwood, que ao tentar sair de lá acaba perdendo
a memória. E se os personagens dos filmes anteriores da franquia vinham tendo
cada vez menos personalidade, você não viu nada: John, assim como quase todos
os personagens do filme, é apenas mais um rosto falante sem sal, desagradável e
chato. É tão difícil dar qualquer importância a ele e a 90% dos outros rostos
falantes que são introduzidos em “Pesadelo Final” que mal dá para chama-los de
personagens! O único pelo qual tenho alguma simpatia é um psicólogo
especialista em sonhos que durante o filme inteiro é chamado apenas de Doc, e
os únicos motivos para eu ter simpatia por ele são 1: Ele é interpretado por
Yaphet Kotto, o mesmo ator que interpretou Parker em “Alien”; e 2: Ele é
possivelmente o adulto mais inteligente a aparecer nesta franquia. Mas fora
ele, “Pesadelo Final” parece não saber muito bem o que fazer com seus
“personagens”, e isso se mostra bem claro em John: Inicialmente o foco parece
ser tentar descobrir quem ele era antes de perder a memória, mas então na
metade do filme esse enredo simplesmente é abandonado! O resultado é que nunca
ficamos sabendo de onde John veio, quem são seus pais, ou por que ele estava
tentando sair de Springwood. Todas essas perguntas são simplesmente jogadas no
lixo, e John, que começa o filme como um zé-ninguém sem nenhum passado, termina
exatamente da mesma forma, sem qualquer desenvolvimento que seja.
Reeeeeealmente fica difícil me importar desse jeito!
E
em terceiro lugar, temos o simples fato de que, como Freddy fantasiado de Bruxa
do Oeste indica... “Pesadelo Final” simplesmente não é um filme assustador! E
não é que se esforça para ser, mas acaba não sendo: O filme nem sequer tenta deixar o público com medo! A coisa
mais assustadora de “Pesadelo Final” é uma ponta de Roseanne Barr! A única cena
que eu diria que é merecedora de aparecer em um filme de “A Hora do Pesadelo” é
uma na qual um personagem tem um pesadelo sobre desdobrar um mapa que não acaba
nunca, e isso porque é a única cena que de fato parece saída de um pesadelo de
verdade. Quanto ao Freddy Krueger em si, absolutamente nada do que ele faz ou
fala soa minimamente assustador. Nem sequer as mortes são lá tão
impressionantes: Enquanto nos filmes anteriores ele havia matado suas vítimas
liquefazendo-as em sangue, usando seus tendões como fios e movendo-as como se
fossem marionetes, ou até transformando-as em baratas, aqui ele mata suas
vítimas com um quadro negro, uma cama de espetos saída direto dos Looney Tunes,
e, não estou brincando, um Nintendo!
Eu adoraria dizer que
isso é uma piada, mas não: Em um dos momentos mais estúpidos da franquia (e
olha que isso quer dizer muito), Freddy transporta uma de suas vítimas para
dentro de um jogo de videogame e assim fica movendo seu corpo adormecido para
lá e para cá. Se isso lhes soa minimamente assustador, não se preocupe: A
diretora do filme, Rachel Talalay, irá adicionar à cena todo tipo de efeito
sonoro de desenho animado pra que essa cena não assuste absolutamente ninguém!
E com todo tipo, eu quero dizer todo
mesmo, assim à louca, a maioria deles nem está sincronizada com o que quer que
a vítima esteja fazendo! Por acaso os responsáveis por este filme nunca ouviram
falar em um profissional chamado editor
de som?! Sinceramente, o que mais poderia haver nessa cena para piorá-la?
Ah,
é... A Power Glove... Na época em que a Nintendo já havia percebido que ela não
seria um sucesso, e o público já a muito percebera que ela não funcionava.
Aliás, “O Pesadelo Final” foi lançado em 1991, um ano depois da Nintendo cancelar a produção de Power Gloves,
então qual foi o sentido de manter essa cena?
Mas
não basta fazer esse desserviço a Freddy Krueger, é preciso que “Pesadelo Final”
destrua completamente a motivação pela qual o Sr. Cara-de-Pizza faz o que faz,
dando a indicar que todas as crianças e adolescentes que ele vinha matando não
eram por diversão ou para consumir suas almas e ficar mais poderoso; eram na
verdade um plano extremamente confuso e cheio de furos e puras coincidências
para conseguir de volta sua própria criança.
É, lembram-se que antes de virar um “churrasco dos sonhos” Freddy tinha uma
criança cuja guarda foi tirada dele? Não? Bem, não se sintam mal, porque isso
nunca foi citado em nenhum dos filmes anteriores da franquia, sendo apenas uma
desculpa que “Pesadelo Final” inventou para ter um enredo. Um enredo
extremamente contraditório, cheio de reviravoltas óbvias e que, o pior de tudo,
tenta se legitimar ignorando completamente tudo o que havia sido até então
estabelecido sobre a origem de Freddy Krueger, invertendo a ordem de fatos e
criando uma linha do tempo que, mesmo considerando “Pesadelo Final” como um
filme solo, não faz sentido algum.
Mas
ei, como eu já havia dito nos filmes anteriores, mesmo que mudem Freddy
completamente, ele ainda é capaz de ser intimidante, não? Bem, nem mesmo esse é o caso aqui. Aliás, “intimidante”
é a última palavra que eu usaria para descrever Freddy neste filme; “fracote”
soa mais apropriado. Lembram-se de quando ele podia ser queimado vivo e sair
andando normalmente, ou era imune a qualquer tipo de poder de sonho, podendo
levar tiro, porrada e bomba sem mostrar a mínima reação? Pois parece que,
apesar de ao longo de dez anos consumir as almas de literalmente milhares de crianças (o que a franquia
estabeleceu que o torna mais forte), em “Pesadelo Final” Freddy apanha como um
condenado não uma, nem duas, nem três, mas quatro
vezes, levando chute nas gônadas, chave de braço, sendo espancado com um
taco de beisebol... Nem mesmo na luta mano-a-mano final ele aparenta ter
qualquer vantagem que seja (quem diria que eu teria saudades da luta final de “Mestre
dos Sonhos”...), o que além de deixar Freddy ainda mais fracote, torna o clímax
ainda mais irritante e cansativo.
Por que digo “ainda
mais”? Porque além de tudo, o clímax de “Pesadelo Final” é em 3-D.
Isso
mesmo: Alguém na New Lines Cinema achou que, para vender melhor o filme, um
jeito seria fazer com que os últimos 10 minutos fossem em 3-D, de forma que em
alguns cinemas o público receberia óculos para ter a “experiência”...
Experiência que acabou quando o filme foi lançado em vídeo, e tudo o que sobrou
é um final de doer os olhos, com efeitos especiais para os quais o início dos
anos 90 claramente não estava preparado, e objetos sendo jogados em direção à
câmera que fazem “Pesadelo Final”, assim como os piores filmes a usarem 3-D,
parecer aquele seu colega irritante que não sabe falar sem ficar te cutucando o
tempo todo. Essa cena sozinha foi um dos principais motivos para que o
orçamento deste filme fosse quase o dobro do de “O Maior Horror de Freddy”, e
sinceramente foi dinheiro jogado fora: É difícil não assistir o clímax de “Pesadelo
Final” e não pensar em todas as crianças que poderiam ter sido alimentadas com
o que foi gasto para fazer esses efeitos 3-D.
Dá
pra ver que não tenho uma grande simpatia por “Pesadelo Final”, não? Não que
seja a pior coisa que já vi na minha vida, tem seus momentos: Os créditos
finais, com uma montagem dos melhores momentos de “A Hora do Pesadelo” ao som
de Iggy Pop, é uma boa homenagem que a franquia faz a si mesma, e se você for
assistir o filme pela ironia, é bem possível que você acabe rindo com a cena do
Nintendo pelo quão absurdamente ridícula que ela é. Mas fora isso, “Pesadelo
Final” simplesmente não é um filme interessante. Mesmo se você considera-lo
como um trabalho solo e desconsiderar que ele ignora a franquia e no lugar
inventa o que quer que tenha passado pela cabeça do roteirista, a maior parte
do filme é simplesmente sem-graça, pouco assustadora, pouco engraçada e pouco
visualmente impressionante, os três pilares que vinham mantendo a franquia
(considerando que o pilar da inteligência foi destruído após o primeiro filme).
Nem mesmo as mortes salvam o filme, com apenas três casualidades que ocorrem
num espaço de apenas meia hora, e assim o filme...
Avaliação: Não vale a zoeira.